Crise financeira atinge esporte universitário

(Foto: Álvaro Logullo Neto)

Álvaro Logullo Neto com Mateus Feitosa

O ano de 2017 tem sido difícil para as atléticas da USP. O contexto de crise, associado à falta de recursos providos pela Universidade e as escassas fontes de lucros encontradas, impedem que o incentivo ao esporte seja o adequado, tanto para os atletas quanto para as entidades que sustentam essa estrutura.

Larissa Napoli, presidente da Atlética FAU-USP, expressa sua preocupação. ”Até o ano passado tínhamos um caixa muito bom, este, porém, está especialmente difícil. Nossa meta é terminá-lo como começamos, sem maiores prejuízos”. Até o final de 2015, os custos da atlética com comissões técnicas, campeonatos e inscrições giravam em torno de 47 mil reais. Em 2017, entretanto, esse valor já beira os 80 mil.

Além do aumento dos salários dos técnicos promovido pela Atlética, outro fator responsável pelo crescimento considerável dos gastos relaciona-se à crise enfrentada, atualmente, pela Laausp (Liga Atlética Acadêmica da USP), entidade  encarregada pela organização de campeonatos pela Universidade e que é financiada pelas próprias entidades.

Em 2015, foi acertada uma parceria entre a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) e a Laausp para o financiamento de competições universitárias, como afirma a Comissão Executiva da Liga. “Em 2015 e 2016, os custos do Bichusp foram completamente financiados pela PRG. Em 2016, havia um projeto de financiamento de todo o primeiro semestre da Liga: Bichusp, Copa USP, além da compra de materiais extras”.

No entanto, no mesmo ano, a PRG retirou o apoio, devido à problemas financeiros que atingiram a instituição. Desde então, cortes foram feitos por parte da Liga para reparar o rombo que ultrapassou 100 mil reais, também de acordo com a comissão executiva da Laausp. “A gestão atual assumiu o compromisso de saldar o resto dessa dívida. Hoje, ela está em torno de 17 mil reais e pretendemos trabalhar em parceria com as atléticas para quitá-la”.

Sem o incentivo financeiro da Pró-Reitoria, a Laausp teve de arcar com os custos dos campeonatos, porém sem dispor de recursos para suprir todas as despesas. Esse fato acabou por refletir-se nas Atléticas da USP, pegas desprevenidas por gastos que não esperavam ter ao longo do ano. Somado a isso, a Laausp vem encontrando dificuldade em reservar quadras para torneios. Com módulos em reforma e o recente impedimento de utilizar o espaço disponibilizado pela Escola de Educação Física e Esporte (EEFE-USP) devido a problemas disciplinares, isso representa mais prejuízos à instituição e, eventualmente, às atléticas.

Nicolas Hue, atual presidente da Atlética Poli-USP, no entanto, observa que as dificuldades financeiras não são apenas fruto desse atual momento conturbado da Universidade. “ Não existe atlética rica, existe uma que está sofrendo menos que a outra”. Nicolas ainda comenta que os inícios de ano são sempre muito difíceis, pois são repletos de gastos e o período de férias não rende lucros. Para superar esses problemas, a atlética se ampara em um diálogo bem sucedido com a diretoria do Instituto, incentivando eventos e sem estipular barreiras muito significativas para a realização destes.

Entretanto, o que se enxerga na Universidade são realidades distintas entre as atléticas. No caso da FAU, Larissa pontua que não pode contar com o incentivo da direção da Faculdade. “Nossa relação é zero, com perspectiva muito baixa e limitada de diálogo. Sempre nos preparamos para um cenário em que não contamos com um amparo de nossa diretoria”. Convivendo com a atual escassez de incentivo, a Entidade estuda alternativas para lidar com o problema financeiro. Uma delas se resume a aumentar o repasse feito pelos atletas a faculdade, além de focar nas vendas de mais produtos e organização de eventos.

Dentro de um cenário de crise econômica e busca por alternativas para contornar os obstáculos colocados por esta, parece ser consenso entre ambas atléticas de que a Laausp tenta fazer o possível para manter um incentivo eficiente ao esporte universitário.”Tentamos ser compreensíveis com a situação atual da Laausp, afinal estamos passando por uma semelhante no quesito financeiro”, afirma Larissa. No entanto, a presidente traz algumas ressalvas ao modo de operar da liga.” Creio que as atléticas maiores ainda exercem maior influência nas decisões por uma questão sistemática, algo que se reflete na distribuição das reservas no Cepe”.

Papel das Atléticas

Uma atlética tem por objetivo fomentar o esporte e promover a integração dos alunos, como reforça Nicolas:” É uma válvula de escape, algo que ajuda o estudante a aliviar o estresse proporcionado pelo cotidiano da universidade”. Neste sentido, as atléticas concebem como essencial o incentivo ao esporte. Para os membros da Laausp, trata-se de algo maior que isso: são compreendidas como entidades de representação estudantil, que podem colaborar com temas como a permanência nos cursos por parte dos alunos. “Dessa forma, temos como proposta zelar por elas e pelos valores do esporte”.

A perspectiva é de que as dificuldades se estendam ainda por um algum tempo, até que a Laausp consiga se reestruturar plenamente e trabalhar para reverter um cenário cujo um dos maiores prejudicados é o esporte universitário. Enquanto isso, as atléticas tentam se sustentar encontrando alternativas para suprir a falta de amparo da liga e permanecer atuando.
Como funciona a LAAUSP?

Fundado em 1970, a Liga Atlética Acadêmica da USP (LAAUSP) atua na organização dos campeonatos realizados na USP e tem como objetivo principal incentivar o esporte na Universidade.

Sobre a estrutura interna, a LAAUSP é subdividida gestões e em comissões com obrigações diferentes: A Diretoria Executiva é composta por alunos voluntários, como nas gestões das atléticas, com a diferença que esses alunos provêm de diferentes IES (Institutos de Ensino Superior).

Com relação às comissões, são três no total: o Conselho de Presidentes (CdP) é responsável por convocar reuniões nas quais são decididos os passos e posturas da Liga. Das reuniões do CdP participam todas as atléticas associadas. Tratasse de um órgão soberano e os resultados dessas assembleias devem ser seguidos pela gestão. A Comissão Disciplinar, responsável por punir casos de irregularidade e/ou indisciplina, seguindo para tal os regulamentos dos campeonatos e o estatuto da liga.  O Conselho Fiscal, acompanha e fiscaliza as contas da Liga.

Os membros diretores das comissões são indicados pelas atléticas mediante ofício entregue à LAAUSP na primeira reunião do CdP do ano. Nessa mesma reunião, os membros dessas comissões são eleitos.