Pesquisas sobre cosméticos da USP são destaque mundial

Pesquisas na área tem se desenvolvido desde os anos 90 e possuem apoio da Fapesp
Pesquisas sobre cosméticos ainda carecem de apoio industrial (Arquivo pessoal/Maria Velasco)
Pesquisas sobre cosméticos ainda carecem de apoio industrial (Arquivo pessoal/Maria Velasco)

A Universidade de São Paulo é a instituição que mais produz pesquisa científica sobre cosméticos ao redor do mundo. Entre 2005 e 2015, a USP produziu 177 artigos científicos na área indexados na Web of Science, conjunto de bases de dados de publicações científicas da Thomson Reuters. O número é superior a de instituições como a “Food and Drug Administration”, orgão regulatório dos Estados Unidos responsável pelo controle dos alimentos e medicamentos do país (com 108 publicações) e a Universidade Nacional de Seul (com 88 publicações). Os dados são do estudo “State of Innovation 2016”, realizado pela Thomson Reuters e divulgado no mês de maio.

Neatec

As pesquisas nessa área aumentaram nos últimos 20 anos com a fundação do Núcleo de Estudos Avançados em Tecnologia de Cosméticos (Neatec), na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP em Ribeirão Preto. O núcleo foi fundado em 1998 e iniciou os trabalhos com a padronização de métodos para a avaliação da estabilidade química e física de formulações cosméticas. Posteriormente, o núcleo passou a atuar também na avaliação da eficácia desses produtos e formulações.

Segundo Maria Valeria Robles Velasco, pesquisadora e professora de cosmetologia na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) de São Paulo, junto com o professor André Rolim Baby, as pesquisas vêm aumentando desde os anos 90, mas é difícil encontrar revistas de grande impacto na área cosmética para publicá-las. “O Brasil é o terceiro mercado consumidor de cosméticos do mundo. Nós consumimos muito, mas faltava um histórico de pesquisa que começou em Ribeirão Preto e que continuamos aqui na FCF”.

Apoios e parcerias

O maior apoio pra esses estudos não vem das indústrias e marcas de cosméticos, e sim da Fapesp. “Algumas parcerias já funcionaram no passado, como com a marca Boticário, por exemplo, mas hoje elas acontecem em um número muito inferior”, afirma a pesquisadora. Além disso, ela explica que mesmo as iniciativas das indústrias são mediadas pela Fapesp pelo Programa PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas). A partir de uma porcentagem para micro, pequenas e médias empresas, o programa possibilita que elas se associem a projetos de pesquisas que visem a inovação tecnológica.

Já as parcerias  vão desde outras unidades na própria USP a universidades internacionais. Há pesquisas em parceria com a Escola Politécnica, o Instituto de Química, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além de convênios com a Universidade de Lisboa e a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. “A pesquisa não é só realizar o projeto, existe um intercâmbio de alunos também, que têm feito estágio nessas universidades e trazido tecnologias novas. É toda uma rede que permite que nos sobressaiamos nas pesquisas sobre cosméticos”, ressalta a professora.

Cabelo e maquiagem

As pesquisas em cosmetologia na FCF se concentram no desenvolvimento e qualidade dos produtos. “A gente avalia os princípios ativos de identificação, quantificação, segurança e também a eficácia dos materiais”, explica a pesquisadora Maria Valeria.

Os experimentos não são realizados em animais e utilizam nanotecnologia, ou seja, a manipulação da matéria numa escala atômica e molecular. Alguns projetos em andamento são a eficácia de máscaras faciais argilosas e o que é preciso mudar nos produtos que a compõem, a avaliação de alisantes capilares em termos de danos na fibra capilar e o emprego da cafeína em formulações com ação anticelulítica.

Por Isadora Vitti