A agricultura que cresce do concreto

Horta da Faculdade de Medicina da USP, que inspirou os trabalhos do grupo (Foto: Divugalção da Horta da FMUSP/Facebook)

Um novo grupo de estudos do Instituto de Estudos Avançados da USP iniciou as atividades no mês de maio: o Grupo de Estudos em Agricultura Urbana, coordenado pela professora e especialista em saúde urbana Thais Mauad, da Faculdade de Medicina. O tema ganhou força nos últimos anos, com a atenção que se tem dado a questões ambientais e relacionadas à saúde – a própria cidade de São Paulo conta há mais de um ano com uma zona rural, a região de Parelheiros.

Thais conta que começou a se interessar pelo assunto quando passou a participar de uma horta comunitária em seu bairro. A experiência a incentivou a iniciar a horta comunitária da Faculdade de Medicina, que existe até hoje, cuidada por quatro alunos voluntários. Outros projetos do tipo acabaram sendo abandonados com o tempo. “O cultivo dá trabalho, é necessário ter voluntários para isso”, explica Thais. A Universidade chegou a destinar alguma verba para esses projetos, mas por pouco tempo, até a piora em sua situação financeira.

O desenvolvimento desses projetos acabou aproximando pessoas de diferentes áreas – além da medicina, gestão ambiental, geografia, administração pública, entre outras – que começaram a se reunir e pesquisar o assunto. Agora o grupo se tornou oficial, mas seus integrantes já haviam publicado e participado de trabalhos acadêmicos a respeito. Thais, por exemplo, visitou a cidade de Melbourne, que já tem grandes centros de agricultura urbana e educação ambiental; ainda esse ano um professor de lá virá para São Paulo, para completar essa troca de experiências.

Em uma cidade como São Paulo, os fatores mais preocupantes quanto ao cultivo urbano são a poluição do ar e do solo. A contaminação do solo é relativamente fácil de ser mapeada, e a Prefeitura possui essa documentação; portanto, seus problemas são mais fáceis de serem evitados. Já a poluição do ar  foi tema de pesquisas do grupo: a de origem veicular é a que mais afeta as hortas da cidade, em especial os vegetais foliares. Felizmente, essa poluição é bastante localizada, e o estudo concluiu que apenas plantar longe de grandes vias e criar barreiras verticais (que podem ser árvores ou mesmo muros) já protegem a horta desses poluentes. A horta do próprio Instituto de Estudos Avançados foi analisada e considerada limpa. A própria ausência de agrotóxicos e a utilização de água de reuso tornam esse tipo de agricultura mais sustentável e saudável.

No Brasil, as cidades de Belo Horizonte e Curitiba já têm políticas avançadas na área, e no Rio de Janeiro o programa Hortas Cariocas estabeleceu cultivos em diversos locais da cidade, inclusive dezenas de favelas. Em São Paulo, a Prefeitura criou o Programa de Agricultura Urbana e Periurbana (PROAURP), de incentivo a esse tipo de produção e ao seu comércio, que cresce bastante na cidade. “As hortas comunitárias acabam tendo uma importância mais educativa e socioambiental do que para o consumo de fato”, afirma Thais. “Mas quem não produz pode estimular consumindo – se atentando para feiras orgânicas e produtores locais”, finaliza.

Por Felipe Marquezini