Ensino à distância leva educação para áreas remotas

Todo mundo certamente já ouviu falar no ensino à distância. Ele é mais barato, mais acessível, e tem um alcance muito maior do que o ensino presencial tradicional. Apesar disso, existe muito preconceito diante dessa ideia de professores ensinarem alunos virtualmente, sem contato pessoal. Mas como os estudantes podem fazer perguntas aos professores? Como serão feitas as avaliações? O aluno não conseguirá consultar, na internet, as respostas das provas que precisa resolver? São muitas as perguntas, e uma certeza: o ensino à distância no Brasil não para de crescer.

De acordo com dados da consultoria Hoper Educação, de 2010 a 2014 a taxa de crescimento das matrículas na educação superior presencial está na média dos 4,6%. Já as do ensino à distância apresentaram, no mesmo período, crescimento de cerca de 12,6% ao ano, atingindo picos de até quase 19% (registrado no ano de 2014). As projeções da Hoper para o ano passado e 2016 apontam que o EaD crescerá 15% em cada um dos anos e, o ensino presencial, influenciado principalmente pela crise econômica brasileira, deverá apresentar queda de mais de 7,5% em 2015 e neste ano (veja no gráfico). Além disso, a Hoper também indicou que a média de idade dos alunos da modalidade presencial é de 26 anos, e a dos estudantes do EaD é de 33. O curso a distância mais popular é o de Pedagogia, representando 25% do total, seguido por Administração (14%) e Serviço Social (8%).

Alguns fatores podem explicar o crescimento dessa modalidade de ensino. As dimensões continentais do Brasil impedem muita gente de acessar a educação – um direito de todos, previsto na Constituição. Só que, em algumas regiões do país, os alunos têm grande dificuldade para chegar às escolas.

O ensino à distância se apresenta como alternativa para que estudantes deixem de perder tempo nesses trajetos e passem a usá-lo para assistir aula com computadores conectados à internet. O problema é que muita gente não tem recursos nem para ter computador, nem para pagar pela internet. Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad, realizada pelo IBGE, mostrou que, em 2014, pela primeira vez na história, a internet chega a mais da metade dos lares brasileiros, e que o principal meio de acesso à rede não é o computador, e sim o celular.

Segundo a professora e doutora Stela Piconez, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, o EaD surgiu como resposta a uma mudança do estilo de vida das pessoas: com a modernidade, ninguém tem mais tempo pra nada – nem pra estudar. Ela acredita que a USP deveria expandir essa modalidade de aprendizagem, mas que “a tradição do ensino acadêmico subestima o autodidatismo dos estudantes, como se eles não fossem competentes para os novos modos de aprender e também para os novos modos de ensinar”, justifica. O governo estadual possui a Univesp, Universidade Virtual do Estado de São Paulo, que possui programação na TV e via internet composta por aulas e entrevistas que visam a educação do público.

A diferença entre o EaD e o ensino presencial não se resume pela distância entre os alunos e o professor. Para Stela, o ensino à distância vai muito além dessa questão. Os novos comportamentos de ensino de aprendizagem tem que ser cuidadosamente planejados de forma diferente das estratégias desenvolvidas para a educação universitária convencional. “Há necessidade de uma complexidade e envolvimento de muitos profissionais, como web designer, web developer, web writer, programador de computadores, desenvolvedor de softwares, professores de conteúdos específicos dos cursos, pedagogos especializados na didática EaD com visão diferenciada do processo de avaliação, o tratamento metodológico inter, intra e transdisciplinar”, explica Stela.

Tabela com Perfil dos Estudantes de Ensino à Distância (EAD)
Tabela com Perfil dos Estudantes de Ensino à Distância (EAD)

Muitas universidades particulares acabaram adotando a estratégia de compor cursos híbridos (meio presenciais, meio à distância). Essa estrutura permite que as instituições de ensino gastem menos dinheiro – mas não deixa os alunos muito satisfeitos, já que quem se matricula no curso presencial quer ter sempre aulas em salas, com a presença do professor. Além disso, como disse a professora Stela, os cursos EaD e presenciais devem ser planejados de formas independentes por possuírem objetivos igualmente distintos.

Classificar qual é a melhor modalidade de ensino é uma tarefa muito difícil – e nem é esse o objetivo dos educadores. EaD e ensino presencial têm objetivos diferentes, e são pensados de formas diferentes para atender a diversos públicos. Mas o principal diferencial do ensino à distância é o de levar a educação a todos, independentemente dos locais onde as pessoas se encontram.