Cepeusp sedia a 15ª Clínica de Capoeira

Além de celebrar o esporte, o evento comemorou 50 anos da prática do mestre Gladson

Carla Monteiro
A programação do evento intercalava rodas de capoeira com mesas redondas e debates sobre o tema | foto: Carla Monteiro

De 21 a 23 de outubro, o Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) e a Escola de Educação Física e Esportes (EEFE) foram palco da XV Clínica de Capoeira. O evento, que reuniu participantes e mestres de todo o Brasil, completou 30 anos de existência. O fundador da Clínica e professor aposentado da USP, mestre Gladson, também estava presente e com um motivo a mais de comemoração: uma trajetória de 50 anos na capoeira.

Com 30 anos de existência, Clínica de Capoeira do Cepeusp se consolida como um dos congressos mais tradicionais de capoeira em todo o Brasil e o mundo. Nesta edição, a organização do evento informou que a Clínica recebeu 250 participantes. Durante os três dias da 15ª edição do evento, as pessoas que participaram do encontro de capoeira tiveram a oportunidade de ter um contato maior com a capoeira enquanto saber cultural e científico.

Foram ministradas palestras e oficinas, apresentações de trabalhos científicos, exposições de projetos sócio-educativos, além das mesas-redondas e bate-papos sobre capoeira, que propunham o debate das perspectivas e desafios da  capoeira. Esses bate-papos foram conduzidos por mestres da capoeira de todo o Brasil, nomes como Mão Branca, Janja, Carlos Eugênio Líbano Soares, Nenel, Brasília, Natanael, Elias, Jogo de Dentro, Chiquinho, Levi, Pombo de Ouro, entre outros, estiveram presentes para enriquecer as discussões e debates no evento. E para ninguém ficar parado, sempre ao final de cada conversa acontecia uma roda de capoeira com muito batuque, jogo, companheirismo e respeito. Nesses instantes, os participantes podiam ver na ativa os mestres tão admirados.

Em sua 15ª edição, a Clínica de Capoeira completou 30 anos. São três décadas de debates e incentivo a essa prática esportiva-cultural que é tão importante para o Brasil. Vinícius Heine, professor de capoeira do Cepeusp, organizador e responsável pela Clínica, comenta que é muito importante o apoio da USP na realização de eventos como esse. Para o professor a união e intersecção de diversos cunhos do conhecimento, porque os saberes históricos, culturais e científicos são complementares e essenciais um ao outro. “O Cepeusp tem essa tradição de muitos eventos em relação à capoeira e é muito importante o apoio. Tem a questão da Universidade se abrindo à manifestação da cultura popular. É o encontro do saber acadêmico com o saber da cultura popular. Esse encontro é muito rico, pois são saberes diferentes que se complementam e se potencializam”, comenta Heine.

O professor Vinícius também fez um balanço sobre o evento, que cumpriu com a sua principal função de aproximar a cultura popular da academia. “Então o Cepeusp tem um papel fundamental quando ele se abre pra esse tipo de evento. A gente traz mestres, que do ponto de vista acadêmico não têm nem a graduação, mas na capoeira são considerados uma referência super-valorizada. Seguindo esse parâmetro, esse encontro é muito positivo”, ressalta. O evento também contou com o apoio da EFEE, onde foram realizadas boa parte das palestras, bate-papos, oficinas e exposição de trabalhos sociais e culturais.  

50 anos do mestre Gladson

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Mestre Gladson é idealizador da Clínica de Capoeira no Cepeusp | foto: Carla Monteiro

Além do marco dos 30 anos de Clínica Capoeira, a XV edição do evento comemorou o aniversário de 50 anos de capoeira do mestre Gladson. Gladson de Oliveira Silva, hoje com 74 anos, é professor aposentado da USP. Conhecido no mundo da capoeira apenas como mestre Gladson, o professor iniciou seus trabalhos como docente na USP em 1972 e tinha como proposta principal aproximar a capoeira do mundo acadêmico e científico. “Enquanto professor de Educação Física, tentei fazer com que a capoeira adentrasse aos portões da Universidade de São Paulo. Não somente a capoeira, mas a cultura brasileira como um todo”, comenta o mestre.

Autor de livros como Capoeira: do engenho à universidade, o mestre Gladson foi ganhando terreno no campo acadêmico e, quando fundou a Clínica de Capoeira, transformou Cepeusp em um centro reconhecido no mundo todo devido às experiências a nível de capoeira. Isso porque a clínica foi instituída como um espaço para troca de conhecimento, cultura, vivências e experiências no âmbito da capoeira. A proposta era de “união dos doutores da universidade da vida aos doutores do academicismo, trazer o saber popular para dentro da universidade. Que é o que falta”, conta o mestre sobre sua principal motivação para criar o evento que completa 30 anos.

O mestre Gladson contou ao Jornal do Campus que não encontrou resistências quando tentou implantar a capoeira o âmbito acadêmico. Para o professor aposentado, a aceitação é bem amparada na ousadia da capoeira enquanto cultura popular e enquanto luta. “Nós mostramos o respeito, a cordialidade, a amizade, o jogar com e não o jogar contra”, salienta alguns valores da capoeira.

Neste ano, no evento que ele idealizou, mestre Gladson comemorou seus 50 anos de capoeira. Verdadeiras bodas de ouro com esporte. Durante o evento, não foi difícil de notar os olhares de admiração e respeito dos participantes quando, porventura, se deparavam com o mestre. Ele sempre com um sorriso no rosto e com disposição para jogar capoeira. Gladson ainda mostrou, todo orgulhoso, os alunos do Porta Aberta, projeto criado pelo mestre que trabalha com crianças e adolescentes do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo. Em meio às crianças, ele ressaltou outro aspecto que considera importante sobre a clínica: “tentamos ajudar o universitário a aprender a estender o braço do conhecimento dele, o acadêmico, aos guetos da vida”.

O professor Gladson já se despediu das salas de aula, mas não vai abandonar as rodas de capoeira tão cedo. Seu discípulo, o professor Vinícius Heine, comenta que se sente muito honrado em poder dar continuidade ao trabalho. “Estou tentando dar continuidade ao legado dele. Substituí-lo é impossível porque ele é uma pessoa única, ele é um grande mestre, uma pessoa incomparável”. E continua, “me sinto com uma grande responsabilidade, ao mesmo tempo muito honrado e muito feliz por estar nessa trajetória junto com ele”.

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foto: Carla Monteiro