USP cai pelo menos 40 posições em ranking

Professores com experiência em universidades do exterior comentam diferenças entre instituições


A USP agora figura entre as posições 91 e 100 do ranking baseado na reputação de melhores universidades do mundo, elaborado pela revista inglesa Times Higher Education (THE). No ano passado, ela estava entre os lugares 51 e 60, caindo pelo menos 40 posições de 2015 para 2016.

Mesmo assim, a Universidade de São Paulo continua sendo a melhor avaliada na América Latina, além de estar em 9ª posição na lista de melhores universidades dos países emergentes.

Apesar da descrença de muitos professores brasileiros diante desse tipo de avaliação, eles apontam algumas diferenças entre a USP e instituições de ensino superior estrangeiras. Problemas como a burocracia excessiva e a falta de financiamento para pesquisas estão entre as principais reclamações.

O Times Higher Education World Reputation Ranking de 2016  foi elaborado a partir de 10.323 respostas de acadêmicos atuantes em 133 países. A cada um foi pedido a indicação de 15 universidades consideradas por eles como as melhores em seu campo de especialidade, baseando-se em apenas dois critérios: pesquisa e ensino.

Segundo a THE, as indicações fundamentadas em pesquisa tinham o dobro do peso daquelas feita em cima do critério relacionada ao ensino, pois as primeiras tendem a ser mais precisas.

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créditos: Júlio Viana

A pesquisa teve mais respostas de estudiosos da área de ciências físicas, seguida pelas ciências sociais. A Ásia e a região pacífica lideraram as indicações de acadêmicos, com 33% do total. Em segundo lugar aparece a Europa (27%) e em terceiro vem a América do Norte (19%). Uma parcela de 6% das respostas são da América Latina.

A Times, porém, afirma em seu site que rankings só conseguem medir quantidades e não podem, nem deveriam, tentar representar uma universidade e o seu significado.

É a mesma opinião do professor norte-americano da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) Robert Sean Purdy, especializado em América Independente e mestre e doutor pela Queen’s University no Canadá. Tendo experiência fora do país dando aulas na mesma universidade, ele também lecionou na Temple University da Filadélfia, além de ter feito um pós-doutorado na University of Chicago. Purdy problematiza a questão de tais rankings não levarem em conta a missão de cada universidade, fator diretamente relacionado ao país e ao contexto em que ela está inserida.

“A missão da universidade pública brasileira é diferente. Estamos falando de um país considerado um dos maiores entre os emergentes, porém que ainda tem muito a crescer, as universidades aqui ainda tem uma missão de formar professores. Essas comparações com outras universidades são dúbias”.

O especialista diz que a conjuntura econômica dos países de universidades melhor avaliadas interfere muito em sua posição: “A porcentagem do PIB dedicado às universidades e à educação é bem menor [aqui em relação ao exterior], fazendo grande diferença para nós. Afinal, precisamos levar em conta como o governo do estado tem repassado bem menos dinheiro às universidades paulistas”.

O professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME) Walter Pedra também aponta alguns fatores capazes de fazer a diferença para a USP no cenário acadêmico internacional. Tendo lecionado na Alemanha,h ele afirma o quanto é complicado atribuir um paralelo objetivo entre a USP e outras universidades do mundo: “É dificil comparar [a USP com outras universidades estrangeiras] porque, se já existem muitas diferenças até mesmo entre as unidades daqui, no exterior isso é ainda maior.”

Apesar de tudo, algumas diferenças entre a USP e outras instituições de ensino internacionais são apontadas como problemáticas para o bom desenvolvimento acadêmico. “O ambiente é mais restrito e é dificil ter uma experiência de aprendizado mais aberta”, diz o professor Purdy. “É muito dificil entrar na Física aqui na USP e fazer disciplinas na História e isso faz uma grande diferença. O ambiente de aprendizagem é dificultado.”

Pedra lembra de obstáculos para a troca de experiências não só dentro do ambiente uspiano. “Na europa há maior circulação de pesquisadores e alunos. Os editais para contratação de professores e para matrícula de estudantes são todos internacionais. A menor distância entre os países europeus contribui.”

Apesar disso, os dois professores afirmam não existir grande diferença no nível dos alunos: “A qualidade da USP é muito semelhante às universidades europeias. Lá o nível educacional é maior, mas as universidades não possuem métodos de seleção rigorosos como a Fuvest. O estudante que ingressa na USP acaba sendo, em média, até melhor que os europeus”.

Purdy coloca outra questão para as especificidades dos alunos brasileiros e os europeus. Aqui, os estudantes passam menos anos no ensino médio. Ele diz acreditar que isso não afeta a qualidade, mas sim o amadurecimento da pessoa ao ingressar na universidade. “Em outros países, os jovens fazem de 4 a 5 anos [de ensino médio]. Eles precisam entrar sabendo o que querem fazer, diferente de lá.”

Quando contatado sobre a queda de posição da USP no ranking, o pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade (PRCEU), Marcelo de Andrade Roméro, destacou os recortes específicos desse tipo de ranking, e como não refletem de forma completa as universidades avaliadas. Tanto o pró-reitor de Pesquisa e Extensão quanto o pró-reitor de Graduação não emitiram opinião sobre o assunto até o fechamento desta edição.

Outros rankings Além do ranking da THE baseado em reputações, a instituição também publica ranking geral baseado em critérios mais específicos. Neste ranking, a USP figura, atualmente, entre as posições 201 e 250.

Existem também outras duas publicações de renome: o Academic Ranking of World Universities (ARWU), conduzida pelo  Center for World-Class Universities of Shanghai Jiao Tong University (CWCU), e o ranking de universidades da QS Stars.

A USP figura na posição 143 da QS Stars. O ranking leva em consideração fatores como internacionalização da instiuição, ensino à distância, acessibilidade e, assim como o Times Higher Education, pesquisa e citações em artigos pelo mundo. Já no ARWUa Universidade está em 126. Segundo a publicação, a metodologia utilizada por eles é cientificamente sólida, estável e transparente, levando em considerações indicadores de desempenho de pesquisa.

Júlio Viana