Atendimento psicológico no IP passa por reformulação

Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Questões administrativas foram a causa da paralisação; demais serviços seguem funcionando

Um dos serviços oferecidos pelo Centro Escola do Instituto de Psicologia (CEIP),  o Serviço de Aconselhamento Psicológico (SAP), recentemente parou de funcionar no Instituto de Psicologia na Usp, capital. O Jornal do Campus procurou a coordenadora do CEIP, Maria da Conceição Coropos Uvaldo, para saber mais sobre isso e entender como os atendimentos funcionam. Conceição explica que o serviço, que voltará em março, foi paralisado por questões administrativas da coordenação e está sendo reformulado. “Este serviço não está funcionando porque são três psicólogas trabalhando lá. Uma saiu de licença maternidade, e a outra saiu para fazer o pós-doutorado”. Com uma única coordenadora, não foi possível seguir com os atendimentos normalmente.

O SAP se encaixa no grupo dos serviços que atendiam por ordem de chegada, voltado a pessoas da região Oeste da cidade e alunos USP. Nas quartas-feiras pela manhã, bastava se direcionar ao bloco D do IP e inscrever-se em um caderno na mesa central. A partir das 9h, os nomes eram chamados para o atendimento que poderia ser individual ou em grupo, a depender da quantidade de pessoas na manhã.

Conceição explicou que existem diversos atendimentos diferentes no local e que funcionam de maneira autônoma. “Nós temos uma série de atendimentos independentes. Aqui é um Centro Escola, então os atendimentos são estágios dos nossos alunos e são vinculados a disciplinas”. Os serviços atendem demandas diferentes dentro e fora da comunidade USP, de orientação profissional para pré-vestibulandos (que acontece mais próximo da data em que ocorre o vestibular da Fuvest) ao atendimento de crianças. Mas nem todos funcionam da mesma maneira, alguns serviços abrem inscrições, outros atendem por ordem de chegada. O que determina a forma de funcionamento são as condições internas. “Cada serviço tem autonomia para abrir um certo número de vagas que é ditado pela quantidade de alunos inscritos nas disciplinas”, afirma.

Além disso, com a reformulação, uma prática que ocorria esporadicamente nos atendimentos locais, que era o encaminhamento de alunos para psicólogos que voluntariamente aceitavam acolhê-los por um valor de consulta mais baixo que o de mercado, não ocorrerá mais. “Não podemos fazer nenhum encaminhamento externo, é lei. Isto era uma coisa episódica, um número muito pequeno, mas com a situação atual da rede pública esse número aumentou”.

O CEIP, assim como qualquer serviço público, é regido pelo código penal que, no Título XI: dos crimes contra a administração pública, proíbe que se indique aos pacientes serviços de terceiros. “Nós somos uma escola pública, e não podemos, em hipótese alguma, encaminhar para serviços particulares, somente os públicos”. Conceição pontua que, no entanto, a situação da área psicológica na rede pública é complicada, pois “os serviços de saúde não têm psicoterapia como um procedimento normal. O Hospital Dia é para atendimentos mais graves e psicoterapia não faz parte dos atendimentos da rede”. E mesmo dentro da USP não são encontrados serviços de apoio. “Quando a gente tem urgências psiquiátricas, a gente tenta o HU primeiro, mas em geral a gente vai para o Pronto-Socorro da Lapa que tem o PS Psiquiátrico”, explica Conceição. O Hospital Universitário oferece atendimentos psiquiátricos, mas são consultas marcadas previamente através do site.

Conceição ressalta que todos os demais atendimentos oferecidos pelo Centro Escola do Instituto de Psicologia seguem funcionando normalmente. O site do instituto está sendo modernizado, então as informações de horários e dias podem ser obtidas através do telefone da central do CEIP, veja no box a seguir sobre os atendimentos no campus da capital e em Ribeirão Preto.

São Paulo

CEIP (Centro Escola do Instituto de Psicologia): para alunos e a comunidade

Cada serviço tem seu dia e horário de atendimento. Informações por telefone.

Bloco D do Instituto de Psicologia da USP
Telefone: (11) 3091-5015

Ribeirão Preto

COPI  (Centro de Orientação Psicológica Integrada): atendimento para os estudantes

Funcionamento: 2ª a 6ª feira, das 08h00 às 11h30 e das 13h00 às 17h00.

Rua Clóvis Vieira, casa 32 – Campus Ribeirão Preto
Telefone: (16) 3315.3494
Email: copi.pc@usp.br

CPA (Centro de Psicologia Aplicada): para toda a comunidade, inclusive crianças
Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 08h00 às 17h00.

Av. Bandeirantes, 3900 – Monte Alegre – Ribeirão Preto
Telefone: (16) 3315.3722 / 4835
Email: psicologia@listas.ffclrp.usp.br

 

Segunda parte: e quem atende os estudantes de psicologia?

O Conselho Federal de Psicologia (CFP), em suas diretrizes, não determina que os cursos de graduação em psicologia devam oferecer terapia aos seus alunos. No caso do IP, o atendimento psicológico para os próprios estudantes não é uma prática existente. Denise Harumi, estudante de psicologia, conta que quando os alunos sentem necessidade, procuram uma indicação de terapia por fora. “Para as estudantes da psicologia, temos uma lista de profissionais que se dispõem a atender por um preço mais baixo, pois nós não podemos ser atendidos pelas equipes do CEIP, por motivos óbvios. Nunca ouvi que isso não era suficiente”, relata. Na FFCLRP (em Ribeirão Preto), por outro lado, a situação é diferente. Lá, os alunos de psicologia podem usufruir de um atendimento na própria instituição, porém, ele é feito pelos próprios alunos. Ou seja, há grandes possibilidades de um aluno ser atendido por um veterano, o que não é o ideal, por conta dos vínculos estabelecidos.

Essa falta de demanda por atendimento psicológico gratuito dentro do próprio IP tem justificativa: segundo Conceição, os alunos não precisavam dessa gratuidade pois podiam arcar com a terapia do próprio bolso. “Não é uma ideia [fornecer atendimento psicológico aos alunos do próprio instituto] porque nunca houve esse pedido dos nossos alunos. A renda da psicologia sempre foi uma das mais altas da USP, só perdia para a Medicina”, conta.

Esse cenário, porém, está mudando e não apenas entre os alunos do IP, mas entre os alunos da USP como um todo. “A individualização do sofrimento e o sentimento de que é a única pessoa que não está bem na universidade tem sido comum na grande parte dos cursos que tivemos contato”, conta Denise.

Além disso, Conceição fala que dentro do próprio IP o cenário tem se modificado nos últimos anos, graças à uma mudança no perfil dos ingressantes. O ingresso na universidade pelo Enem já impacta, mesmo que de forma tímida, o perfil dos alunos da Psicologia. “A mudança do perfil é mais recente. A psicologia é a unidade que mais ofereceu vagas pelo Enem (30%). Nosso aluno aqui nunca precisou do atendimento. Eles queriam o encaminhamento para quem pudesse atender, ou atender por um valor mais baixo. A gente tinha um perfil socioeconômico muito alto, que está mudando, e isso faz com que a gente repense as nossas práticas. Hoje, o nosso aluno talvez não possa [arcar com o pagamento de terapia fora da faculdade]”, afirma. Nesse sentido, a reformulação de programas dentro do CEIP pode trazer benefícios para quem precisa dentro da USP.

Porém, essa mudança de perfil e os impactos que ela tem sobre a necessidade de atendimento psicológico ainda é ignorada no âmbito mais amplo, já que a Universidade não sabe como lidar com casos assim ou simplesmente os ignora. Não à toa, surge o sentimento de solidão entre os alunos que precisam desse acolhimento. Por outro lado, muitos grupos e alunos dentro da USP têm usado os espaços da faculdade e as redes sociais para expor esses pontos, como foi o caso da iniciativa “FAU nãoénormal”. “A desnaturalização das diversas formas de opressão tem se manifestado em diversos espaços, pelos gritos de reivindicação de direitos, de reconhecimento da diversidade, e de democratização. E uma da consequências disso é o ‘surgimento de demanda’ – o que a gente pode chamar de ‘dar voz ao sofrimento coletivo’”, conclui Denise.