Materiais caros são barreira ao aprendizado

Custo de equipamentos necessários em alguns cursos está fora do alcance de muitos alunos

Ainda que a USP seja uma universidade pública e seus cursos de graduação não possuam mensalidade, em diversos institutos ir bem nas aulas é sinônimo de gastos elevados. Além das despesas com permanência – moradia, alimentação e transporte –, há disciplinas nas quais os alunos precisam desembolsar altas quantias para comprar os materiais exigidos e garantir um bom rendimento nas atividades.

Tal situação é comum na Faculdade de Odontologia (FO) da USP. Lá, os principais equipamentos usados pelos alunos compõem o chamado kit acadêmico, no qual estão inclusas peças como um micromotor e uma mini turbina, ambos em formato de caneta. O custo do conjunto varia entre R$ 1.500,00 e R$ 2.500,00 e é apenas parte da lista na qual constam outros utensílios, como espátulas que, embora mais simples, chegam a custar R$ 100,00.

De acordo com Marcelo Gomez Neto, aluno de Odontologia e membro da Comissão de Permanência, não é raro que alunos atrasem o curso ou até o abandonem em virtude do custo dos materiais. “Muitos estudantes parcelam o pagamento das listas de compras em até 12 vezes e acabam se endividando, pois todos os anos recebem uma nova. Os professores são bem rigorosos quanto a isso, sem o material você não faz a aula”.

A Comissão de Permanência promove eventos que têm o lucro revertido para a compra de materiais e também arrecada doações. “Alguns formandos nos vendem seus materiais a preço de custo e outros nos cedem gratuitamente. Há também a contribuição de dentais — empresas que fabricam aparelhos odontológicos –, mas, ainda assim, nem sempre conseguimos ajudar todos os alunos”, diz Neto.

A Comissão de Permanência promove eventos que têm o lucro revertido para a compra de materiais e também arrecada doações. “Alguns formandos nos vendem seus materiais a preço de custo e outros nos cedem gratuitamente. Há também a contribuição de dentais — empresas que fabricam aparelhos odontológicos –, mas, ainda assim, nem sempre conseguimos ajudar todos os alunos”, diz Neto.

A situação é similar no Instituto de Geociências (IGc) da USP. A unidade abarca um grande número de aulas práticas que requerem o uso de equipamentos específicos. Segundo o aluno Luís Guilherme Monteiro Melo Mariano, entre os materiais indispensáveis para as atividades de campo estão o martelo e a lupa, que custam, em média, R$ 300,00 e R$ 100,00, respectivamente. Além disso, há a necessidade de vestuário próprio, sem o qual aumentam as chances de acidentes, uma vez que muitas atividades acontecem no ambiente de mata fechada, pedreiras e cavernas.

“Na minha sala, apenas um aluno tem todos os materiais necessários e com boa qualidade”, relata Mariano. “Uma caderneta de anotações resistente à chuva e outras intempéries custa R$ 80,00, mas para algumas pessoas mesmo a de R$ 20,00 é cara”, completa. Para ele, a situação é intensificada pela densa grade horária do curso, que é integral e impossibilita os alunos de trabalharem.

Como o Jornal do Campus já informou em reportagens anteriores, está entre as metas da USP ter 50% de seus calouros vindos de escola pública até 2018. Para tanto, a Universidade adotou medidas  como o uso do Sistema de Seleção Unificada, o Sisu. Marcelo Gomez Neto afirma que essas medidas são essenciais, mas não bastam. “A faculdade precisa oferecer alternativas de permanência e condições para o aluno aproveitar o curso de forma plena. Isso é o básico”, pontua.

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Exemplos de materiais usados por alunos de Odontologia e Geologia (Foto: Joana Leal)

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