Falta de docentes no IME afeta pesquisas

O Instituto, sem reposições de professores desde 2013, tem turmas cada vez mais lotadas
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(Foto: Ana Luísa Moraes)

Uma das principais pautas dos alunos do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME-USP), em greve desde o dia sete de junho, é a contratação de novos professores em RDIDP (Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa).

Os professores do Instituto estão se aposentando e, sem novas contratações, a solução encontrada foi juntar turmas. “Era raro uma sala passar de 70 alunos, e, agora, muitas chegam a 100 ”, explica o chefe do Departamento de Matemática (MAT), Artur Tomita. Um aluno* do Departamento, o mais afetado pela falta de professores no IME, comenta: “O ensino fica comprometido, não dá para tirar dúvida de todo mundo, o estudante  não se sente à vontade para ir procurar o professor, ele se sente afastado”.

Além disso, a falta de professores em RDIDP prejudica as atividade de pesquisa. Como os docentes estão sobrecarregados com o excesso de alunos nas turmas, sobra pouco tempo para as outras atividades, como iniciações científicas (IC). “Alguns alunos precisam fazer IC para se formar, é obrigatório. Se não tiver gente para orientar eles não se formam”, explica o estudante. Foram contratados professores temporários, mas eles não podem orientar pesquisas: “Para que possamos manter o desenvolvimento das atividades, foi o que tivemos que aceitar, já que não está claro quando virão as contratações mesmo”, esclarece Tomita.

Os professores do MAT dão aulas de matemática e estatística para mais de 50% dos institutos da USP, em vários campus. Um outro aluno* relata que, na lista de prioridades dos cortes de turma, o IME está abaixo das outras unidades: “As primeiras aulas a serem cortadas são as optativas da pós, depois as optativas da graduação, as matérias da pós, matérias da graduação e só depois as de outras faculdades”. Os estudantes reivindicam que o IME seja o último a ser cortado.

Tomita comenta que, até agora, nenhuma disciplina obrigatória deixou de ser oferecida, mas algumas optativas sim. “Dentro da grade o aluno tem que fazer algumas disciplinas optativas no IME. Porém, como a oferta é baixa, o aluno não tem muitas escolhas, e acaba ficando amarrado em algumas matérias”, diz.

Problema antigo

Desde 2013 não houve nenhuma reposição no Instituto e, de lá para cá, 13 professores se aposentaram e um contrato foi rescindido. Em 2015, os professores do MAT fizeram um dossiê completo, relatando os problemas causados pela falta de docentes e reivindicando novas contratações. Segundo o relatório, o número de docentes do departamento pode ficar reduzido a 3/4 do atual nos próximos dois anos, devido a potenciaIs aposentadorias.

Ainda de acordo com o documento, em 2004 os professores do departamento ministravam aulas para 232 turmas, e, em 2014, para 281. O aumento é decorrente da criação de novos cursos e do acréscimo de vagas aos já existentes. Para que esse salto ocorresse sem sobrecarregar os docentes, 15 novas contratações teriam que ser feitas, no mínimo. “O problema é que quando o docente se aposenta ele continua recebendo do mesmo lugar, então uma nova contratação aumenta o custo da folha de pagamento”, explica Tomita. O chefe do MAT ainda esclarece: “tivemos um período grande de contratações no passado, então todo mundo acaba tendo o direito de se aposentar mais ou menos na mesma época”. Até o fechamento desta edição a diretoria do IME não havia se pronunciado sobre o assunto.

*Os nomes dos alunos foram omitidos para preservar suas identidades

Por Ana Luísa Moraes