Perturbação no universo

Detecção das ondas gravitacionais é comparável à invenção do telescópio de Galileu, diz professor do IAG

A primeira detecção de ondas gravitacionais, anunciada em fevereiro pelo LIGO (sigla em inglês para o Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser), é um divisor do modo como podemos estudar e compreender o universo, de acordo com Rodrigo Nemmen da Silva, professor de astrofísica do IAG.

“A descoberta pode ser comparada à primeira vez em que se levantou um telescópio  para observar o céu”, diz ele.

Segundo Nemmen, a existência das ondas foi prevista há cem anos pela Teoria da Relatividade Geral de Einstein, pela qual a gravitação não seria uma força como a identificada por Newton séculos antes, mas sim um resultado de distorções geradas por massas no espaço-tempo. Essas massas, em movimento, gerariam perturbações que se espalhariam pelo espaço à velocidade da luz – as chamadas ondas gravitacionais.

De acordo com César Augusto Costa, físico do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e um dos seis brasileiros colaboradores do projeto LIGO, a detecção foi possível por meio de medições extremamente precisas de distâncias. Como as ondas gravitacionais são perturbações no próprio tecido do espaço, o modo como as distâncias são medidas é ligeiramente alterado. Essa alteração mostra a passagem de uma onda gravitacional.

Costa afirma que o próximo passo é aumentar a sensibilidade do aparelho, para poder utilizá-lo na localização e estudo de objetos como estrelas de nêutrons e buracos negros. “São objetos extremamente distantes e relativamente pequenos; seria impossível estudá-los diretamente utilizando instrumentos ópticos”.

Até hoje, esses corpos eram estudados apenas pela observação de seus efeitos. Uma observação direta permitirá estudar sua distribuição e seu comportamento, e descobrir outros tipos de objetos ainda não teorizados pela física.

A detecção de ondas gravitacionais também pode permitir um estudo das origens do universo – de períodos anteriores aos que as radiações eletromagnéticas possibilitam entender, uma vez que as ondas gravitacionais seriam mais antigas e, ao contrário da luz, não seriam desviadas ou contidas pela própria gravidade. Com detectores em órbita, livres dos tremores da Terra, seria possível reconhecer ondas gravitacionais geradas frações de segundo após o início do universo.

Segundo o professor Nemmen, a partir de agora será possível estudar o lado mais energético e misterioso do universo, além de completar capítulos faltantes da astronomia conhecida – como o comportamento da gravidade ao redor de um buraco negro. Em resumo, utilizar a gravidade em lugar da luz para visualizar imagens dos corpos celestes.

“Até hoje estávamos limitados a conhecer o universo estudando a luz. Agora podemos escutar a sinfonia do espaço-tempo… O mais fascinante é o que está por vir, fenômenos que nós ainda nem podemos imaginar”.

Por Felipe Marquezini