Wicked estreia com versões de ex-aluno da USP

No dia 4 de março ocorreu em São Paulo a estreia de mais um dos musicais da Broadway que vêm sendo montados no nosso país, Wicked, no Teatro Renault. A peça conta com uma equipe inteiramente brasileira, dentre eles um personagem fundamental que não aparece no palco: o versionista, neste caso o ex-aluno da USP Victor Mühlethaler, em parceria com Mariana Elisabetsky.

De acordo com Mühlethaler, uma vez que a montagem é uma réplica do original apresentado nos Estados Unidos, a versão é provavelmente o elemento mais crítico para o bom desempenho dessa transição. É sua função ser fiel ao original, e ao mesmo tempo soar natural aos ouvidos brasileiros, o que é uma grande dificuldade quando se trata de música: a versão deve se encaixar em um esquema de rimas, métrica e tonicidade que foi criado para a língua inglesa, e, no caso de Wicked, por um letrista também compositor, Stephen Schwartz.

Mühlethaler foi selecionado para o trabalho pelo próprio Schwartz, compositor e letrista de outros musicais de sucesso como Godspell e Pippin, e das canções do filme animado O Príncipe do Egito. Os dois se correspondiam havia alguns anos, desde a realização de um workshop no Brasil, e quando surgiu a oportunidade o trabalho de Victor foi escolhido dentre os de diversos outros candidatos e ele sugeriu a parceria com Mariana, “porque ela é uma grande fã de Wicked como eu e traria um olhar diferente e feminino, algo importante numa história sobre a amizade entre duas mulheres”.

“A maior dificuldade foi respeitar o sofisticado esquema de rimas de Schwartz e fazer tudo soar natural em português. As letras originais são cheias de rimas internas e ricas e eu queria respeitá-las o máximo possível”. Muitas vezes se considera que o rigor em seguir o esquema da letra original acaba por engessar o texto, fazendo com que ele soe artificial e deliberado. “Não é verdade”, rebate o versionista. “Uma estrutura bem construída é libertadora. Fazer versões é como fazer palavras cruzadas, sempre existe uma solução que vai se encaixar perfeitamente, sem que exista a necessidade de adicionar uma nota ou mudar a tônica”. Victor esclarece que só foram acrescentadas notas às músicas de Wicked para acomodar a versão em momentos em que o próprio Schwartz pediu uma tradução literal e autorizou a mudança.

Outra preocupação do versionista em um musical é com a saúde vocal dos cantores: certos tipos de fonemas são mais apropriados para notas muito agudas ou muito prolongadas, por exemplo, para que o cantor não force seu aparelho fonador. Além disso, é necessário identificar quais são as notas mais importantes na frase musical, para que coincidam com as tônicas da frase na letra. Tudo isso respeitando as personalidades e estilos de fala de cada personagem, o humor e a emoção buscados em cada cena.

Vivência na Universidade

Victor conta que suas primeiras experiências no teatro musical ocorreram na estrutura do Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP. “Cumprir as matérias é importante, mas aproveitar esse espaço para testar, errar e aprender é o que realmente prepara para a vida”. Foi também nesse espaço que fez sua primeira versão, ao decidir que seu projeto final seria não um musical original, mas uma montagem de Sweeney Todd, de Stephen Sondheim. “Foi este trabalho que abriu as portas para mim nesse meio e me levou até Wicked”. A função de versionista, com o destaque dos musicais no Brasil, tende a ficar cada vez mais evidente. “Espero que com isso os versionistas sejam mais valorizados pelo público, pela crítica e pelos produtores”.

 

Por Felipe Marquezini