Greve estudantil é marcada por ocupações na ECA e FFLCH

Políticas de permanência, cotas raciais e contratação de professores constituem principais reivindicações do movimento

A noite de 11 de maio marcou o início de uma série de ocupações dos prédios da universidade. Motivada pela necessidade de contratação de novos professores e políticas de permanência estudantil, como cotas raciais e abertura de vagas nas creches, a ocupação do prédio da Letras, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) foi a pioneira, e levantou pautas que foram incorporadas como eixos da greve deliberada na assembleia geral, no dia seguinte.

 

Cursos e categorias em greve
Cursos e categorias em greve

Uma semana depois, na noite de 18 de maio, ocorreram em curto intervalo as ocupações da História e Geografia e do prédio central da Escola de Comunicações e Artes. Outros três espaços da universidade encontram-se atualmente sob indicativo de ocupação

FFLCH

A Letras configura atualmente a maior ocupação da cidade universitária. Alojados em salas de aula e espaços comuns do prédio, os estudantes levantam todas as manhãs de seus colchões infláveis e tomam o café preparado pela comissão de alimentação, que impede que o não funcionamento dos restaurantes universitários afete a permanência dos ocupantes. Às 7h, ocorre um mutirão promovido pela comissão de limpeza, composta majoritariamente por homens.

Cada membro da ocupação integra ao menos uma comissão e contribui para as atividades diárias. “Essa organização é necessária para manter a ocupação viva e trazer mais estudantes pra cá”, afirma um ocupante que preferiu não ser identificado nominalmente.

As manhãs são repletas de atividades arranjadas pela comissão de atividades, que promove aulas públicas, rodas de conversa, debates e discussões políticas. “Recebemos tantas propostas que várias atividades precisam ocorrer concomitantemente”, relata outra estudante. Enquanto isso, a comissão de segurança faz rondas periódicas nas imediações do prédio, e assegura que espaços como departamentos, salas de professores e gabinetes permaneçam fechados. Algumas áreas permanecem completamente interditadas, limitando o espaço de circulação e garantindo maior segurança às pessoas e proteção ao patrimônio.

Ocupação nos Departamentos de História e Geogra a da FFLCH
Ocupação nos Departamentos de História e Geogra a da FFLCH

Após o almoço realizado pela comissão de alimentação, ocorrem mais atividades no período da tarde e da noite. O calendário das atividades é divulgado na página Ocupa Letras USP, no Facebook, mantida pela comissão de comunicação. Seus membros também são responsáveis por manter as outras redes sociais, como Tumblr e Twitter, fazer assessoria de imprensa e buscar o diálogo com órgãos da Universidade.

Para uma das estudantes de Letras, a ocupação é, além de um ato político, uma oportunidade para criar outra relação com o prédio: “podemos experimentar coisas que nossa grade curricular geralmente não permite, como estudar literatura com recorte de gênero e produção coletiva de poesia e contos”. Para a aluna, o cotidiano da graduação em letras possuí muita análise crítica e pobreza de produção.

ECA

A ocupação do CCA, prédio central da Escola de Comunicações e Artes, ocorreu na quarta-feira (18) após assembleia geral da unidade. Imediatamente após a instalação no prédio, os estudantes foram alocados em comissões similares às da Letras: alimentação, segurança, comunicação, limpeza e cultura. O prédio, além de abrigar a administração da Escola, também funciona como departamento dos cursos de biblioteconomia e educomunicação.

As atividades de greve são postadas na página “OCUPA ECA”, no Facebook, pelos membros da comissão de comunicação. São promovidas rodas de conversa, oficinas de diagramação, dança, edição de vídeo e saraus que integram estudantes de artes e comunicação.

A diretoria da ECA enviou uma carta aos estudantes no dia 19 de maio. O texto afirma que a Escola tem se posicionado, através da Congregação, favorável à defesa da democracia, do ensino público, da luta dos estudantes secundaristas e políticas de inclusão por meio de cotas e permanência estudantil. “Por todos esses motivos, não compreendemos a razão pela qual a ECA foi ocupada. Nossa posição é pela desocupação do prédio central.”

Sintusp

O Cruesp, Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas, apresentou no dia 16/05 a proposta de reajuste de 3% nos salários de docentes e servidores técnico-administrativos das universidades estaduais a partir de maio. A reunião foi antecedida por um ato com participação de professores, funcionários e estudantes das três universidades e do Centro Paula Souza.

O Boletim do Fórum das Seis relatou a ausência do reitor Marco Antônio Zago, representado pelo pró-reitor de graduação Antônio Carlos Hernandes. Procurada pelo Jornal do Campus, a Assessoria de Imprensa da Universidade confirmou a informação, porém, não ofereceu parecer oficial sobre a ausência de Zago. O reitor da Unicamp e atual presidente do Cruesp, José Tadeu Jorge, e Julio Cezar Durigan, da Unesp, também estavam presentes nas negociações com representantes dos sindicatos e associações de docentes das universidades.

Após a reunião, o Conselho emitiu um comunicado no qual considera esta “a da pior crise econômica da história da autonomia universitária”, e decidiu pelo reajuste salarial de 3% em um “esforço para atenuar as perdas salariais ao longo dos últimos 12 meses”.

O Sindicato dos Trabalhadores da USP, em greve desde o dia 12, manifestou-se imediatamente desfavorável ao reajuste de 3%, considerado irrisório diante da inflação. Dados do IPCA, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, apontam uma inflação de 9,28% entre abril de 2015 e 2016. A rejeição ao arrocho salarial foi incorporada aos outros dois eixos de greve: contra o desmonte da universidade e pela permanência do espaço do Sindicato.

Adusp

Na segunda-feira (23), a Adusp, Associação dos Professores da USP, deliberou greve com início marcado para o próximo dia 30 em assembleia realizada no Auditório Jacy Monteiro, no IME.

Os docentes endossaram o posicionamento dos trabalhadores contrário ao reajuste salarial de 3% para as duas categorias e manifestaram rejeição à proposta da Reitoria de “Normas de Avaliação Docente e Institucional”: série de documentos que, de acordo com a mesa da Assembleia Geral da Adusp, “ferem a autonomia do trabalho acadêmico e a perspectiva de funcionamento democrático da instituição”.

DCE

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) acredita que este seja um momento totalmente diferente para a conjuntura universitária. “Em 2014, os funcionários fizeram uma greve grandiosa, uma das mais longas da USP, e conseguiram vitórias para o setor. Quanto aos estudantes, talvez por um sentimento de ressaca da greve de 2013, não houve adesão geral em 2014”, declara Thamys Porto, integrante do DCE e aluno do terceiro ano de farmácia.

Até o fechamento desta edição, 83% dos cursos encontravam-se mobilizados. “Essas mobilizações vão desde paralisações, até greve e ocupações. Isso diferencia muito do que foi a greve de 2014: hoje há uma participação massiva que está enraizada nos cursos”, afirma Thamys.

Reitoria

Em nota, a Reitoria da Universidade posicionou-se contra as ocupações, e apontou que os itens elencados na pauta sobre desmonte da universidade não procedem, como: fechamento das creches, vinculação dos hospital à Secretaria de Saúde, fim da dedicação exclusiva dos professores e corte de bolsas. A Reitoria também afirma que a Universidade está discutindo novas formas de ingressos a cursos de graduação, e que não houve demissão de funcionários.