ONG leva matemática para escola pública

Projeto de alunos da Poli atende mais de cem alunos e oferece oportunidades de ensino
“Nosso foco não é nem ensinar matemática nem fazer com que os alunos passem no vestibular, mas mostrar a importância da educação em sua vida.", diz Renata Inacio, aluna da Poli e voluntária (Foto: Bianka Kirklewski)
“Nosso foco não é nem ensinar matemática nem fazer com que os alunos passem no vestibular, mas mostrar a importância da educação em sua vida.”, diz Renata Inacio, aluna da Poli e voluntária (Foto: Bianca Kirklewski)

Nas manhãs de sábado, mais de cem alunos de diversas instituições da rede pública de ensino se reúnem em uma escola municipal na zona sul de São Paulo para aprender matemática. Os encontros são organizados pela ONG Matemática em Movimento (MM), fundada em 2012 por alunos da Escola Politécnica da USP.

O projeto começou a partir de sete amigos que se voluntariaram para dar aulas em uma escola pública de São Paulo. Como todos cursavam engenharia, a matéria escolhida foi matemá- tica. Com uma turma inicial de dez alunos do primeiro ano do Ensino Médio, a ideia era que eles fizessem o acompanhamento desses estudantes até o último ano da escola.

Quatro anos depois, a equipe do Matemática em Movimento (MM) concentra 84 voluntários, sendo a maioria estudantes da Poli. Após a primeira turma, chamaram mais uma, e assim por diante. Hoje, trabalham com alunos desde o nono ano do Ensino Fundamental até o terceiro do Ensino Médio. São seis salas divididas entre os 30 professores, que se revezam entre si.

No ano passado, o MM ganhou um estatuto e passou a ser considerado uma associa- ção de voluntários, não apenas um projeto de extensão. Assim, sua missão foi estruturada em orientar jovens do ensino público a investirem em educação como modo de desenvolvimento pessoal e profissional.

“Nosso foco não é nem ensinar matemática nem fazer com que os alunos passem no vestibular, mas mostrar a importância da educação em sua vida. Muitas vezes eles não se permitem sonhar, acham que isso não é para eles”, explica Renata Inacio, aluna da Poli e voluntária do projeto.

Desse modo, promovem outras atividades além das aulas teóricas, como feira de profissões, palestras e discussões sobre temas da atualidade. Um modo de diminuir a evasão das turmas foi implantar um processo seletivo, no qual são selecionados os alunos que mais demonstram interesse – e não necessariamente mais conhecimento.

Formado em Engenharia Química na Escola Politécnica, Guilherme Klein ajuda nas aulas, ora como professor, ora como auxiliar, ora como corretor. Ele conta que desmistificar a matemática para os alunos, que nem sempre tiveram acesso àquele conteúdo, é uma das principais dificuldades da função. “Quando eles buscam o projeto, vêm com uma ideia de que a gente vai fazer eles aprenderem”, afirma.

Gratidão

Depois de não passar no vestibulinho para ingressar em uma ETEC (Escola Técnica Estadual), Pietro Santana percebeu como o ensino da sua escola pública não era dos melhores – um choque, afinal sempre teve notas boas. Foi quando, seis meses depois, assistiu a uma palestra do Matemática em Movimento.

“Fiquei interessado, pois falavam em realizar sonhos e obter um ensino melhor, justamente o que eu precisava no momento. Fiz a prova do processo seletivo e passei. Foi um ano incrível, aprendi coisas simples que eu nunca vi na escola, como regra de três, por exemplo”, conta Pietro.

Um ano depois, o estudante passou em primeiro lugar para o curso de Técnico em Eletroeletrônica do Senai, não só com a ajuda das aulas de matemática, mas com outras orientações dos voluntários. Hoje, no terceiro ano do Ensino Médio e no último semestre do curso técnico, Pietro tem certeza que frequentar o projeto foi determinante para chegar onde conseguiu. “Eu saía – e saio – de cada aula com a certeza de que aprendi algo novo. Em todo esse tempo, nunca me desapontei com o Matemática em Movimento. Pelo contrário, o MM me deixa tão feliz que pretendo me tornar um voluntário também”, diz o estudante.Intertítulo