Estudo sobre zika analisa efeitos do vírus na placenta humana

Laboratório de Expressão Gênica em Eucariotos, no Instituto Butantan (Foto: Catarina Ferreira)

 

De acordo com os resultados do estudo, filhos de gestantes infectadas pelo zika durante o início da gravidez têm mais riscos de nascerem com problemas de saúde, como a microcefalia, do que filhos de mulheres que contraíram o vírus após o primeiro trimestre da gestação. A pesquisa internacional tem participação do bioquímico Sergio Verjovski-Almeida, professor no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ/USP) e pesquisador no Instituto Butantan.

A observação do comportamento celular da placenta ocorreu a partir de um modelo experimental, feito na Universidade do Missouri, composto de células-tronco embrionárias reprogramadas, que mimetizam a placenta do primeiro trimestre da gestação. Os resultados da análise foram publicados, no último dia 13 de fevereiro, na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).

De acordo com o estudo, a placenta primitiva apresenta um ambiente favorável à entrada do vírus, isso acontece pois suas as células ainda não apresentam defesas imunológicas totalmente formadas. O pesquisador ressalta também a presença de células denominadas receptores de ligação, muito expressos na placenta primitiva (até o terceiro mês da gestação), que servem como uma espécie de “porta de entrada” para o vírus, pois ele se conecta ao receptor para ter acesso ao órgão.  

São receptores utilizados pelas células placentárias para fazer sinalização do seu desenvolvimento, são receptores de kinases, mas os vírus ‘roubam’ esses receptores para ter acesso à placenta.” explica Almeida. O pesquisador chama atenção para o fato de que os cinco receptores descritos no artigo estavam muito expressos na placenta primitiva, diferentemente do que se identificou na placenta madura.

A placenta em formação também produz proteínas diferentes das proteínas produzidas por uma placenta madura, outro fator que favorece a entrada do vírus no órgão. Pois, essas proteínas se conectam aos receptores para fazer a comunicação com o interior da placenta.  A diferença quantitativa entre a presença dos receptores de kinases e das proteínas em uma placenta primitiva e uma placenta madura pode chegar até ultrapassar 50 vezes.

Com o desenvolver da gestação, a placenta apresenta um cenário muito diferente, que impede o contato direto entre o vírus e o feto. Segundo o pesquisador, além de uma proteção imunológica já constituída, as células da placenta madura não expressam os mesmos genes responsáveis por codificar as proteínas que os vírus utilizam para entrar no tecido do feto. Almeida acredita que haja a possibilidade de desenvolver um soro que possa impedir a ligação entre o vírus e o feto, porém ressalta que deve-se tomar muito cuidado com qualquer tipo de medicação destinada à gestantes.  

ZIKA E MICROCEFALIA

 

A ligação entre o Zika e a ocorrência de microcefalia em bebês de mães portadoras foi comprovada pelo Ministério da Saúde (MS) no final de 2015.  Ainda segundo dados do MS, entre outubro 2015 e junho de 2016, 8.165 foram notificados com suspeitas de microcefalia e outras malformações do sistema nervoso central em recém-nascidos. Em 23,3% dos casos notificados a ligação com o zika vírus foi confirmada, 37% dos casos passaram por investigação para saber se estavam ligados à causas virais e nos demais casos foi constatada a malformação congênita por outro motivo.  

O vírus, quando entra em contato com o feto apresenta um tropismo para o Sistema Nervoso. Almeida explica que as malformações como microcefalia, hidrocefalia, ou deficiências motoras congênitas estão diretamente ligadas à esse tropismo viral, uma vez que em contato com o tecido fetal, o vírus se aloja no Sistema Nervoso.