Hospital Universitário restringe atendimento infantil

Desde 2014, número de demissões aumentou e precarizou atendimento no Pronto Socorro.

O Pronto Socorro (PS) pediátrico do Hospital Universitário (HU) trabalha com horário limitado desde o dia 20 de abril. O atendimento infantil só é realizado no intervalo das 7h às 19h. Em nota publicada no site do HU, a superintendência diz que fora deste horário serão aceitos apenas atendimentos emergenciais. Muitos pais procuraram atendimento para seus filhos na noite desta terça-feira (26) e acabaram barrados na porta do PS.

Carlos Augusto da Silva levou sua filha de 1 ano para tratar de uma tosse, mas foi impedido de entrar pelo segurança. Silva contou ao Jornal do Campus que após levar sua filha ao Atendimento Médico Ambulatorial (AMA) do Campo Limpo, decidiu procurar o atendimento na USP. Apesar de o HU comunicar que casos emergenciais continuariam sendo atendidos, Carlos Augusto diz que sua filha não chegou a ser examinada pelos médicos, já que os próprios seguranças não deixaram que eles entrassem no Pronto Socorro. “Nunca vi um segurança saber dizer se um caso é grave ou não. Gostaria de saber onde que está este médico que avalia o estado das crianças”, diz Silva. “O horário é das 7h às 19h, mas é impossível para nós virmos até aqui a esta hora por causa do trabalho”.

O estudante de engenharia, Aloísio Barbosa, levou sua neta por volta das 19h30 da última terça-feira e, como Carlos Augusto, acabou ficando do lado de fora do Pronto Socorro. “Minha neta passou a tarde toda febril e resolvi trazê-la. A informação que o segurança nos deu é que não há ninguém para nos atender. A sensação é de que só vai piorar” conta Barbosa.

No comunicado oficial do hospital, a superintendência argumenta que a restrição do atendimento foi necessária para garantir os padrões mínimos de segurança e qualidade, já que há falta de pediatras “em decorrência do Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV)” e à impossibilidade legal de contratar novos profissionais.

Gerson Salvador, diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e vice-diretor do HU, conversou com o JC e explicou que a situação vem se agravando desde 2014 com a implantação do PIDV. De acordo com Salvador, todas as áreas do hospital sofreram o impacto da saída de centenas de funcionários e a situação do Pronto Socorro infantil chegou ao seu limite porque “mais uma médica pediu demissão da pediatria [no último mês] e as escalas de plantão não conseguem ser preenchidas”. “Em 2014, pelo PIDV saíram 213 funcionários do HU, sendo que destes, 18 eram médicos. O resultado imediato foi o fechamento de 25% do leito do hospital, incluindo o fechamento de 40% do leito da UTI” diz o diretor.

Algumas faixas colocadas em frente ao Pronto Socorro do hospital mostram que a situação da pediatria não é uma exceção na condição do Hospital. Uma delas diz que o atendimento emergencial de oftalmologia não está sendo mais realizado e ao lado um cartaz informa que a maternidade e o berçário estão superlotados desde o dia 14 de abril. “A capacidade de operar do hospital diminuiu, fechou o pronto atendimento do oftalmologista, muitos ambulatórios fecharam. A restrição da UTI é mais uma cena da crise, não algo que está fora do contexto que se iniciou com o PIDV” explica Salvador.

O Sindicato dos Médicos de São Paulo realizou uma assembleia na última segunda-feira (25) para discutir a situação do hospital. Nesta reunião foi aprovado um ofício que foi enviado à Administração do HU e à Reitoria da USP nesta quarta-feira (27), exigindo as contratações de médicos, enfermeiros e técnicos suficientes para normalizar o atendimento. Além disso, até a contratação imediata, o Simesp exige da administração do HU um plano que garanta a funcionamento do Pronto Socorro. Sendo um dos médicos que realizam plantão noturno, o vice-diretor convive diretamente com os pacientes que não podem receber tratamento. “Hoje, pacientes com baixa complexidade são atendidos em outras unidades da região e damos conta de atender os casos mais graves porque não tem alternativa. Temos que continuar a atender para não deixar a população desassistida”. As outras áreas que não foram fechadas funcionam com a metade do número de funcionários do que o normal e algumas contam com plantões voluntários de médicos.

Além do ofício, Salvador conta que ainda em 2014, o Simesp denunciou a situação do hospital para o Ministério Público. De acordo com o diretor, na ocasião, foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e uma conversa entre o governador Geraldo Alckmin e o sindicato, em que foi acordado que o governo auxiliaria no orçamento do hospital. O Simesp diz que voltará a entrar em contato com o governo para buscar soluções a esta crise no hospital.

Procurada pelo JC a assessoria de imprensa do HU disse que a superintendência do hospital não pretende se pronunciar sobre o caso, por enquanto.

Daniel Tubone