Mulheres conquistam mais espaço na ciência

Pesquisa, no entanto, mostrou que cargos de chefia permanecem majoritariamente masculinos
Coordenadora do Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana (LaBiMPH), Isabel Sacco, que recebeu homenagem do CNPq por sua trajetória acadêmica.
Coordenadora do Laboratório de Biomecânica do Movimento e Postura Humana (LaBiMPH), Isabel Sacco, que recebeu homenagem do CNPq por sua trajetória acadêmica.

Um levantamento publicado pela editora científica Elsevier no Dia Internacional da Mulher (08/03) mostrou que o Brasil é líder em igualdade de gênero na ciência. O estudo, que faz parte do relatório Gender in The Global Research Landscape, revelou que as brasileiras produziram, entre 2011 e 2015, 49% do total de artigos científicos.

Apesar das estatísticas positivas para o país, o estudo aponta o problema de que os textos publicados por mulheres são menos citados do que aqueles produzidos por homens, principalmente em países latinos. Além disso, a quantidade de pesquisadoras muda de acordo com a área de conhecimento. Em enfermagem, por exemplo, o número de artigos com pelo menos uma mulher como co-autora é de 72%, porém cai para 48% nas engenharias.

Segundo Sylvia Gemignani Garcia, professora do Departamento de Sociologia da FFLCH, é preciso ter cautela ao analisar estes dados, pois o crescimento da equidade em uma dimensão pode representar o aumento de desigualdades em outra: “Seria preciso saber em que periódicos esses homens e mulheres estão publicando, considerando que estes, assim como toda a estrutura acadêmica mundial, são altamente hierarquizados internamente”.

Em seu mestrado pela Universidade de Campinas (Unicamp), Marília Moschkovich estudou justamente a desigualdade de gênero na carreira universitária da instituição, revelando, entre outras coisas, que esta não existe de forma sistemática na ascensão ao topo da carreira na pesquisa, mas sim de forma estrutural. Isto pode afetar, por exemplo, a forma com que as mulheres escolhem seguir suas carreiras e influenciar na ideia que os homens são mais competentes para cargos de cunho político.

Líder do maior projeto temático da Faculdade de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da USP (Fofito), Isabel Sacco confessa que já teve que reafirmar sua fala diversas vezes em situações acadêmicas: “Nós mulheres, infelizmente, temos que ficar provando nosso valor e competência muito mais que os homens”.  Sacco também comenta sobre a importância dos modelos femininos na universidade, que servem como inspiração às alunas e futuras pesquisadoras.

 Questão Racial

Eu vejo mulheres no mestrado e no doutorado, mas não vejo mulheres negras” – Mariana Machado Rocha, 30, doutoranda da Faculdade de Educação da USP

Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, aproximadamente 75% das mulheres na pós-graduação no Brasil se autodeclaram brancas. “Este dado mostra que, mesmo com o aumento das mulheres negras na universidade, ainda há barreiras importantes que as segregam dos espaços de produção de excelência do saber científico”, explica a doutoranda em Antropologia Social e militante na Comissão de Cotas e Ações Afirmativas, Jacqueline Moraes Teixeira.

Na USP, estas métricas se repetem: dados levantados em 2015 pela pesquisadora da educação Viviane Silva, junto ao Departamento de Recursos Humanos da Reitoria da USP, mostrou que entre as quase 3 mil docentes mulheres, apenas  37 delas se autodeclararam pardas e 7 negras.

Segundo Teixeira, estes estudos que trazem recortes raciais e de gênero estão modificando gradativamente o perfil da ciência brasileira, porém é necessário o constante apoio da universidade, com políticas de ingresso e auxílio à permanência., para que eles se concretizem de fato.

Números da USP

Na Universidade de São Paulo, apesar das mulheres serem 48,83% dos alunos de graduação, o número de docentes mulheres é de 37,96%, contra os 62,04% de homens, segundo o último anuário estatístico publicado em 2015. Além disso, segundo o relatório ElesPorElas [HeForShe] apresentado pelo Programa ONU Mulheres em 2016, somente 23,7% dos cargos de chefia da USP são ocupados por elas.

Entre três grandes institutos por área (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Faculdade de Medicina e Escola Politécnica), os professores homens ainda são maioria. Na área das as engenharias, que historicamente possuem um menor número de mulheres, uma tendência positiva: dos 49 grupos de pesquisa da Poli, 29 (60%) são formados por diretorias mistas. O Grupo de Estudos de Gênero da Poli, no entanto, afirma que a baixa presença feminina nos cursos (15%) e a competitividade da Escola Politécnica ainda são uma dificuldade para as estudantes.

O Jornal do Campus ainda realizou uma pesquisa interna com mais de 400 estudantes mulheres de diversos cursos e campus da USP.  Aproximadamente 31% delas têm certeza que seguirão carreira acadêmica e mais de 65% dizem ter conhecimento sobre as pesquisas feitas por mulheres de seus respectivos  institutos. Além disso, o levantamento mostrou dados contrastantes entre a percepção de igualdade de acesso e o sentimento de machismo no ambiente acadêmico:

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