O último semestre

Era um sonho recorrente: alguém da faculdade avisava que fizeram uma recontagem dos créditos e meu diploma seria suspenso se não cursasse mais um semestre. Os amigos (os da vida real) diziam que se tratava de um desejo contido. Como se faltasse algo para fechar um ciclo.

Quando recebi o convite para ser ombudsman do Jornal do Campus, senti que de certa maneira aquele desejo tomava forma. Sim: vou passar o próximo semestre no campus de onde jamais me afastei (prova disso era quando buscava nos cafés da USP algum balão de oxigênio para enfrentar o ar rarefeito das redações).

Tenho mais a aprender com a experiência do que a ensinar mas, já que o oficio exige, começo a série de observações com um elogio. Uma boa edição é a que consegue reduzir o muro entre o campus e o mundo fora dele. Esta conseguiu: fez de assuntos gerais (Olimpíada, crise política, Maria da Penha e, sim, Pokemon Go) temas de debates internos. O risco é cair em imprecisão e/ou perder em ineditismo.

A reportagem sobre a despedida dos atletas olímpicos que treinaram na USP avança nos dois pontos, mas a análise sobre a tensão pré-impeachment peca na interpretação ao dizer que a Folha de S.Paulo reconheceu o erro após esconder um dado relevante do Datafolha (que a maioria queria novas eleições). Na verdade, o jornal justificou a decisão – e reforçou o erro. Me pareceu questionável também a escolha dos personagens para ilustrar o momento político. Não há movimentos na USP que pudessem ser consultados?

A pauta sobre a ocupação do antigo armazém do DCE trouxe um lado da história quase sempre ignorado por quem está fora do campus. O porém era a foto, que nada ilustrava. Um ponto alto: o recorte sobre os dez anos da Lei Maria da Penha.

O debate sobre o PIDV recebeu atenção merecida, mas a principal entrevista, que poderia ser uma sub, ficou em página separada.

Por fim, vale manter a atenção sobre o Ciências sem Fronteiras. Senti falta de um questionamento mais direto ao governo. Mudanças anunciadas (ou não anunciadas) por uma gestão ataboalhada certamente vão respingar no universo acadêmico. Vamos aguardar.