Orquestra Sinfônica da USP celebra independência mexicana

Orquestra apresenta repertório que busca colaborar com integração cultural latino-americana
Foto: Luiza Queiroz
Foto: Luiza Queiroz

A Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP) contou com dois convidados mexicanos para as apresentações de outubro de 2016: Jesus Medina foi o regente da temporada e Miguel Ángel Villanueva realizou os solos de flauta. As apresentações, patrocinadas pela Embaixada Mexicana do Brasil, tiveram como objetivo celebrar a data de independência do México com as obras apresentadas pelos convidados – todas até então inéditas no Brasil, com exceção de Suíte Mexicana. A OSUSP apresentou-se gratuitamente no auditório do Centro de Difusão Internacional na USP, e também no último sábado, 1º de outubro, na Sala São Paulo.

A data oficial de independência do México é 15 de setembro – porém, devido ao calendário da Orquestra, os convidados se apresentaram duas semanas depois, em outubro. Mas, mesmo com o adiamento, a independência do país ainda foi o tema central da temporada e, por isso, o repertório da orquestra buscou trazer elementos centrais da cultura e da música tradicional do México. As obras são de autoria de dois compositores, ambos ainda vivos: Eduardo Gamboa e Eduardo Angulo. As apresentações foram divididas em duas partes, com três músicas na primeira e duas músicas na última.

A primeira música tocada nas apresentações foi Fanfarra para Metais e Percussões, uma obra “espetacular, muito boa para abrir o programa”, segundo Medina. Em seguida, o concerto continuou com a obra Jarabe, que também é o nome de um gênero musical mexicano, tradicional do centro do país. “É um estilo muito divertido, muito alegre. O ritmo é um pouco difícil, mas a Orquestra está tocando muito bem”, afirma o regente. Ambas foram compostas por Gamboa, e integraram a primeira parte do concerto. Já a última música da primeira parte, Concerto Nº2 para Flauta e Orquestra, foi composta por Angulo para o flautista Miguel Ángel Villanueva. “Este é um concerto que tem elementos do folclore mexicano mas não com caráter folclorista, é um pouco mais refinado” explica o flautista. “É um concerto que tem como nome Vozes da Natureza e é uma das 8 obras que o compositor escreveu para mim, para flauta e orquestra. Nos últimos anos, tenho me encarregado de  trabalhar com diferentes compositores com o objetivo de gerar repertório mexicano para a flauta como um instrumento solista”.

A segunda parte iniciou-se com Pacífico, canção composta há 26 anos por Eduardo Angulo. O nome da obra tem dois significados: o primeiro refere-se ao nascimento de um sobrinho do compositor, e por isso a música contém passagens que remetem à calma e à tranquilidade de uma criança recém-nascida. O segundo, em contraste, é referência ao Oceano Pacífico, e por isso a obra contém também passagens mais intensas, que representam a imponência do oceano. Em seguida, o programa encerrou-se com a canção Suíte Mexicana, que pode ser considerada uma síntese dos principais estilos musicais do México. É composta por 5 partes, e cada uma é um ritmo tradicional do México: estão presentes o jarabe colimenho, a serenata, o huapango (um ritmo mais típico da costa do país), o vals (duas músicas muito populares no México são do gênero Vals: Sandunga e Cielito Lindo; ambas estão presentes em Suite Mexicana) e a polca, ou polka (música da região norte do país).

Para o flautista Villanueva, a execução das obras com a orquestra da Universidade não foi difícil, mesmo com as diferenças rítmicas entre as canções brasileiras e mexicanas. Enquanto a música do México tem origem espanhola, árabe e indígena, no Brasil a cultura negra tem uma influência muito forte nos estilos musicais. Villanueva afirma, entretanto, que a flauta é um instrumento muito presente nos dois países, por ser bastante versátil, e que a orquestra conseguiu incorporar o instrumento mesmo nunca tendo tocado essas canções:  “O nível [da OSUSP] permitiu que trabalhássemos a música e a apresentássemos ao público da melhor maneira possível, porque todo o programa é feito de estreias, então essas músicas nunca haviam sido tocadas no Brasil”.

Além dos convidados mexicanos, a temporada atual da orquestra sinfônica da USP conta também com dois pianistas russos e um violinista húngaro. “Convidar maestros e solistas estrangeiros é um hábito frequente e saudável em todas as orquestras. É sempre muito enriquecedor tocar com diferentes músicos, e esses convidados também são determinantes para estimular o interesse do público”, afirma Eduardo Monteiro, diretor da OSUSP. Além da diversidade, Monteiro explica que a presença de convidados estrangeiros na orquestra permite criar uma aproximação cultural maior com outros países, e em especial com os latino-americanos. “Procuramos montar uma temporada que seja variada tanto no que se refere ao repertório quanto aos solistas e maestros convidados. Além disso, julgamos importante termos ações que nos aproximem dos outros países da América Latina”.

Para Medina, a própria música latino-americana representa essa integração entre os países, já que, apesar das particularidades e dos ritmos próprios de cada nação, existem traços culturais comuns a todos os povos latinos. “Há uma proximidade muito grande entre México e Brasil, o ritmo, as pessoas. Somos todos latinos, então há algo que sempre nos une”, afirma. “A rítmica, o sabor, as percussões, é algo muito próprio de todos os latinos, e eu acredito que o público desfruta muito de todos os concertos”.