Crise política é fruto da recessão econômica

Inflação e desemprego diminuem a popularidade do governo Dilma

O Brasil sofre a pior crise econômica das últimas duas décadas: no fim de 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 3,8%. Para 2016, a previsão é que a recessão continue – desta vez, a estimativa é que o PIB sofra uma retração de 3,45%. O Jornal do Campus conversou com dois professores, o economista Mauro Rodrigues Júnior, da FEA USP, e o sociólogo Marcelo Ridenti, da Unicamp, para tentar entender as origens desse problema. Mauro adianta: “A crise política alimenta a econômica, mas a origem de todo esse problema é econômica”.

Quando existe uma crise de natureza fiscal – como é o caso do Brasil -, em que se gasta mais do que se arrecada, são necessárias reformas para conter as despesas e/ou aumentar a arrecadação. Essas reformas, que geralmente envolvem corte de gastos e aumento de impostos, precisam ser negociadas entre diferentes grupos. “Fica muito difícil estabelecer um consenso com um [poder] executivo tão fraco. Assim, as reformas necessárias não vão para a frente, a situação fiscal piora e o executivo (governo) fica ainda mais fragilizado”, diz o professor da FEA.

A crise aconteceria em algum ponto no futuro, mas, segundo Mauro, ela foi antecipada: “Os gastos vêm crescendo desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Entre 2011 e 2014 tivemos despesas muito  grandes, em parte por culpa da crise de 2009, mas esse aumento persistiu por mais de três anos”. Como uma parte grande das contas do Brasil vêm de gastos obrigatórios, como saúde, educação e aposentadoria – áreas que para serem alteradas precisam de reformas -, os cortes são realizados em programas sociais como o Bolsa Família. “O Bolsa Família não é reajustado desde a metade do ano de 2014, o valor real do benefício está caindo. Toda essa crise acaba batendo principalmente nos mais pobres”, argumenta.

As instabilidades política e econômica ainda trazem um outro agravante: ninguém quer investir no Brasil. Mesmo com a alta do dólar, o que faz com que os investimentos se tornem relativamente baratos no cenário internacional, a incerteza do dia seguinte preocupa os possíveis investidores. Mauro Rodrigues diz que, de um jeito ou de outro, o problema político precisa ser resolvido rapidamente para que a economia saia do lugar “Seja que o executivo saia ou que ele de fato fique até o fim, para que tenha mais horizonte para o planejamento”.

Marcelo Ridenti considera que o primeiro governo do PT obteve sucesso ao permitir o desenvolvimento forte da economia e ao trazer grandes ganhos para os empresários e também para a maior parte da população excluída. “Elevação do nível de salário mínimo, abertura de vagas no ensino superior, ascensão dos negros à Universidade, uma série de fatos que elevaram o nível de consumo de uma parcela grande da sociedade”, relata. Contudo, o estancamento da economia e os escândalos de corrupção, principalmente, geraram um alto nível de insatisfação populacional. De um lado, os setores que ascenderam economicamente, cobrando maior elevação no nível de vida. Do outro, setores tradicionais das classes médias querendo defender seus lugares na sociedade.

O momento de crise permite o avanço de setores neoliberais que acreditam que a solução para o problema brasileiro seja a implantação das regras do mercado, como explica Ridenti. O problema: essas regras têm custos sociais enormes. “Aproveita-se a crise do governo do PT para tentar retirar direitos sociais que imaginávamos que estavam se consolidando no Brasil desde a Constituição de 1988. São nitidamente setores conservadores da sociedade, que acham que detêm a capacidade de julgar quem é, ou não, corrupto”.

Ridenti  diz que é ilusório acreditar que um governo do vice-presidente Michel Temer vá resolver o problema da falta de governabilidade. “A base dele está inteiramente manchada por denúncias na Justiça. O problema não está em um partido ou presidente, está na necessidade profunda de fazer uma reforma politica no Brasil”.

 

Por Ana Luísa Moraes