Antes e depois: esporte universitário em obras

Um ano e meio após promessas, JC volta a falar com diretor do Cepe sobre problemas na estrutura

A Universidade de São Paulo atravessa um período turbulento de sua história, com escassez de recursos e, consequentemente, corte de gastos em todos os seus setores. Dentro desse contexto, o esporte universitário também é afetado devido à precarização de seus espaços. A falta de manutenção e a demora em concluir algumas obras estruturais há tempos desagrada os usuários do Centro de Práticas Esportivas da USP, o Cepeusp.

Na primeira quinzena de novembro de 2015, a edição de número 449 do Jornal do Campus trouxe duas matérias sobre a desgastada estrutura em que se encontrava o Cepe. Em uma, “Cepe clama por reformas estruturais…”, o texto chama a atenção para a falta de preservação do espaço, que origina buracos, rachaduras e abandono no centro ― situações que dificultam muito a prática de esportes pelos uspianos. Na seguinte, “… e diretoria responde com projetos”, o diretor do Centro, Emílio Antonio Miranda, prometia uma série de planos elaborados e melhorias na estrutura do lugar.

Após um ano e meio, a reportagem do Jornal do Campus retornou ao Cepeusp para conferir  se os problemas relatados permaneceram e se os projetos prometidos pelo diretor foram, de fato, concretizados.

Velódromo

Na edição 449 do JC, Emílio Miranda afirmou que tinha por objetivo recuperar o espaço do velódromo, construindo uma quadra no centro da estrutura. A equipe do JC foi até o local e constatou que a estrutura interna do velódromo segue muito precarizada e não houve alterações no piso da quadra. Mesmo assim, algumas equipes da USP seguem utilizando o espaço para realizarem seus treinos. É o caso do time de beisebol do IME, como conta Gabriela Taminato, aluna e integrante da equipe. “O concreto do piso do velódromo estraga o nosso material”, conta. “Não é nem de perto o lugar ideal para treinar. Usamos aqui fora do horário de reserva devido à falta de espaços”.

A partir das 17h30, a LAAUSP, Liga Atlética Acadêmica da Universidade de São Paulo, distribui o espaço através de um rodízio de reservas para as demais equipes da USP. Antes desse horário, a utilização do espaço é livre.

Em nova entrevista concedida por Emílio Miranda, para esta edição do JC, o diretor conta que o Cepe ainda está no mercado em busca de parceiros que tornem viável a recuperação do velódromo. “São coisas que às vezes demoram por se tratarem de Parcerias Público-Privado (PPP), mas estamos correndo atrás. Infelizmente, a burocracia atrapalha um pouco o andamento do processo”. Emílio ainda revela que algumas empresas chegaram a demonstrar interesse no projeto, porém nenhuma das negociações obteve sucesso.

Mesmo com promessas de recuperação, velódromo do Cepeusp continua com estrutura antiga e degradada. Foto: Álvaro Logullo Neto
Mesmo com promessas de recuperação, velódromo do Cepeusp continua com estrutura antiga e degradada. Foto: Álvaro Logullo Neto
Aquecimento das piscinas

Emílio afirmou em 2015 que esperava “boas notícias em breve” com relação ao aquecimento da piscina olímpica. A equipe de reportagem do Jornal apurou com usuários que até hoje nada foi feito sobre o assunto. O diretor explica. “Tivemos encontros recentes com empresas interessadas que entregaram os orçamentos. Ainda não foi feito o aquecimento porque havia uma discussão de qualidade: a melhor proposta que apareceu é uma que mistura aquecimento elétrico com solar”. O próximo passo agora é desenvolver o projeto. Emílio espera conseguir concluir essa obra até o fim de seu ciclo como diretor do Cepe, em 2018.

Quadras e Academia

Em novembro de 2015, o diretor relatou ao jornal que o orçamento para refazer as  quadras externas 1 a 6 já estava pronto, entretanto as obras nos módulos (quadras internas) haviam atrasado o projeto. Comentou também a respeito da previsão de reforma das quadras 1 e 3 de tênis e sobre o interesse de uma empresa em realizar um projeto referente à academia dentro do Cepe.

Um ano e meio depois, o JC voltou a questionar o diretor.  “O que conseguimos nesse período foi toda a troca do telhado e da iluminação dos módulos”, conta. “ A previsão de término das obras é em julho, porque haverá uma reforma nos pisos das quadras.”

Segundo Emílio, as quadras 1 e 2 que eram de madeira serão substituídas por piso sintético, igual às quadras 3 e 4. No local onde eram praticados o judô e a ginástica olímpica, haverá a colocação de um grande tatame, e a quadra de ginástica será retirada e substituída por uma multiuso que comporta a prática de diversos esportes, como vôlei e badminton. “A ideia é que se torne um ginásio muito mais moderno e utilizável”, esclarece.

As obras, que se encontram paradas devido a um problema jurídico envolvendo informações no edital, devem retornar logo. A previsão inicial era de inauguração dos módulos no início do ano para as competições do Bichusp (Campeonato de calouros da USP), porém esse imprevisto comprometeu o cronograma.

Com a inauguração dos módulos, o intuito é que o projeto para restauração das quadras externas seja recuperado. Já com relação às quadras de tênis, um clube havia demonstrado interesse em participar da reforma, no entanto as conversas não foram adiante. A academia na raia também possuía um projeto através da LIE (Lei do Incentivo ao Esporte) que não teve sucesso por falta de patrocínio e problemas com os prazos., segundo o diretor Emílio. A academia dentro do Cepe foi inaugurada em agosto do ano passado, através de uma parceria entre o Cepe, o Banco Santander e a empresa MUDE, como conta a matéria da página seguinte.

Emílio revela que a crise econômica do país  torna muito mais difícil a realização de obras, em qualquer âmbito. No Cepe não é diferente. “Temos tido sucesso na captação de recursos através do aluguel de nossos espaços para corridas, eventos externos. Nossa estrutura é muito chamativa, está havendo mais procura por ela, então devemos saber aproveitá-la”, conta. “Estamos conseguindo levar. Lógico que não na velocidade que gostaríamos, mas houve, sim, melhorias”.

Fim dos treinos estendidos

Nos últimos dias, uma nova dificuldade atingiu os alunos da USP que buscam praticar esporte na universidade: o Cepeusp anunciou o fim dos treinos estendidos, que ocorrem entre o período das 21h30 e 23h15.

Desde outubro do ano passado, as equipes da USP estavam impossibilitadas de treinar no período noturno devido a um problema na rede elétrica do cepeusp. Emílio afirma que o conserto da iluminação já está em fase final: “Era para ter ficado tudo pronto agora na sexta-feira (17/3), porém houve um novo curto-circuito, mas já estamos cuidando dele”.

Entretanto, mesmo após o término das reformas, os times não poderão ficar além do horário das 22h, quando o Cepe fecha. “O horário estendido só era possível porque um funcionário nosso ficava de forma espontânea até mais tarde. Esse funcionário saiu agora no PDV (Plano de Demissão Voluntária)”, explica Emílio. “Está para ser implantado o ponto eletrônico também, então tudo isso são medidas que vão impedindo que seja possível estender o horário.”

O Cepeusp agora estuda as alternativas para o retorno dos treinos estendidos: “Temos que rever isso, encontrar algum outro funcionário que se disponha a ficar além do horário”. O diretor afirma ser inviável deixar um aluno ou membro da LAAUSP como responsável por desligar as luzes por “questões de segurança”.

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Problemas com rede elétrica do Cepeusp atrapalham treinos noturnos. Foto: Álvaro Logullo Neto

Enquanto isso, as equipes sofrem para conseguir treinar durante o período da noite. É o caso da equipe de handebol feminino da FFLCH que está treinando no velódromo enquanto o problema da iluminação não é solucionado. “O piso está muito ruim, ainda com resquícios de festas que aconteciam aqui”, relata uma das atletas que não quis ter o nome revelado. “Não temos reservas de locação, a LAAUSP é que divide as quadras para podermos usá-las. Outros times acabam tendo que procurar quadras fora do Cepe”.