Exposição no MAC explora diversidade artística

Exposição Desígnios da Arte Contemporânea no Brasil, no Museu de Arte Contemporânea da USP (Foto: Laís Ribeiro)

Em uma sala, um corpo estirado no chão. Na outra, nem o piano se salvou de ser cortado ao meio. E, por falar em piano, o vídeo em que um balde de cera é jogado no interior do instrumento até as teclas soltarem apenas um baque surdo é de doer a alma. Esses e outros exemplos da arte brasileira fazem parte de exibição gratuita no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), onde as obras de nove artistas nacionais exprimem cenas do Brasil e ostentam a pluralidade das artes nacionais para a apreciação do público.

(Foto: Laís Ribeiro)

A exposição Desígnios da Arte Contemporânea no Brasil mistura técnicas tradicionais e alternativas de pintura para retratar as paisagens brasileiras em arranjos arrojados e cativantes, empregando como materiais desde óleo sobre tela até colagens e elementos diversos como um saco de laranja.

A mostra tem curadoria de José Marton, designer, artista multimídia e criador da empresa de economia criativa Marton Estúdios, para quem o ponto alto de Desígnios… é justamente a diferença entre autores. “Eu procurei buscar pelo Brasil artistas com linguagens muito singulares”, explica. “A intenção é que você tem o individual de cada artista para mostrar como e quanto o Brasil é diferente”. De fato, a única semelhança comum a todos os artistas é a presença do país em suas obras.

A série de Alan Fontes sobre a instabilidade da memória tem cores frias, colocando a fluidez das Cataratas do Iguaçu lado a lado às antigas grandes mansões da Avenida Paulista. Em uma instalação de objetos pintados de cinza e fotografias desfocadas em meio a luzes, os quadros ganham um tom surreal, evocando a ausência de substância de uma lembrança.

(Foto: Laís Ribeiro)

No corredor de Paulo Almeida, quem olha para as pinturas pode recebê-las com um estranhamento inicial ao não se ver refletido nelas: as obras mostram o interior de pavilhões e museus como se vistos na reflexão de espelhos. Alguns são feitos em formato circular, à maneira desses espelhos convexos que se vê em lojas de conveniência. “É uma distorção”, comenta Marton. “Ele aborda em crítica como tratamos a arte dentro desses espaços”.

Em cores fortes, tanto Fernando Lindote como Sergio Lucena materializam suas perspectivas quanto à natureza brasileira, embora um use traços fortes e definidos para desenhar personagens e plantas, enquanto outro não usa linhas, apenas um degradê de tonalidades quentes e frias em abstração.

Rodrigo Bivar coloca a Lapa paulista em formas geométricas. Ana Prata mostra o Corcovado carioca com uma beleza singela. Ulysses Bôscolo congela a vida dos pássaros brasileiros. James Kudo expressa movimento em linhas retas. Tatiana Blass alude à violência de acidentes ao ocupar seu espaço com uma escultura que lembra um cadáver coberto com um pano. Por cada uma dessas contribuições, a experiência visual é encantadora, inusitada e enriquecedora. Numa época de constante bombardeamento de informações, é difícil parar e absorver o mundo ao redor do jeito que a arte ali nos permite.

SERVIÇO

As obras ficarão expostas no segundo andar do MAC, das 10h às 18h de terças a domingos, até o dia 30 de julho. Marton espera que os visitantes possam “descobrir o quanto o Brasil tem linguagens complexas e singulares”, apreciando a produção pictórica de brasileiros vindos dos quatro cantos do país.