Atletas olímpicos se despedem da USP

Equipamentos trazidos pelas delegações permanecem no Cepeusp para o uso do público
(Foto: Liz Dórea)
(Foto: Liz Dórea)

Nas últimas semanas, a pista de atletismo do Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (Cepeusp) e a Raia Olímpica da Universidade estiveram fechadas ao público, pois, do lado de dentro, só entravam alguns dos melhores atletas do mundo. As instalações foram escolhidas pelas delegações da China, Rússia, Itália e França para a aclimatação dos competidores dos Jogos Olímpicos de 2016.

A iniciativa partiu do projeto Cepeusp Olímpico, coordenado pelo professor Carlos Bezerra. Logo que o Brasil foi escolhido para sediar a Olimpíada, em 2009, o centro esportivo se cadastrou para receber delegações estrangeiras em suas dependências.

As duas instalações indicadas como aptas para receber atletas foram a pista de atletismo e a Raia Olímpica, por estarem mais preparadas de acordo com os padrões oficiais da competição. A primeira, em especial, precisou passar por reformas, coordenadas desde 2011 por Bezerra.

As instalações esportivas foram visitadas pelo ministro da Juventude, do Esportes e das Cidades da França e pelos cônsules italiano e francês no Brasil, além de outras autoridades internacionais. Cada país trouxe a sua equipe técnica responsável e alguns equipamentos específicos; de resto, o investimento foi todo da Universidade.

“Para a USP, a oportunidade de oferecer hospitalidade para essas delegações é única, porque estamos recebendo equipes importantes, pessoas que vêm de países diferentes e trazem valores distintos”, afirma o professor do Cepeusp Pascoal Luiz Tambucci, que acompanhou de perto o dia a dia dos visitantes.

Os primeiros a desembarcar em São Paulo foram os atletas de canoagem chineses, que chegaram no dia 23 de julho. Assim como os russos, eles escolheram a Raia Olímpica para o período de adaptação que antecedeu as competições no Rio de Janeiro.

Na pista de atletismo, franceses e italianos chamaram a atenção dos frequentadores do Cepeusp. Diversos alunos pararam para observar os treinos das delegações, que incluíam as categorias de corrida, salto em distância, salto em altura, arremesso de peso, lançamento de disco, entre outras. No salto com vara, a presença do recordista mundial, Renaud Lavillenie, chamou atenção dos espectadores. O francês ficou com a medalha de prata na segunda, dia 15, perdendo o ouro para o brasileiro Thiago Braz, que bateu também o recorde olímpico.

Preparação

É comum que atletas deixem seus países com dias de antecedência dos Jogos Olímpicos para o período de aclimatação. O clima não é, contudo, a única de suas preocupações. A mudança de fuso horário, altitude e alimentação são outros fatores a serem enfrentados pelos competidores.

Os esportistas chegavam na Cidade Universitária pela manhã, voltavam ao hotel para almoçar e depois retornavam à USP. Na parte da tarde, o estudante Rene Fender foi responsável por coordenar a equipe de voluntários que prestaram auxílio aos franceses.

Fender é formado em esporte pela Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE) e atualmente faz parte do GEPAE (Grupo de Estudos de Pesquisa em Gestão de Esporte). Entre suas funções como coordenador, estava supervisionar o possível assédio do público.

Anteriormente, as instalações já haviam sido avaliadas e vistoriadas pelos órgãos reguladores dos Jogos Olímpicos. Com a lanchonete fechada em um domingo, no entanto, faltou gelo para que os atletas fizessem a crioterapia — técnica de fisioterapia que usa baixas temperaturas para auxilar na recuperação muscular. “Mas não teve problema, foi só um detalhe que deu errado”, explica Rene.

Também no período vespertino, o aluno da EEFE em bacharelado em esporte, Marcelo Cevato, ficou responsável por coordenar a logística de recepção da delegação italiana. “Os italianos são muito tranquilos”, diz o estudante. O único pedido da delegação foi em relação a modificações na estrutura da academia, para realocar os aparelhos.

Atividades

Durante a estadia dos atletas, foram organizados eventos para que o intercâmbio de experiências fosse estimulado entre os esportistas e a comunidade. Com o apoio dos respectivos consulados e de outras instituições, as atividades alcançaram públicos internos e externos à USP.

Um ciclo de palestras na EFEE contou com a presença de membros da equipe olímpica italiana. Entre os temas debatidos, estratégias de treinamento de atletas e a dieta mediterrânea.

Por intermédio da instituição Vivi San Paolo, alunos do Sesi-SP, do colégio Dante Alighiere e da rede municipal de Campinas visitaram o Cepeusp, conheceram atletas e participaram de atividades práticas com os técnicos da delegação italiana de atletismo. Para isso, foi montada uma tenda no centro esportivo da USP.

Em parceria com o Consulado da França em São Paulo, foi exibido o filme Jappeloup (2013) no CINUSP e promovida a palestra “Francês, a língua do esporte”.

Para garantir a segurança dos atletas e demais acompanhantes das delegações, a segurança foi reforçada no campus do Butantã. O Exército Brasileiro, a ABIN e as Polícias Federal, Civil e Militar foram responsáveis por arquitetar um planejamento estratégico de segurança para a presença de delegações estrangeiras no país.

Na Cidade Universitária, os mesmos critérios foram seguidos, sofrendo apenas as adaptações necessárias. Para tal, os consulados dos países visitantes tiveram uma participação ativa. O Cepeusp acionou a sua equipe para realizar um trabalho interno de segurança, que começou desde as portarias do complexo esportivo.

“A segurança foi muito bem estruturada em função do próprio acontecimento: uma edição de Jogos Olímpicos, então tivemos que dar o mesmo nível de segurança que está sendo oferecido no Rio de Janeiro”, diz Pascoal. Apesar disso, o acesso ao campus continuou normal durante o período.

Legado

Mesmo com o final da estadia, diversos equipamentos trazidos pelos atletas deverão permanecer no Cepeusp para o uso dos frequentadores locais, incluindo aparelhos de musculação. Na visão do professor Pascoal, entretanto, o maior saldo da experiência foi a possibilidade de vivenciar diferentes culturas dentro da Universidade em um momento único.

“Nesse período de permanência, jovens, crianças e adultos apreciaram o treinamento das equipes. No sábado, pessoas de fora da Universidade vieram ao Cepeusp para assistir aos treinos, sem precisar ir ao Rio de Janeiro”, coloca.

Assim, ainda que as instalações estivessem inacessíveis ao público, ele compartilha da opinião de que a ação foi um privilégio tanto para a comunidade universitária (alunos, professores e funcionários), como para a comunidade externa.

O professor do Cepeusp e responsável pelas aulas de canoagem na Raia Olímpica da USP Christian Klausener, no entanto, lembra que a Universidade ainda investe muito pouco em esportes, principalmente no que se refere a avanços tecnológicos na área.

Klausener, que acompanhou os atletas de canoagem da China e da Rússia, aponta que diversas áreas do conhecimento poderiam ser usadas para aprimorar as práticas esportivas dentro e fora do ambiente universitário. “Essa seria a ideia da universidade: dar suporte, desenvolver coisas novas”, afirma.

Para as próximas semanas, espera-se a chegada de delegações paralímpicas no campus da Universidade, ainda não definidas pela organização. Elas deverão ocupar a Raia Olímpica, que teve sua garagem adaptada para receber paratletas.