Funcionários da USP em greve por tempo indeterminado: entenda o porquê

Reajuste salarial e fim do desmonte da universidade estão entre as principais reinvidicações

Estudantes deliberam greve em assemléia na FFLCH na última quarta, 11/05
Estudantes deliberam greve em assemléia na FFLCH na última quarta, 11/05

Os funcionários da USP entraram em greve nesta quinta-feira (12). A decisão foi deliberada em assembleia realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) no dia 5 de maio, dia em que ocorreu uma paralisação envolvendo funcionários e alunos da universidade.

Magno de Carvalho, diretor do Sintusp, diz que a greve possui três eixos: contra o desmonte da universidade, contra o arrocho salarial e em defesa da permanência no espaço do sindicato. “Vai começar uma greve muito forte na nossa avaliação, porque antes da assembleia houve reuniões das unidades na capital e no interior e, na grande maioria, foi apoiada a greve”.  

Segundo o Sintusp, mais de mil pessoas estavam presentes na assembleia. A paralisação também foi marcada por um ato conjunto em frente à Reitoria e um ato-debate dos estudantes, além de outras atividades que propunham debater a situação da USP.

 

Desmonte

Considerado o principal motivo para a mobilização, o desmonte da USP se refere a uma série de medidas da reitoria que prejudicariam a estrutura da universidade. Entre essas medidas estão o corte de bolsas, fechamento das creches, terceirização dos restaurantes, desvinculação do Hospital Universitário, demissões de funcionários e flexibilização do RDIDP (Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa).

“O desmonte vai atingir os estudantes, os professores e nós, funcionários”, afirma Carvalho. “Já está atingindo, está cortando bolsas de estudantes, assistência estudantil, a creche já não tem mais vaga. Então nós estamos entrando em greve na expectativa de que os estudantes e os professores venham junto”, completa.

Em resposta ao JC, a Reitoria afirmou não haver cortes em bolsas e auxílios e que não existe previsão de fechamento dos restaurantes. Em relação às creches, declarou não ter previsão de fechamento e que o atendimento das crianças já matriculadas continua normalmente.

 

Arrocho Salarial

Outra reivindicação da greve é o pedido de reajuste salarial correspondente à inflação, baseado no Índice do Custo de Vida calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (DIEESE), somado a 3% como reposição parcial de perdas históricas.

O Fórum das Seis, composto pelas entidades representativas de docentes, funcionários e estudantes das três universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp), incluiu o pedido de reajuste em sua pauta unificada de reivindicações para o ano de 2016. A pauta foi entregue ao Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp), mas, segundo Magno de Carvalho, os reitores não apresentaram nenhuma proposta de reajuste na reunião de negociação realizada um mês depois, no dia 27 de abril.

 

Sede do Sintusp

No dia 6 de abril, a Coordenadoria de Administração Geral da USP enviou ofício à diretoria do Sintusp exigindo a desocupação do espaço que abriga a sede do sindicato. O documento cita “regularização dos espaços públicos” e “necessidade de aproveitamento acadêmico da área” como justificativas e dá prazo de 30 dias para a desocupação. Caso contrário, no ofício consta que serão adotadas “medidas judiciais pertinentes”.

Na sexta-feira, 6 de maio, dia que marcou o fim do prazo, o Sintusp realizou uma “Festa da Resistência” em protesto ao pedido de desocupação. O sindicato ainda se mantém no espaço, e os funcionários não pretendem desocupá-lo.

“É um absurdo. Todas as categorias de trabalhadores de universidades do Brasil têm um sindicato dentro da universidade”, declara Carvalho. “Nós vamos resistir. Isso é uma deliberação de assembleia”.

Questionada pelo JC, a reitoria manteve a justificativa de que a solicitação de desocupação do Sintusp foi feita “tendo em vista a regularização dos espaços da USP e a necessidade do aproveitamento acadêmico da área”, sem mais especificações de qual seria o aproveitamento do espaço.

Estudantes de Artes Cênicas e funcionários fazem intervenção em assembléia realizada no dia 5
Estudantes de Artes Cênicas e funcionários fazem intervenção em assembléia realizada no dia 5

Estudantes

Os estudantes da USP realizam assembleia geral no dia 12 para decidir se entrarão em greve. Também estão sendo realizadas assembleias nas unidades e nos cursos que, independentemente da decisão da assembleia geral, podem aderir ou não à greve.

Para Izadora Feldner, integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP, é importante fortalecer a luta dos trabalhadores e também a estudantil. “Nós vivemos uma série de ataques que não atingem só professores e trabalhadores, mas nós como estudantes”, afirma Izadora. De acordo com ela, o eixo principal de reivindicações do DCE é contra o desmonte da universidade, pela adoção de cotas e por permanência estudantil.

 

Adusp

O Fórum das Seis terá nova reunião com o Cruesp no dia 16 de maio, data em que também será realizado um ato conjunto das três universidades. No dia seguinte, será realizada a próxima assembleia da Associação de Docentes da USP (Adusp).

Segundo César Minto, presidente da Adusp, ainda não há uma previsão se a associação vai deliberar pela greve. Entretanto, ele afirma que as duas últimas assembleias deixaram claro que os docentes não podem tolerar arrocho salarial. Para Minto, a situação da universidade é preocupante. “O tratamento dado às creches, ao Hospital Universitário, à Escola de Aplicação, aos funcionários do Clube da USP, ao despejo do Sintusp, entre outras medidas, constituem um exemplo claro de como uma instituição pública e, ainda mais, educativa, não deve funcionar”, declara.