Longe dos holofotes, Reitoria fecha acordo com consultoria privada

Em trâmite desde agosto deste ano, projeto pela reestruturação administrativa da Universidade vem à tona após denúncias realizadas pela Adusp
Foto: Luiza Missi
Foto: Luiza Missi

Em busca de novas soluções para a crise financeira, a USP acaba de anunciar parceria com a McKinsey & Company, empresa estadunidense de consultoria empresarial. Intitulada como “USP do Futuro”, a iniciativa foi apresentada pela Reitoria como um projeto promovido por ex-alunos em nome do desenvolvimento de novo modelo de captação de recursos e de gestão administrativa e financeira para a Universidade. O comunicado, no entanto, veio a público somente no dia 20 de setembro, após uma série de denúncias feitas pela Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), a qual pede a suspensão imediata do USP do Futuro.

Em seu primeiro pronunciamento oficial, a reitoria desmentiu a informação divulgada pela Adusp de que a consultoria estaria viabilizando um esquema de cobrança de mensalidade para os cursos. De acordo com notas emitidas pela Associação, a declaração respalda-se em uma denúncia anônima recebida e divulgada no dia 19 do mesmo mês.

O projeto que chega a público neste momento, entretanto, encontra-se em tramitação desde o dia 28 de junho deste ano, conforme mostra o Termo de Doação assinado entre a USP e a Comunitas (organização especializada em investimentos sociais com apoio de iniciativas privadas), que é apresentada como viabilizadora administrativa e financeira da parceria com a consultoria americana. Por sua vez, o Acordo de Cooperação com McKinsey & Company, também divulgado nesta última semana, tem sua assinatura datada de 11 de agosto de 2016.

De acordo com os documentos, a execução do USP do Futuro deve acontecer em quatro fases — avaliação; estratégia; frente orçamentária e de gestão; desenho e validação do projeto — durante os dez meses previstos em contrato, que poderão ser prorrogados dentro do prazo de cinco anos.

Além da cláusula de confidencialidade para quaisquer tipos de informação, documentos e rotinas, o documento destaca que todo o custo será arcado pela Comunitas, apresentada como responsável exclusiva pela contratação e respectivo pagamento da consultoria.

Por outro lado, apesar do Termo de Doação ter sido firmado apenas com a Comunitas, em audiência realizada com o governador Geraldo Alckmin no dia 5 de setembro, também compareceram membros-líderes de empresas como Natura, Cosan, Itaú e Ultrapar Participações. Em contato com as assessorias da Natura, Cosan e Itaú, o Jornal do Campus não obteve respostas até o fechamento desta edição; já o contato feito com a  Ultrapar foi encaminhado pela própria empresa para a Reitoria, que afirmou estar centralizando toda a comunicação do projeto e limitou-se à reprodução de seu primeiro comunicado.

De acordo com César Minto, presidente em exercício da Adusp, as tramitações foram realizadas sob desconhecimento da comunidade acadêmica, fator suficiente para causar desconfiança em relação aos reais propósitos do USP do Futuro. “Toda e qualquer iniciativa que envolva contratos com a USP deve ser discutidas com a comunidade acadêmica e a sociedade, não apenas com poucos ou muitos ‘ex-alunos’”, afirma Minto. “No que se refere à contratação de qualquer consultoria, causa estranheza o fato de a Reitoria desprezar o recurso a suas próprias unidades, cuja abrangência temática é das mais maiores no país, sendo que há pessoal especializado e competente em todas as áreas de conhecimento”, assegura o presidente.

Por considerar insuficiente todo o conteúdo relacionado ao projeto divulgado até agora, a Adusp encaminhou novo ofício pela a complementação de dados e informações. Respaldado pela Lei de Acesso à Informação (lei 12.527/2011, artigo 7º, inciso IV), o documento estabelece o prazo de até vinte dias para nova resposta por parte dos órgãos oficiais.