Futebol inclui pessoas com deficiência

Projeto de professores da EEFE ensina esportes para deficientes intelectuais no Cepeusp
Fotos: Maria José Campo
Fotos: Maria José Campo

Um projeto do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) tem como objetivo oferecer aulas de futebol para pessoas com deficiência intelectual. O grupo se reúne na Universidade há mais de 15 anos, nos encontros que em alguns momentos chegaram perto de acabar. Em 2011, porém, o professor Luiz Dantas assumiu a coordenação da iniciativa em conjunto com sua orientanda, Érica Joaquim.

“O projeto está baseado na ideia de ensinar jogos coletivos como futebol, basquete, vôlei, esse jogos que têm uma estratégia básica que você precisa conhecer para jogar”, explica Dantas. Entretanto, apesar do termo “ensino”, o professor conta que atua mais como um supervisor, pois a iniciativa está baseada na ideia de dar autonomia para que os alunos consigam desenvolver, sozinhos, as jogadas. “Tradicionalmente, quando se ensina esse tipo de atividade para deficientes intelectuais, às vezes o técnico ou professor fica muito centrado no resultado em si. E quando ele tem essa expectativa, ele acaba assumindo a decisão pelos jogadores”, afirma o professor.

Em artigo publicado sobre o projeto na Revista Brasileira de Educação Especial, Dantas e Joaquim descrevem que “o estudo procurou romper com antigos paradigmas adotando o princípio da autonomia, respeitando a idade cronológica dos indivíduos”. Assim, a metodologia de ensino buscou estimular a capacidade individual de tomada de decisões dos jogadores, cujas idades variam entre 28 a 40 anos.

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O método incluiu a elaboração de um esquema gráfico para auxiliá-los nas diferentes situações do jogo e na classificação de ações em positivas e negativas. As ações positivas são aquelas que contribuem para que o jogo se desenvolvesse melhor (como progredir com a bola, finalizar a jogada, driblar), enquanto as negativas são as que prejudicam o desenvolvimento da partida, implicando em um jogo de ritmo mais lento (como não realizar o ataque, não finalizar a jogada, ou não fazer marcação).

No artigo, os professores concluem que “os jogadores passaram a se comunicar mais de forma gestual e verbal, fato que incidiu positivamente sobre a autonomia desses alunos no contexto do jogo”. Sobre os pontos positivos que o futebol traz para uma pessoa com deficiência intelectual, Dantas afirma que o jogo proporciona os mesmos benefícios que proporcionaria a alguém que não apresenta deficiência. “Ajuda, como uma atividade física ajuda qualquer pessoa. Acho que não tem nada diferente de uma pessoa típica”.

Os alunos matriculados são, geralmente, integrantes da comunidade ao redor da USP e alguns são filhos de professores. Mas a dimensão do projeto ainda é pequena: “Um problema que a gente tem é atrair mais pessoas”, diz Dantas. A questão da mobilidade também influencia: o coordenador comenta que uma das razões para a dificuldade em atrair mais alunos é o fato de que alguns dependem de outra pessoa para levá-los aos jogos. “Não é só eles terem disponibilidade, precisa que mais alguém tenha disponibilidade para trazê-los”, continua.

Fábio de Souza Santos começou a frequentar a raia olímpica quando soube pelo rádio que um time de caiaque para pessoas com deficiência intelectual estava sendo montado na Universidade. Depois fez remo e, então, entrou para o time de futebol. Hoje, não está mais matriculado, mas aparece nos treinos para poder manter contato com a turma que o acompanha desde o início. “As pessoas sentem pena e algo até pior: preconceito”, diz o atleta em relação aos olhares que recebe nas ruas.

No jogo em si, felizmente, a amizade ganha do preconceito. Enquanto Fábio senta no banco e observa os amigos, Rafael Turra atravessa a quadra com a bola no pé até chegar próximo o suficiente para chutar no gol. Os gritos da treinadora Laís pedindo para que ele passe a bola são feitos em vão; ele continua até concluir a jogada. Rafael frequenta as aulas junto com o seu irmão, outro Fábio da turma. Os dois Fábios, aliás, são conhecidos de longa data, tendo estudado juntos na escola. Com a camiseta do jogador argentino Messi, Rafael conta que, em casa, assiste a jogos de futebol todos os dias na televisão.

No treino, contudo, o jogo só começa após o pega-pega, ou outra atividade de aquecimento. Depois, uma pausa para tomar suco. Eles cansam fácil, mas o entusiasmo que carregam em si não parece ter hora para acabar.

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