Lançada obra pioneira sobre armas químicas

Pesquisadora brasileira é a primeira no país a publicar livro examinando essa categoria

No dia 12 de maio, no Hospital Militar de Área de São Paulo, foi realizado o lançamento do livro Armas Químicas: o mau uso da toxicologia, de autoria da farmacêutica e bioquímica Camilla Colasso, mestre em toxicologia pela USP e especialista em Gerenciamento de Risco Químico e Toxicológico da Intertox, empresa do segmento de segurança química. Trata-se da primeira obra brasileira publicada sobre o assunto.

Camilla conta que seu interesse pelo estudo das armas químicas surgiu durante seu mestrado, em que pesquisava produtos para eliminar pragas. “A indústria dos praguicidas se desenvolveu a partir dos conhecimentos que foram surgindo com a experimentação de armamentos químicos”. O assunto chamou sua atenção após conversar com um professor e diretor da Intertox, que ministrara palestras a respeito. A partir deste ponto, o estudo do conteúdo em questão se tornou um hobbie, e o professor lhe pediu que preparasse uma palestra sobre o tema para ser apresentada na Unicamp; com isso, o estudo se aprofundou.

A autora passou a conferenciar não apenas em instituições de ensino, mas também para policiais e bombeiros, por exemplo. “As pessoas não costumam ter esse conhecimento, e hoje isso é cada vez mais importante, com a proliferação do uso de armas químicas por extremistas e a proximidade das Olimpíadas no Brasil”. O baixo custo de muitos materiais que podem ser utilizados como arsenal químico ou em sua confecção, como o gás mostarda e o cloro, os torna atrativos para grupos mal-intencionados.

Pensando nessa necessidade, Camilla escreveu a obra introduzindo o histórico do desenvolvimento e do uso de armas químicas, que atingiu o pico na Primeira Guerra Mundial. Segue descrevendo os diferentes tipos de agentes utilizados para este fim, as formas de prevenção e antídotos, e os esforços internacionais para o seu banimento – notadamente a Convenção de Armas Químicas de 1997, que proíbe todo o processo de produção e utilização bélica desse tipo de material. Não é possível, porém, proibir a produção de substâncias que também têm aplicação industrial, desde que esse seja seu uso exclusivo; e nem todos os países são signatários da Convenção.

(Arte: Carolina Pulice)

O Brasil não tem histórico de uso de armamentos químicos, oficialmente ou por grupos terroristas, apesar de haver empresas químicas brasileiras com potencial para produzí-los – devidamente fiscalizadas nos termos da legislação internacional. Isso pode explicar a escassez de literatura nacional acerca do tópico: “Países como os Estados Unidos e a República Tcheca têm muitos trabalhos escritos sobre o tema, em função de possuírem um histórico com o uso dessas armas”. Ainda assim, a autora afirma que a polícia e as Forças Armadas brasileiras dão atenção à questão, com capacitação dos seus membros. Conscientizar o público acerca dos perigos do uso criminoso da toxicologia fortalece o seu combate, e o conhecimento de formas de prevenção e antídotos pode ser útil à sociedade – embora sempre se espere que não.

Por Felipe Marquezini