Rollerski é alternativa para esquiar no Brasil

Clínica Ski Cross Country trará discussão sobre modalidade pouco conhecida no país
Nas curvas da Universidade, atletas do projeto Ski na Rua treinam para competições internacionais (Foto: Amanda Oliveira)

Esquiar no Brasil pode até parecer uma ideia inusitada em um primeiro momento, já que o país não tem neve. No entanto, os brasileiros que desejam praticar esse esporte podem encontrar como alternativa o Rollerski (esqui de rodinha). Com intuito de conhecer um pouco mais sobre essa modalidade, o Programa de Desenvolvimento Humano pelo Esporte (Prodhe) realizará, no dia 13 de junho, a Clínica Ski Cross Country através do Rollerski. A atividade será ministrada pelo atleta olímpico e educador Leandro Ribela e só poderão participar as pessoas que já se inscreveram até o dia 06 de junho.

Segundo o esportista, o esqui de rodinha surgiu na década de 50, na Europa, como forma de treinamento dos atletas de Ski Cross Country durante o verão. “Aqui no Brasil como nós não temos neve, a gente utiliza esse equipamento de Rollerski como modalidade”, menciona Ribela. Ele também diz que sente uma adaptação muito rápida das pessoas que praticam com o Rollerski e depois vão para a neve.

Para Marcos Vinícius Moura e Silva, educador do Prodhe, as clínicas organizadas têm como objetivo realizar uma formação pontual, de três horas, para apresentar novas abordagens sobre o esporte. A participação nesta atividade possibilitará pleitear uma vaga no Curso de Formação de Treinadores da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN). As aulas ocorrerão das 8 às 11 horas e das 14 às 17 horas no dia 13 de junho.

Ribela explica que a clínica terá duas abordagens. Em primeiro lugar, ele apresentará a modalidade, falará como ela é desenvolvida e quais passos são necessários para praticá-la no Brasil. Depois, ele mostrará os valores que são possíveis trabalhar a partir do esporte. Entre eles solidariedade, amizade, igualdade e compreensão.

De acordo com o educador Marcos, a prática esportiva vai além do senso comum de que é uma atividade importante para tirar as crianças da rua e de ser benéfica para a saúde. “As pessoas precisam incorporar o esporte ao longo de sua vida tornando-o um valor e um hábito. É preciso conhecer várias modalidades e também saber onde elas podem ser praticadas. Isso é contrário ao discurso de tirar da rua, porque a rua é um espaço público”, diz o professor do Phodhe.

Como a prática de Ski Cross Country através do Rollerski é pouco difundido no país, a Clínica é uma oportunidade para formar pessoas que possam trabalhar com esse esporte. Assim, posteriormente é possível realizar eventos e também criar núcleos de expansão e treinamento dessa modalidade no Brasil.  Apesar da cultura do futebol ser muito forte no país é importante aumentar o leque de opções. “Esse é um processo de democratização esportiva”, ressalta Moura.

Para ele, o Brasil precisa rever o sistema nacional de esporte. Segundo ele, hoje há inúmeras ONGs ligadas à prática esportiva, mas é necessário avaliar qual é o papel dessas instituições, assim como das escolas. “O papel das escolas não é formar atleta, mas difundir uma cultura esportiva”, diz o educador.  

Ski na Rua

Em 2012, Ribela resolveu explorar melhor o esqui de rodinha no Brasil e criou o projeto Ski na Rua.  A proposta tem como objetivo utilizar o espaço da Cidade Universitária para fornecer aulas de Rollerski para crianças e assim ajudar em sua formação esportiva. “Uma situação que sempre me incomodou é ver os meninos guardando o carro e não podendo usufruir dos espaço da mesma forma que as pessoas fazem durante o fim de semana”, afirma o atleta.

(Foto: Amanda Oliveira)

O projeto começou com quatro crianças e hoje ele já tem 76 participantes. A ONG fica sediada na comunidade São Remo, onde os interessados podem se inscrever. De acordo com Ribela, além da atividade física, os alunos têm aulas de inglês e espanhol, que acontecem na ETEC Cepam da USP. Algumas vezes, eles também são levados a passeios culturais como cinema e teatro. “A gente foi buscar outras coisas que ajudem na formação deles como pessoas e cidadãos e não só na parte específica esportiva”, afirma.

O atleta Caio Moreira diz que uma das motivações que o incentivaram a participar do Ski na Rua foi a curiosidade, saber como esse esporte poderia ser praticado no asfalto. O projeto também o ajudou na formação como pessoa, porque conseguiu aprender muitos valores. “Eu aprendi sobre dedicação, em que tive que me comprometer em alguns treinos mais difíceis e me superar para terminá-los”, relata Moreira.

A parte física é realizada pelas diversas ruas da Cidade Universitária no Butantã. O trajeto é escolhido conforme a prática esportiva adequada para o treino do dia. Assim, os alunos percorrem tanto trechos planos perto da antiga Reitoria como também as desafiantes descidas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Alguns participantes têm facilidade, uma vez que já praticavam outras atividades como capoeira e futebol.

Experiência

Durante esses anos, Ribela percebeu que a autoestima das crianças melhorou muito e que os meninos começaram a se sentir parte de uma equipe. Além disso, 12 participantes do projeto já fazem parte de equipes juvenil, júnior e infantil  da CBDN. Um dos alunos foi campeão do Campeonato Sul Americano na categoria Sub 14, treinando apenas dois dias na neve com Ski Cross Country, porém dois anos com Rollerski.

Segundo o atleta, a CBDN tem incentivado o desenvolvimento do esqui de rodinha no Brasil, pois é mais fácil reproduzir essa modalidade no país. O custo também é menor o valor de acesso à pista, por exemplo, custa em torno de três a cinco dólares. Entretanto, para o esportista ainda é preciso maiores avanços. Clubes, escolas e assessoria poderiam difundir esse esporte. O acesso aos equipamentos também é restrito, já que são importados. Dessa maneira, um passo importante seria ter lojas que fornecessem esses materiais no Brasil.

A CBDN também tem investido em um projeto a longo prazo visando desenvolver a performance de jovens olímpicos. Dessa forma, vem criando alguns núcleos de treinamento de Ski Cross Country no país. A instituição também pretende formar profissionais capacitados que possam trabalhar tanto no campo técnico como também em áreas da fisioterapia e educação física.

Competições

O Brasil está no terceiro ano consecutivo do Circuito Brasileiro de Rollerski, que é composto de quatro etapas. Neste ano, a primeira fase foi realizada no autódromo de Interlagos e as outras três serão em São Carlos, onde está sendo desenvolvido um núcleo de treinamento para esse esporte.

O atleta explica que a Federação Internacional de Ski vê o Ski Cross Country e o Rollerski como uma única modalidade. No ranking mundial de Ski Cross Country, por exemplo, das cinco provas realizadas, três delas podem ser feitas com esqui de rodinha. Isso permite que moradores de lugares sem neve, também possam competir, já que viajar para treinar em outros países é muito caro.

Por Amanda Oliveira