Luta contra o racismo no Brasil protagoniza livro

Palestra do professor Kabengele Munanga marcou o lançamento da compilação de artigos (Foto: Carolina Marins)

O lançamento do livro A Luta Contra o Racismo no Brasil, que aconteceu no dia 4 de abril, lotou o Auditório Freitas Nobre, no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE). A atração do evento foi a palestra realizada por Kabengele Munanga, professor aposentado do departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), especialista no estudo das culturas e das identidades da população africana e afro-brasileira.

Com artigos de diversos autores e organização do professor Dennis de Oliveira, que também contribui com dois textos, o livro aborda o racismo no Brasil em diferentes temáticas. A violência contra os jovens da periferia, a educação, a cultura, o papel do negro no mercado de trabalho, a atuação de mulheres negras em movimentos sociais e a imigração contemporânea do africano para o Brasil são alguns dos pontos que a obra propõe discutir.

“Cada artigo tem sua especificidade, mas, de maneira geral, a ideia do livro é discutir o racismo como mecanismo estrutural”, conta Dennis. “Ele não é um mero comportamento, e sim um produto da estrutura social brasileira”.

Para o professor, outro aspecto importante que o livro aborda é a limitação das ações institucionais para combater esse mal. “Nos últimos anos, houve um avanço significativo na participação do Estado, com a criação de leis, secretarias e órgãos”, conta. “Mas houve um distanciamento entre os que criam a política, no gabinete, e a periferia. Alguns problemas estruturais permanecem”.

LANÇAMENTO

A capacidade do auditório Freitas Nobre  – cem lugares – foi insuficiente para comportar todos os interessados no livro e na conferência do professor Kabengele Munanga. Natural do Congo, ele fez seu mestrado e doutorado no Brasil, onde vive desde a década de 1970. Como docente da USP, teve extensa participação nos estudos antropológicos com ênfase na cultura africana. Além de ter publicado diversas obras e artigos, orientou muitos alunos de pós-graduação que abordaram essa temática. Também foi um dos mais influentes professores do Centro de Estudos Africanos (CEA), na FFLCH, núcleo que oferece cursos de extensão universitária. Hoje, é professor visitante da Universidade Federal do Recôncavo Baiano.

Em sua palestra, Munanga fez um panorama histórico do negro no Brasil, explicando, por exemplo, como a abolição da escravidão não acabou com as desigualdades e manteve as estruturas vigentes. “Uma abolição jurídica, mas não material”, descreveu o professor.

O ponto central da conferência foi a importância do ensino da história e cultura africana nas escolas brasileiras. “O processo colonial mudou radicalmente a história do continente africano, mas, naturalmente, ela não começou ali. Por que a história da África é negada no Brasil?”, indagou. “Ela é contada sob a ótica europeia, portanto, de maneira distorcida e preconceituosa. O Brasil precisa contar o outro lado da história, o lado do negro”.

Ao descrever para a reportagem do Jornal do Campus a ideia central do livro, Dennis relembrou um argumento usado por Munanga durante a palestra. “Ele nos disse que o racismo é uma ideologia que atinge todos, inclusive os brancos, na medida que cria uma sociedade desigual”, explica. “A ideia do livro conversa com isso. O racismo precisa ser enfrentado por todos que desejam uma sociedade melhor e mais justa. Ele não é um problema pontual da população negra. Ele é estrutural”.