Somente um terço dos diretores da USP são mulheres

Número de mulheres ocupando cargos de diretoria nas unidades de ensino cresce, mas continua desequilibrado

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As unidades de ensino dos campi da Universidade de São Paulo somam 48 cargos de diretoria. Desses, apenas 16 são ocupados por mulheres. Nove mulheres estão nos campus Butantã, cinco em Ribeirão Preto, uma em Bauru, uma em Piracicaba, nenhuma em São Carlos, nenhuma em Lorena, nenhuma em Pirassununga e nenhuma em São Sebastião. Quanto à vice-diretoria, apenas 12 dos 48 cargos são ocupados por mulheres. Os dados foram levantados a partir dos sites oficiais vinculados à Universidade.

A análise do histórico das unidades de ensino mais tradicionais na USP aponta uma diferença muito desequilibrada na quantidade de mulheres e homens exercendo posição de direção. A Faculdade de Medicina de São Paulo já teve 29 diretores, todos homens, assim como a Poli já teve 25, e nenhuma mulher. A Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a FFLCH, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e a Escola de Engenharia de São Carlos já tiveram uma mulher na diretoria ao longo da história. Nesses últimos casos, todas elas só estiveram na direção nos últimos cinco anos. Apenas na Faculdade de Direito foi um pouco mais cedo, com a Professora Ivette Ferreira que assumiu a diretoria em 1998. A FEA já foi dirigida por 20 pessoas, sendo duas mulheres: uma assumiu em 1954 e outra em 2002.

Maria Ângela Faggin, diretora da FAU, entende o fato de poucas mulheres ocuparem cargos de poder na Universidade como um problema histórico. “Tem que levar em conta que para chegar em um cargo de direção você tem que ter um tempo de carreira, e até hoje as mulheres fizeram a carreira junto com os homens em maior número.” Ela explica que, como o número de professoras é menor que o de professores, na hora de disputar um cargo de diretoria, em geral, há menos candidatas mulheres. Ela tem graduação pelo Instituto de Biociências e, na sua turma de 150 ingressantes, havia 146 mulheres e 4 homens. Apesar da grande maioria da sala ser composta mulheres, a desigualdade de gênero não estava restrita a números e proporções: “Nós éramos tratadas pelos professores de maneira pouco respeitosa, eles achavam que a gente estava ali empacando espaço de outros homens que poderiam estar no nosso lugar.” Felizmente, Faggin disse não perceber essa discriminação na vida profissional. “Isso não aconteceu comigo, mas acredito que aconteça, porque eu acho que existe”, conclui.

Maria Cristina Motta de Toledo, atual diretora da EACH, enxerga essa situação como um reflexo da sociedade: “É tudo meio assim, tanto nas empresas, como no setor público, na política, no legislativo”, diz. Ela é formada em geologia e, quando entrou na USP, na sua turma de 50 pessoas, havia 48 homens e 2 mulheres. Sobre a sua atual condição – de ser mulher e diretora – Toledo afirma que já houve casos que evidenciaram a diferença de gênero. “Já presenciei comportamentos inadequados ou então de maior gentileza, por ser chefe, geóloga, pesquisadora, mulher”. E completa: “é uma cultura.” Ela conta que não é completamente explícito, mas percebe situações que mostram o machismo. “Comentários como ‘deixa que eu faço isso porque você é mais frágil, ou você não sabe, ou não tem capacidade”, diz. Além disso, ela afirma que às vezes em reuniões existem uma ou duas mulheres para oito, dez homens.

Na opinião da atual vice-diretora da Escola Politécnica, Liedi Bernucci, “quem diz que nunca passou por preconceito, é porque nunca notou.” Ela foi a segunda professora titular da Engenharia Civil, a primeira do Departamento Engenharia de Transportes e a primeira vice-diretora. Em sua carreira como mulher e engenheira, a professora conta que “à primeira manifestação inconveniente, respondia de forma assertiva, seja na época de estudante, ou já como profissional. É preciso se impor, que seja até com doçura, mas sem medo de confronto.” No ano de 1977, em que Bernucci entrou na Poli, 5% dos alunos eram mulheres, segundo informações fornecidas pela vice-diretora. Depois de 35 anos, 20% do total de alunos eram mulheres. “As mudanças são lentas, mas acontecem”, comenta.

Nos últimos cinco anos, principalmente, há um aumento na entrada das mulheres em posições de diretoria. Todas as entrevistadas disseram perceber que o número de mulheres na área acadêmica e em posição de direção está aumentando e que tende a se equilibrar. De acordo com o Censo da Educação Superior, em  2014, as mulheres eram as estudantes mais frequentes nos cursos de graduação, independentemente da modalidade de ensino; em 2013, nos 10 maiores cursos de graduação, 55,5% dos matriculados nas instituições e 59,2% dos alunos concluintes eram mulheres.

Faggin diz que uma situação que mostra explicitamente que as mulheres estão fazendo mais carreira é a proporção dos banheiros da FAU, porque, na fundação da faculdade, em 1969, os banheiros masculinos eram muito maiores – já que as turmas eram compostas predominante por homens – e hoje é o inverso, as turmas são predominantemente femininas e o banheiro das mulheres precisa ser maior. Dados da FAU em 2015 informam que dos docentes, 63 são homens e 61 mulheres, e na instância técnico-administrativa, 85 funcionários são homens e 78 mulheres. Quanto aos docentes da Escola Politécnica, a primeira mulher a ocupar o cargo de professora titular foi somente na década de 90, quando a Escola tinha 100 anos, e, atualmente, 12% são mulheres. “A tendência é aumentar,  há várias docentes jovens”, diz a vice-diretora da Poli.