Evento de natação na raia é cancelado

A não realização do Meeting expõe problemas e dificuldades dos eventos esportivos na USP

encontro de natação
Victória Soto, responsável pela área financeira da equipe de natação que agrega diversos institutos | foto: Natalie Majolo

Aconteceria, na manhã de sábado, 29 de outubro, o primeiro Meeting Universitário de Águas Abertas, uma competição de natação na Raia Olímpica para nadadores amadores da Comunidade USP e de fora, com percursos de 500m e 1000m. O evento, porém, não se realizou.

Os motivos do cancelamento foram diversos e revelam um pouco dos bastidores da organização de eventos esportivos na Universidade. Victória Soto, responsável pela área financeira do Catadão (equipe de natação que agrega atletas da Física, FFLCH, EEFE, Bio, IME e outros, que organizou o evento) e também ex-tesoureira da Liga Atlética Acadêmica da USP (LAAUSP), explicou ao JC a razão de o Meeting não ter dado certo.

Idealizado por Victória, o custo do evento foi estipulado em R$ 30 mil, que englobaria toda a infraestrutura da premiação à divulgação. Os organizadores conseguiram, através de um edital do Santander pela Pró-Reitoria de Graduação (PRG), autorização para receber apenas R$ 8 mil destinados à compra de toucas e camisetas do evento. Além de a verba ser insuficiente e destinada para um aspecto não fundamental do projeto, não houve quantidade necessária de inscritos e a organização não conseguiu patrocínio a tempo.

Os problemas de infraestrutura que impediram que o Meeting acontecesse não são casos raros. Quem organiza eventos deste tipo na universidade já conhece os desafios de tornar o planejamento esportivo em realidade.

A LAAUSP é responsável por realizar três grandes eventos todos os anos: o BichUSP, feito exclusivamente para os calouros que competiram, em 2016, em 14 modalidades, que acontece no início do ano; a CopaUSP, no meio do ano, e os Jogos da Liga, no final. Todos os eventos têm demandas de comunicação, arbitragem, premiação, som, divulgação e infraestrutura que chegam a custar algumas centenas de milhares de reais, como o BichUSP, que gira em torno dos R$ 300 mil.

Soto explica que esses são eventos tradicionais, já realizados há bastante tempo, e a preparação de cada um começa cerca de dois meses antes da data em que acontecem. Como envolve diversas partes, das equipes técnicas às atléticas, a organização é complexa e as parcerias acabam sendo as mesmas de longa data em que a confiança já existe.

Dos três, apenas o BichUSP é financiado pela Pró-Reitoria, que custeia todos os gastos através da apresentação das notas fiscais emitidas. Os outros dois eventos têm que ser completamente pagos pelas atléticas participantes, e este é o maior desafio. Até 2015, a Copa USP também era custeada pela PRG, mas a verba foi congelada este ano. “Definitivamente, a parte financeira é a mais complicada. Praticamente não conseguimos patrocínio, e a cancelamento do financiamento da Copa USP pela Pró Reitoria [assunto tratado pelo JC na edição 458] deixou a Liga em maus lençóis”, explica Soto.

Outro problema que houve este ano foi a reserva de espaço. Como os tetos dos módulos do CEPE estavam sendo reformados, a organização teve que buscar outros locais para a realização das partidas. “Os jogos de basquete e vôlei estão acontecendo na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE USP) e tivemos problemas de comunicação com eles no início”, conta Soto, e “os de futsal e handebol acontecem no Clube Escola Mané Garrincha, na Zona Sul. É uma quadra pública, e estamos sempre negociando quais as datas disponíveis. Mas a prioridade de uso é da prefeitura, e não foram poucas as vezes que simplesmente surgiram eventos deles”. Esse tipo de problema acaba encarecendo o custo dos eventos, já que é necessário encontrar outros lugares que geralmente cobram aluguel maior.

As cerca de 20 atléticas que participam dos campeonatos, que envolvem mais de 3000 atletas, hoje dividem a totalidade dos gastos, situação que ameaça esvaziar as competições esportivas da Universidade.