Ciclistas enfrentam dificuldades no campus

Na Cidade Universitária, ciclovias não terminadas e desrespeito dos motoristas persistem
Foto: Ethel Rudnitzki
Foto: Ethel Rudnitzki

A Universidade de São Paulo possui apenas 10% das ciclofaixas estruturais previstas para estarem prontas até este ano. O número de vias especiais destinadas a ciclistas é esperado em 35 km, somando 26,2 km de ciclofaixas em avenidas principais do campus e 9,3 km de caminhos para bicicletas em áreas de pedestres. A Universidade instalou apenas 2,6 km desse número. Todo esse trecho cicloviário já finalizado na Universidade foi entregue no ano passado, durante o mês de fevereiro.

O projeto ainda prevê a instalação de 36 estações de empréstimo de bicicletas, com 10 veículos cada, para alunos, funcionários e professores da USP. A iniciativa, chamada PedalUSP foi testada em 2011, com grande aceitação do público, e deveria ser retomada até o fim deste ano, junto com a construção das vias para ciclistas. Até agora, nenhuma das estações de empréstimo de bicicletas foi instalada. A Reitoria não havia se pronunciado até o fechamento desta reportagem quanto ao andamento do projeto.

A Prefeitura do Campus estimou, em fevereiro de 2015, que aproximadamente 40 mil veículos circulavam pela Cidade Universitária e confiava que a implementação de trechos para ciclistas diminuiria o tráfego costumeiro na Universidade. Segundo Heron Cazón, professor de Ensino à Distância que frequenta a ciclofaixa da USP, a locomoção dentro do campus, que possui 7 mil metros quadrados, é facilitada através da bicicleta. Por outro lado, ele afirma que, embora o espaço delimitado crie segurança para aquele que pedalar pelo campus, a disputa com motoristas que andam pela Universidade ainda é um problema.

“A ciclofaixa dá uma certa segurança porque tem um espaço próprio pra você ali na rua”, diz o professor. “Mas, em relação ao respeito entre o ciclista e o motorista do veículo, isso tem que ser ainda muito bem trabalhado na Cidade Universitária”, contesta. Entre os problemas centrais relacionados à relação motorista-ciclista, Cazón observa que constantemente carros não seguem a prioridade de ciclistas atravessarem as ciclofaixas. “É muito comum, quando estou em ciclovia e vejo um carro, esperar para que ele passe por cima da ciclofaixa, muito embora o ciclista tenha prioridade de cruzar a via”, diz. A ordem de prioridade, na prática, é toda invertida. Primeiro, o carro; depois, o ciclista e o pedestre.

“Outra coisa que reparei é que as pessoas que passam de carro pela Universidade não a frequentam, mas a utilizam como autopista para chegarem mais rápido a seus destinos”, observa Cazón. Segundo ele, os motoristas abusam da velocidade no interior do campus. A Cidade Universitária não possui radares de velocidade.

Marcio Vilela, que anda de bicicleta pelo campus mas não frequenta as ciclovias aponta alguns problemas fundamentais das faixas especiais a ciclistas no campus. Segundo ele, seria necessário realizar um mapeamento de origens e destinos das pessoas que se locomovem nesse espaço a fim de criar rotas e os percursos corretamente.

“O que você tem aqui é uma coisa absolutamente sem planejamento, de ter deixado a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) vir aqui pra dentro e pintar essas faixas”, afirma ele. “Eu mesmo já tive acidente por causa de traçado mal feito, já fui fechado algumas vezes por ônibus que não respeitam a ciclofaixa e já fui agredido por ciclistas de velocidade, que acham que a Cidade Universitária é deles.” Em janeiro deste ano, o então prefeito do campus da Cidade Universitária, José Antonio Visintin, afirmou que a USP não era “lugar público, de todo mundo” para que ciclistas de velocidade frequentassem a toda hora e todo momento. Na ocasião, Visintin sustentou que definiria um lugar exclusivo no qual esses ciclistas pudessem transitar.

“Quem está andando de bicicleta aqui está, provavelmente, na visão dos ciclistas de velocidade, disputando espaço com eles”, opina Vilela. “Enquanto nós estamos usando bicicleta para locomoção, eles estão usando para diversão.”