USP está aberta para quem e quando?

Controle do campus deixa de fora, em horários específicos, quem não tem número USP

A entrada e saída na Cidade Universitária já deu pano pra manga (e continua dando). No início das aulas, alunos relataram problemas de acesso à Universidade, ao passo que os horários de abertura e fechamento das portarias, bem como os de entrada controlada não são claros. A Universidade defende que o acesso deve ser controlado como uma medida de segurança.

Trânsito lento é comum no Portão 1 da Cidade Universitária (foto: Ana Beatriz Brighenti)
Trânsito lento é comum no Portão 1 da Cidade Universitária (foto: Ana Beatriz Brighenti)

Na quinta-feira, dia 18 de fevereiro, Fernanda Moro, aluna da Faculdade de Economia e Administração (FEA), pediu um Uber, serviço de motoristas particulares, mas o carro não conseguiu chegar até ela. Havia um entrave: o portão principal da Universidade. Os guardas não deixaram o motorista entrar, porque ele não fazia parte da comunidade uspiana, não tinha um número USP. Ela foi informada que deveria procurar um segurança na unidade em que estava para descobrir um número de telefone que autorizaria a entrada do veículo. Tamanha a burocracia, desistiu. “Para quem já teve problema em matrícula, entrega e retirada de documentação, carteirinha, e todos os problemas que uma burocracia ineficiente pode causar, a ideia de procurar alguém às 22h atrás de um número de telefone para autorizar o Uber foi hilária de tão absurda”, relata a estudante. Evelyn Soares, aluna da Escola de Comunicações e Artes (ECA), também teve problemas quando solicitou o serviço. O motorista foi requisitado porque além de ser um horário tarde da noite, ela pensava que essa opção seria mais rápida, uma vez que estava sozinha no ponto de ônibus. Enquanto esperava pelo motorista, recebeu uma ligação dizendo que era necessário autorização. Ela ligou no número fornecido e só assim o carro foi autorizado. “Liguei lá, dei meu nome, número USP e o nome do motorista. Se eu tivesse inventado qualquer número teria funcionado, porque quando eu informei, a pessoa falou ‘ah, tá bom”.

A Prefeitura do Campus determina em comunicado no seu site os horários de acesso pelos três principais portões do campus. “Sem autorização, a pessoa não entra mesmo depois do horário de entrada controlada. Você é aluno? Não. Você é funcionário? Não. Você é professor? Não. Então não entra.”, afirma José Antônio Visintin, Superintendente de Prevenção e Proteção Universitária. Segundo Visitin, as pessoas precisam ligar na central no número 3091-9014, passar o número USP, a placa e o modelo do veículo e o nome do motorista, pra que a portaria libere sua entrada.

Na mesma quinta-feira da ocorrência da aluna Fernanda, o portão 2 (P2), que dá acesso à Avenida Politécnica, foi fechado às 20h, antes do horário previsto, 00h. Tal medida reforçou o boato de que era uma tentativa de controlar a realização da “Quinta e Breja”, o tradicional happy hour que acontece na prainha da Escola de Comunicações e Artes. “Nós tivemos um problema de segurança, que eu não vou falar qual foi”, alega Visintin. O P2 teve o acesso bloqueado às 20h, não apenas naquele dia, como também na quarta e na sexta daquela semana, a primeira letiva.

Manual de segurança

A Superintendência de Prevenção e Proteção Universitária lançou um manual intitulado “Cuidados de Segurança USP”, com dicas que vão desde segurança pessoal até patrimonial. A elaboração do material contou com a participação dos agentes da Guarda Universitária com o objetivo de orientar os estudantes. “É para atingir 100% da comunidade USP”, almeja Visintin que enviou para as unidades o conteúdo no intuito de ser divulgado.

jc-universidade-seguranca-campus-manualA cartilha traz orientações como “evite ostentar joias, bijuterias, relógios ou similares que sejam, ou aparentem ser, de grande valor, uma vez que os infratores da lei desejam a subtração desses objetos” e “evite carregar bolsas e carteiras”.

Embora o manual tenha contado com a colaboração dos guardas que trabalham diariamente no campus, o resultado é genérico ao destacar cuidados comuns de segurança que as pessoas tomam em praticamente todos os lugares. “A ideia de falar o que os alunos podem fazer para melhorar sua segurança, isso toda universidade faz. O que mais me chamou atenção, e inclusive gerou discussão entre os colegas, é o fato dele não ter sido pensado a partir dos problemas que são próprios do ambiente uspiano”, avalia Viviane Cubas, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV).

Júlia Vannuchi, aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), que não conhecia o manual, já tomava algumas das medidas sugeridas, como não andar sozinha de noite. “Parece que são precauções que fazem parte do cotidiano de tão enraizada a insegurança é”, afirma a estudante. Para ela, talvez a abordagem da discussão fosse outra. “Pensar o que causa todo esse problema de segurança e não só como evitá-lo”, pondera.

Para Viviane, um ponto pertinente seria um “quem é quem” na Universidade. “Saber qual é o papel do guarda universitário, do segurança terceirizado, do porteiro da unidade e da polícia, que está mais presente aqui dentro, é fundamental”, defende. Tal medida ajudaria na hora de saber para quem recorrer em determinadas ocorrências. “Se eu tiver meu carro furtado aqui, eu devo ligar para a Guarda Universitária ou para a polícia?”.

Segundo o superintendente Visintin, o manual não é a principal medida de segurança, apenas mais um mecanismo, que se une à ação da guarda, às questões estruturais, como a iluminação, o monitoramento por câmeras e a presença da polícia.


Horários de acesso de veículos ao campus Butantã

Portaria Principal (P1): Av. Afrânio Peixoto com a Rua Alvarenga

2ª à 6ª feira: o acesso liberado das 05h00 às 20h00. Após esse horário, o acesso é controlado*;
Sábados: o acesso é liberado das 05h00 até às 14h00 e controlado* após esse horário;
Domingos e feriados: o acesso é controlado* a qualquer horário.

Portaria 2 (P2): na Av. Escola Politécnica

2ª à 6ª feira: o acesso é liberado das 05h00 às 20h00 e controlado até às 24h00. Fechado das 24h00 às 05h00;
Sábados, Domingos e feriados: fechado para veículos.

Portaria 3 (P3): Av. Corifeu de Azevedo Marques

2ª à 6ª feira: acesso liberado das 05h00 às 20h00 e desse horário até às 24h00 o acesso é controlado*. Fechado após esse horário;
Sábados: acesso liberado das 05h00 às 14h00 e controlado* das 14h00 às 24h00. Após esse horário, fechada para veículos;
Domingos e feriados: fechada para veículos.

*entrada permitida somente a pessoas com vínculo USP

Fonte: Site da Prefeitura do Campus

 

Por Amanda Oliveira e Gabriela Sarmento