Contra as Reformas, Greve Geral chega à USP

(Foto: Victória Damasceno )

A Universidade de São Paulo aderiu, na sexta-feira, 28 de abril, à Greve Geral convocada pelas centrais sindicais e movimentos de esquerda. Um comitê formado por entidades de dentro e fora da USP bloqueou o acesso ao portão principal do Campus Capital. O ato terminou por volta das 14 horas, após os estudantes tentarem derrubar a grade instalada na Escola de Comunicações e Artes, o que provocou a ação policial. Alguns manifestantes saíram feridos, incluindo o advogado do movimento estudantil, Filipe Moraes, além de dois policiais. O estudante da Faculdade de Economia e Administração, Gabriel Martins, foi detido, acusado de lesão corporal contra os policiais e dano ao patrimônio público.

No dia 28, às 6 horas da manhã, o Comitê da Zona Oeste pela Greve Geral fechou a Rua Alvarenga, que percorre a entrada do portão 1 da Cidade Universitária. O grupo então seguiu pela Avenida Vital Brasil, rumo à ponte Eusébio Matoso, trajeto este que já havia sido informado à polícia militar. Às 10 horas, os manifestantes atearam fogo em pneus na entrada da ponte. Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho, neste momento a polícia tentou dispersar os manifestantes com jatos de água.

O grupo decidiu retornar à USP e finalizar o ato em frente ao prédio da reitoria. De volta à universidade, os estudantes se dirigiram à grade colocada ao redor dos espaços de convivência da ECA durante as férias de dezembro. Os alunos então tentaram retirar a grade que, segundo eles, fere o direito de livre circulação dentro do espaço público. Novamente a polícia interviu com o uso de bombas e a presença ostensiva da força tática. O diretor do Sintusp ressalta que apenas estudantes estiveram envolvidos no episódio da grade, pois a participação de funcionários acarretaria demissão por justa-causa.

Foi durante a ação que o estudante do curso de Administração da Faculdade de Economia e Administração, Gabriel Martins, foi detido e levado ao 93º DP do Jaguaré. Na delegacia foi registrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), que é quando a infração é considerada de menor potencial ofensivo, por lesão corporal aos policiais; e um Boletim de Ocorrência por dano qualificado consumado, feito tanto pela polícia quanto pela USP, que pode virar um inquérito policial. O estudante conta que os policiais lhe acusavam de ter ferido dois policiais, sendo um deles no olho.

“Um deles pulou de cima da grade direto em mim e já começou a me bater ali mesmo. Apanhei no chão, apanhei com algemas, apanhei na viatura, de várias formas, por vários policias, até por Kobans”, conta. O Koban é modelo de policiamento comunitário implementado na USP em 2015, mediante acordo com a Polícia Militar. À época o comandante Kenji Konishi, responsável pelo programa, afirmara à Folha de São Paulo: “a PM na USP de maneira alguma interfirirá em manifestações”.

Após o registro do TCO e do BO o estudante foi liberado e aguarda pelo encaminhamento. “O tempo todo que estive com os policiais sofri pressão psicológica. Eles diziam que eu iria perder o meu curso, cheguei realmente a pensar que seria jubilado da faculdade”

Alguns manifestantes também foram levemente feridos durante a ação na grade, entre eles o advogado do DCE Livre da USP, Filipe Moraes, que teve a perna atingida por estilhaços de bombas. Segundo informações de estudantes, dois policiais também sofreram ferimentos, tendo sido um deles atingido no olho.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que manifestantes arremessaram pedras contra os policiais. Sobre o estudante detido a secretaria afirmou: “Houve relatos de depredação e dano, e um manifestante, de 22 anos, foi detido. Ele reagiu à abordagem policial e foi necessário uso moderado de força policial. Dois PMs e o estudante tiveram ferimentos, foram encaminhados ao Hospital Universitário e liberados após atendimento médico”.

Após o ato na ECA os estudantes se dispersaram pelos institutos próximos, muitos deles indo rumo à FFLCH, onde a estudante de Ciências Sociais e membro do DCE, Gabriela Freller, conta que houve um cerco feito por policiais. “Um policial chegou a chutar a porta do prédio das Sociais, que estava fechado. Os estudantes se espalharam pelo vão da história, onde ficaram cercados”, afirma. Ainda que não tivesse participado da ação na Escola de Comunicações e Artes, um estudante secundarista se feriu durante o ato. As lideranças estudantis atribuem a fatura no punho do estudante à repressão policial.

Procurada pela reportagem do JC, a Reitoria não quis se pronunciar sobre o caso.

Direitos trabalhistas

A Greve Geral convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo é contra a reforma trabalhista, aprovada no Congresso e a reforma da previdência, ainda em tramitação. Os alunos, funcionários e docentes da USP aderiram à paralisação e marcaram presença tanto no ato pelo bairro do Butantã, quanto no ato unificado no Largo da Batata, em Pinheiros.

Foi organizado, para o ato do dia 28, o Comitê da Zona Oeste pela Greve Geral, formado por entidades da USP como Sintusp, Adusp e DCE, além de entidades de fora da universidade, como moradores da comunidade São Remo.

O comitê organizou um “corujão” para que estudantes, funcionários e demais participantes pernoitassem na universidade a fim de participar das atividades no dia seguinte. Foram utilizadas as instalações do Sintusp, do Espaço Verde das Ciências Sociais, do prédio da Pedagogia, da Creche Oeste (atualmente ocupada) entre outros, para abrigar os manifestantes. Segundo o DCE Livre da USP, 47 cursos da capital e do interior aderiram ao chamado da Greve Geral.

Tanto Magno de Carvalho quanto o presidente da Associação de Docentes da USP (Adusp), César Minto, reforçam a importância da participação da Universidade de São Paulo na luta contra as reformas trabalhista e da previdência. “Foi feita uma pesquisa pelo Datafolha que mostra que mais de 70% das pessoas são contra a reforma da previdência. O governo argumenta que as pessoas não entenderam a reforma, mas acontece que essas reformas tiram direitos dos trabalhadores”, explica César Minto.

(Foto: Jonas Ribeiro de Santana)