Vacina contra o Zika será testada em humanos

Sucesso em teste com macacos permite início de análise dos efeitos em humanos

Luiza Missi

Uma colaboração que envolve a universidade de Harvard e alguns institutos da USP obteve sucesso ao testar algumas versões da vacina do Zika em macacos do gênero Rhesus. Em fevereiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde decretou emergência internacional em decorrência dos casos de microcefalia ligados à febre decorrente do vírus. Dado o destaque que a imprensa internacional deu à pauta, cresceram os esforços dos pesquisadores de universidades do país inteiro em busca de uma vacina.

A vacina está em desenvolvimento no Centro de Virologia e Pesquisa em Vacina de Harvard, numa colaboração que envolve diversos institutos da USP, como o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, além do próprio Instituto Butantã. O pesquisador Paolo Zanotto, do ICB, ressalta o aspecto colaborativo da pesquisa: “[Eu e o pesquisador Jean Pierre Peron, também do ICB] estamos colaborando com um grupo em Harvard, mas nosso interesse é nos modelos biológicos deles. Aqui em São Paulo, há esforço importante em desenvolver vacinas”.

Em junho, o grupo realizou testes em camundongos e também obteve sucesso. A vacina apresentou 100% de proteção, o que significa que após o contágio os animais não apresentaram sinais do vírus. Os animais foram expostos a variedades de Zika provenientes tanto do Brasil quanto de Porto Rico, que em agosto declarou estado de emergência por registrar mais de 10 mil casos da doença. Depois deles, os testes em primatas são necessários por conta da maior proximidade com o organismo humano. Em outubro, o grupo dará início aos testes clínicos em humanos.

A epidemia no Brasil

Arte: André Calderolli
Arte: André Calderolli

No último boletim epidemiológico publicado no Portal da Saúde, o governo federal divulgou que foram registrados 78.241 casos comprovados de febre decorrente do vírus Zika. No total, são 174.003 casos prováveis, uma incidência de 85,1 casos a cada 100 mil habitantes. 14.739 deles são gestantes, dos quais são 6.903 os casos confirmados por critério clínico-epidemiológico ou laboratorial.

A preocupação específica com gestantes se deve à possibilidade de microcefalia e má formação do feto em decorrência da doença. Ao final de julho, eram 1.749 os casos de microcefalia resultante de infecção congênita – o que não inclui somente a febre por Zika vírus. Foram registradas 106 mortes confirmadas de microcefalia após o parto ou durante a gestação, e 200 continuam em investigação. Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde começaram a ser coletados em outubro de 2015.

Durante o inverno, o tempo seco e as temperaturas mais baixas dificultam a proliferação de mosquitos, inclusive o Aedes aegypti. Ainda assim, recomenda-se que os cuidados e a prevenção não sejam deixados de lado.