Hospital Universitário permanece em estado de greve

Docentes, estudantes e funcionários contabilizam saldos diferentes após retorno da paralisação
Corpo discente aderiu à greve no dia 12 de maio depois de deliberação da assembléia geral. Foto: Acervo Jornal do Campus.
Corpo discente aderiu à greve no dia 12 de maio depois de deliberação da assembléia geral. Foto: Acervo Jornal do Campus.

Apesar de a greve dos servidores da Universidade de São Paulo ter acabado no dia 19 de julho, funcionários do Hospital Universitário (HU) permanecem em “estado de greve”. Ainda que tenham voltado para as suas atividades ordinárias dentro do hospital, eles não “retomaram os laços de hierarquia com a chefia”, como informa o Sindicato dos Médicos de São Paulo. As greves dos corpos docente e discente, por outro lado, já se encerraram.

A mobilização, iniciada no dia 12 de maio pelos trabalhadores e estudantes — com adesão dos professores no dia 30 —, durou aproximadamente 70 dias e trouxe algumas consequências para os campi e a comunidade USP, dentre elas, algumas conquistas para os eixos de cotas, contratações e permanência, além de problemas na reestruturação do calendário do primeiro semestre.

De acordo com o Sintusp, apesar do fim antecipado da greve, houve uma vitória parcial, e não definitiva, que foi manter o HU sob a administração universitária. “Para nós, é parcial pois não adianta ficar com o hospital se ele for sucateado de vez. A briga agora é para contratar médicos, enfermeiros e tudo que está faltando”, diz Magno.

Para Gerson Salvador, vice-diretor clínico do HU, além da manutenção do hospital e do HRAC, o movimento deste ano demonstra o interesse que a comunidade uspiana possui pela não desvinculação dos hospitais. “Foi bastante interessante, porque o reitor divulgou que o Hospital era indiferente à comunidade uspiana, e a greve mostrou o contrário”, diz.

Corte de ponto
Para minimizar danos do corte de pontos, Sintusp comprou cestas básicas para funcionários. Foto: Mayara Paixão
Para minimizar danos do corte de pontos, Sintusp comprou cestas básicas para funcionários. Foto: Mayara Paixão

Para o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), a greve foi encerrada principalmente pela chegada das férias de julho, que deixou os funcionários isolados, e pelo corte de ponto no pagamento de servidores. De acordo com Magno Carvalho, diretor do sindicato, 460 pessoas tiveram o salário descontado, principalmente funcionários da administração direta. “A diretoria do sindicato entendia que, apesar de termos todos os motivos para estarmos em greve, não valia a pena continuar expondo nossos companheiros que estavam tendo o salário cortado”, justifica.

Costuma-se permitir o corte de pontos se uma greve for considerada abusiva e violenta, mas, segundo Magno, um parecer do Ministério Público do Trabalho afirma que a greve não se enquadra nesses parâmetros. Por isso, o sindicato espera ganhar a ação contra a Universidade em julgamento a ser realizado dentro de dez dias.

Vitórias estudantis
Greve foi deflagrada pelos estudantes por Contratações de docentes e funcionários, Cotas e Permanência. Foto: Acervo Jornal do Campus.
Greve foi deflagrada pelos estudantes por Contratações de docentes e funcionários, Cotas e Permanência. Foto: Acervo Jornal do Campus.

Para o Diretório Central Estudantil (DCE), houve progresso na questão de cotas durante a greve dos estudantes. O Diretório entende que o fim de notas mínimas e a aprovação de 30% de cotas étnico-raciais para vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) são uma “vitória política” e constituem um “avanço na democratização” à Universidade.

Nessa esteira, a Escola de Comunicações e Artes (ECA), que foi ocupada durante o período de paralisação, terá 81 de 270 vagas de cursos como Educomunicação, Biblioteconomia, Jornalismo, Editoração, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Turismo oferecidas através do Sisu. Trinta e quatro delas serão destinadas a candidatos pretos, pardos e indígenas (PPI).

Apesar da ocupação do prédio central, Anna Guedes, membro do Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC), aponta que o movimento não conseguiu grandes avanços em suas pautas principais. “Uma vitória foi a direção ter aberto negociações para as pautas específicas dos cursos, para o processo administrativo de um aluno e para as sindicâncias”.

Para os estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), a suspensão temporária da prova específica até maio de 2017 para que pudessem ser adotadas vagas pelo SISU no vestibular 16-17 foi uma vitória parcial. A proposta original seguia a Frente Pró-Cotas, que pedia 50% de cotas étnico-raciais diretamente na FUVEST. “Trabalhamos bastante para passar essa proposta, tivemos um grupo de trabalho que atuou intensamente a questão do acesso inclusive pensando estratégias, fazendo levantamentos e textos informativos. Enfim, é uma conquista”, comenta Danilo Vinhote, estudante de arquitetura.

A reabertura de salas para estudo e livre uso dos estudantes foi uma conquista do movimento do Instituto de Física (IF). A greve no IF ocorreu por 35 dias e uma sala foi ocupada durante 44. Segundo fontes ligadas ao Centro Acadêmico, houve 72 pedidos de sindicâncias a 33 alunos do instituto. A diretoria do IF informou que o número exato de pedidos é 11, mas cada um envolve muitos estudantes. Os processos administrativos foram unificados pela Procuradoria Geral da USP e agora serão avaliados por uma comissão formada por três membros do Instituto de Geociências, do Instituto Oceanográfico e da Escola Politécnica.

Professores

A Associação de Docentes da USP (Adusp) afirma que não foi obtida nenhuma vitória concreta após a paralisação prolongada de sua categoria, que começou em 30 de maio e acabou exatamente um mês depois. A associação pontua que a abertura de editais para contratação, seja de docentes, funcionários técnico-administrativos, é uma obrigação da Reitoria, sendo o mínimo para manter a Universidade funcionando. “Contudo, pode-se dizer que, ainda que parcial, uma vitória foi o adiamento da votação da carreira docente no Conselho Universitário”, diz a entidade.

De acordo com a professora Ana Luiza Jesus da Costa, representante de base da Adusp, a adesão de docentes à greve teve um significado político importante diante do “desmonte” universitário, no qual se encontram as situações do HU, das creches, da falta de contratações e políticas de permanência.