IQ cria novos compostos de combate ao câncer

Os mais promissores podem causar menos efeitos colaterais do que medicamentos hoje no mercado

Pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP desenvolveram compostos contendo íons metálicos que podem ajudar no combate ao câncer. Por meio de testes em laboratório com células de rato e, posteriormente, humanas, a equipe verificou que as substâncias atacam preferencialmente células tumorais, preservando as sadias. O estudo foi liderado pela professora Ana Maria da Costa Ferreira, com participação de alunos de graduação e pós-graduação.

Os candidatos a medicamentos podem servir como uma alternativa à cisplatina e correlatos, únicos metalofármacos remédios que contêm metais em sua composição aprovados para tratar câncer pela Food and Drug Administration, órgão do governo americano. Segundo a pesquisadora, os compostos desenvolvidos pela equipe apresentam a vantagem de atacar diversas células tumorais, incluindo resistentes, sem provocar inflamações.

A pesquisa é parte de um projeto temático do Redoxoma, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) mantidos pela USP com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O grupo testou diversos compostos, mas os principais contêm cobre ou zinco. Ambos metais são chamados de “essenciais”, pois estão  presentes naturalmente em proteínas e enzimas.

Entenda a ação do composto. Arte: Catarina Ferreira

A equipe verificou que compostos contendo metais essenciais podem atacar doenças, como câncer. Além disso, por serem conhecidos pelo organismo, nosso corpo sabe como absorvê-los, armazená-los ou excretá-los, diminuindo efeitos colaterais. “Esse é o problema da platina. Ela não está no nosso organismo, por isso causa tantos desconfortos”, afirma a professora Ferreira.

Os compostos são preparados a partir da isatina, substância também presente no organismo, à qual são adicionados íons metálicos. Os mais promissores contêm cobre em sua composição. A nível celular, eles agem, principalmente, sobre o DNA e a mitocôndria, provocando a apoptose um processo não-inflamatório no qual a célula se autodestrói.

Apesar de atacar todos os tipos de célula, o grupo verificou que a quantidade necessária da substância para matar uma célula sadia é maior do que para a tumoral. “Para ser eficaz, ele tem que matar mais células cancerígenas do que outras”, explica Ferreira. O controle da concentração a ser ministrada é a chave para que, se transformado em medicamento, o composto preserve células sadias.

Outra preocupação da equipe era o uso do potencial tratamento a longo prazo, já que medicamentos como a cisplatina provocam resistência. Testes realizados com Sacoma Uterino Humano, um tipo de célula tumoral, em suas versões normal e resistente, indicam que os compostos de cobre são capazes de atacá-las com a mesma intensidade.
Apesar dos resultados positivos, Ferreira ressalta que ainda não foram feitos experimentos com pacientes. “Há uma série de testes pelos quais eles precisam passar antes que se tornem medicamentos”, conclui.