Circulares: apenas laranjas, sempre lotados

(Foto: Carolina Marins)

O movimento é constante na hora do almoço. Uma fila se forma rapidamente, cerca de 30 ou 40 pessoas, em frente ao ponto de ônibus da linha 8012 (Circular 1), de cor laranja, saindo do Terminal externo ao Metrô Butantã. Alguns minutos depois, todos a bordo, ele sai lotado em direção à Cidade Universitária. No mesmo lugar, outro ônibus estaciona e logo uma nova remessa de passageiros também embarca, não sem antes esperar os cobradores que fazem a troca de turno contabilizarem o número de passageiros da viagem anterior.

É o caso de Rose*, cobradora da linha há quatro anos e que acompanhará as  próximas sete viagens do Circular 1 na parte da tarde. Seu colega entrega a contagem, até aquele momento a catraca foi girada 789 vezes. “Isso porque o número de alunos não está completo essa semana, por conta do feriado” conta, “Em dias normais, chega a 900, 1.200 passageiros por viagem. E não é só aluno, não. Tem as pessoas que trabalham, que fazem tratamento no Hospital Universitário, na Odontologia…”

A superlotação da linha, como ela explica, ocorre sempre nos horários de pico: das 7h às 10h e 12h às 14h; a partir das 18h e depois das 22h o fluxo é ainda maior, mas varia dependendo do dia. Nesses horários rodam os 9 ônibus disponíveis. Ao todo, contando também os da linha 8022 (Circular 2), são 18 carros na frota. Nem assim a demanda por transporte consegue ser suprida e as filas crescem, chegando a dar a volta na estação Butantã e entorno.

“Para atender à demanda da USP teriam que ser mais ônibus, mas a própria estrutura do terminal não comporta um número maior. Não há espaço para todos”, comenta Rose. Ela se refere à rua de acesso ao terminal a partir da Av. Vital Brasil, a única entrada para carros e coletivos antes do cruzamento da avenida com a Rua Pirajussara. É ali onde ficam alocados os circulares, revezando o espaço da via entre os que chegam para desembarcar e aqueles estacionados esperando a saída, além de outras linhas que passam por ali.

Quando foi inaugurado em 2011, o Metrô Butantã era originalmente previsto como parte das quatro estações da Linha 4 – Amarela que abrigariam um terminal de ônibus. O principal deles seria localizado na estação Vila Sônia, com conclusão prevista para 2014. Três anos depois, com o projeto ainda inacabado, as frotas destinadas ao pátio Vila Sônia foram sendo realocadas para aqueles já existentes, motivo pelo qual o Terminal Butantã atende mais ônibus do que previsto originalmente. Segundo fiscais da Viação Gato Preto, responsável pela manutenção dos circulares, o forte trânsito das ruas em torno do terminal e as filas muito grandes impedem que todos os ônibus cheguem e saiam na hora certa.

“Não há muito o que a gente possa fazer”, diz Rose. “Na minha opinião, os alunos deveriam se juntar e ligar no 156. Somente a SPTRANS pode fazer um estudo na necessidade de mais linhas e a Reitoria da USP também precisa solicitar”.

Velho problema Em busca de ganhar mais tempo nos horários de pico, é comum ver pessoas desistindo da fila para fazer a pé o trajeto de 1 km até o Portão 1, na Av. Afrânio Peixoto. A magrela também é aliada na fuga das lotações e do trânsito, uma vez que as ciclovias espalhadas por São Paulo aumentaram a adesão da bicicleta como meio de transporte. No entanto, segundo dados do site da Prefeitura do Campus, apenas 2,6 km de ciclovias estão espalhadas pela Universidade, número ínfimo em comparação aos 60 km de malha viária destinada para carros e coletivos.

Para os pedestres, caminhar é uma difícil tarefa com calçadas irregulares espremidas entre os estacionamentos e avenidas com poucas faixas de travessia. Quem se aventura, aproveita para fazer exercícios; a paisagem é um deleite aos olhos. À tarde o fluxo de pedestres é constante, mas conforme a noite cai, a recomendação é que se evite andar pelo campus, principalmente sozinho. Os escassos pontos de iluminação, frequente solicitação da comunidade USP, também tornam o ambiente hostil durante a noite.

Há quem fuja à regra. Danilo Bernadineli, estudante de Física, afirma que é uma experiência interessante dar um giro na USP lá pela 1h da manhã. “ Fica mais fácil se tiver um amigo no CRUSP para pernoitar ou morar por perto, mas é impagável a sensação de pedalar de madrugada. É como ter a Praça do Relógio só pra você”. O JC adverte: apesar de prazerosa, a atividade pode ser arriscada e não deve ser praticada sem as devidas medidas de segurança. Para ele, a insuficiência de bicicletários e a precariedade dos paraciclos existentes é também fator de exposição para roubos e furtos.

ACESSO: Além dos circulares, cruzam a Universidade outra sete linhas municipais e uma intermunicipal, além da entrada de pedestres. Confira o mapa abaixo:

(Imagem: Leticia Fuentes)