Seis opiniões sobre o uso de piquetes na greve

Paralisar atividades e bloquear acessos é uma forma legítima de protesto? O JC foi entender
piquete
Cadeiras empilhadas barrando porta de sala de aula no Departamento de Jornalismo e Editoração (Foto: Nyle Ferrari)

Em períodos de greve na USP, dezenas de cadeiras empilhadas, impedindo a entrada nas salas de aula, são cenário certo em institutos como a Faculdade de Filosofia, Letras, Histórias e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Essa estratégia é usada com frequência por alunos e funcionários, mas divide opiniões dentro e fora da comunidade uspiana.

Piquete é o ato de bloquear o acesso e interromper determinadas atividades de uma empresa ou instituição para chamar atenção para uma causa. A Lei 7.783/1989, sobre o exercício do direito de greve, assegura aos grevistas o emprego de meios pacíficos para persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve. Eles não podem, no entanto, impedir o acesso ao trabalho, nem causar “ameaça ou dano à propriedade ou pessoa”, segundo dispõe a lei.

O Jornal do Campus ouviu alunos, professores e funcionários em vários institutos da USP para entender o que pensam sobre o piquete como estratégia de greve.

“Considero o piquete legítimo quando ele está articulado com a preocupação de esclarecimento e conscientização. Uma greve não pode ser sustentada única e exclusivamente pelo piquete. Não se trata de um setor produtivo no qual a paralisação causa prejuízo imediato ao empregador, é mais um ato político para chamar a atenção da sociedade para os problemas que existem aqui. Tem muitas pessoas que são contra os piquetes da forma que eles estão sendo realizados, mas são favoráveis à greve. É um reducionismo infantil chamar todos que são contra os piquetes de fura-greves.”

Dennis Oliveira, jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP)

“Como ficará a universidade caso cada vez que esses grupos grevistas forem contrariados, as aulas pararem? O piquete é, de fato, uma forma de fazer pressão, mas nem todas as formas de pressão são bem-vindas ou legítimas. O que estamos vendo é o seguinte discurso: “nos dê uma universidade melhor, ou então nós vamos paralisar a universidade”. Não é coerente.”

Kelvin Azevedo Santos, aluno de Ciência Moleculares e membro da Direita Estudantil da USP

“Os piquetes são métodos para garantir que a greve aconteça. Porque sabemos o quanto de assédio e constrangimento os alunos que paralisam sofrem por aqueles professores que forçam até o limite para garantir o fim do semestre. Para os funcionários, a situação é ainda mais difícil, pois eles podem sofrer perdas salariais, embora isso seja proibido.”

Izadora Feldner, estudante de Relações Públicas e integrante do movimento DCE Livre

 

“Os métodos de persuasão da convivência civilizada são a argumentação e a retórica. Optar pelo piquete significa dizer “não consegui te convencer, então agora vou te forçar”. Frequentemente, vemos defensores de piquetes dizerem que “não há outro jeito”. É um péssimo argumento: o mesmo poderia ser usado para se defender as piores barbaridades. Se quer defender uma causa, use sua liberdade de expressão para divulgá-la e tentar convencer os outros da sua importância.”

Daniel Victor Tausk, professor do Instituto de Matemática e Estatística (IME-USP)

“O piquete é um dos instrumentos de luta dos trabalhadores. É uma forma de convencer aqueles que não aderem à greve. Por exemplo: nós fizemos assembleia com os trabalhadores da Administração Central da USP, e eles decidiram pela greve. Aí alguém levanta e diz “mas tem que fechar o prédio”. Por que? Porque a pressão lá é muito maior. A pressão das chefias é grande.”

Magno de Carvalho, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp)

 

“O piquete é a última alternativa, acaba prejudicando alguns alunos, mas é a ferramenta que a gente tem. Assim como o piquete, as ocupações são formas mais radicais, então elas têm que ser o último recurso, porque podem ser mais prejudiciais que o piquete.”

Funcionária de uma das bibliotecas da USP que pediu para não ser identificada

 

Por Nyle Ferrari