Incentivo à leitura é promovido entre funcionários

 

(Foto: Maria Helena da Nóbrega)

Na última quarta-feira de abril, os funcionários da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto participaram da primeira aula do curso Proficiência na Leitura e Competência na Escrita: práticas contextualizadas para o desenvolvimento profissional, coordenado e ministrado pela professora Maria Helena da Nóbrega e viabilizado pela Comissão de Cultura e Extensão da FFLCH.

Essa é a primeira edição do curso que visa incentivar e desenvolver o hábito da leitura entre os funcionários da Universidade: “Geralmente, o usuário que quer se aprimorar na Língua Portuguesa procura aulas de gramática, análise sintática”, conta Maria Helena. “Contudo, uma produção escrita bem sucedida está relacionada principalmente à leitura. A pessoa usa regras gramaticais sem nem saber explicar a regra daquela determinada vírgula, por exemplo, mas porque ela lê. E, na verdade, ela nem precisa saber tal regra, porque ela é apenas usuária da Língua”, declara.

O objetivo é fazer com que, antes de chegar à sintaxe, o sujeito tenha contato com outras áreas da língua essenciais não só para uma boa alfabetização, como para sua formação enquanto cidadão. As ferramentas de leitura e escrita são a melhor alternativa, como defende Maria Helena.

O curso, dividido em dez aulas, é feito com a participação direta dos alunos. “Na nossa próxima aula, cada aluno vai levar um livro ficcional em prosa. Os livros não serão identificados, são anônimos. Vou distribui-los entre os colegas e, depois de ler o que lhe foi entregue, o aluno fará uma resenha”, explica a professora. “As duas frentes, então, são a escrita e a leitura. Mas saímos da leitura para escrever, ao invés de partir da gramática, da análise sintática da frase ‒ isso não faz sentido”, complementa.

A professora esclarece que o intuito é também ampliar o repertório cultural dos participantes, pois, segundo ela, esse é um dos principais requisitos para uma boa escrita. Além disso, o próprio ato de ler tem conceitos pouco explorados, que o curso pretende explorar, como o modo como se lê, a concentração, a leitura dinâmica e a memorização, bem como suscitar debates do que é ou deveria ser um leitor proficiente.

“Trabalhar a leitura do não verbal também está no nosso cronograma”, afirma. “Aí eu lembro muito de Paulo Freire que fala da leitura do mundo. Ler o mundo antes de ler as palavrinhas. Se você consegue fazer essa leitura, você vai ganhando uma competência da leitura de si mesmo, um autoconhecimento. Que é o que efetivamente precisamos na sociedade”, conclui Maria Helena.

Não só uspianos

Proposta semelhante é desenvolvida pelo Projeto Redigir, sediado na Escola de Comunicações e Artes. O que nasceu como um curso de redação transformou-se, aos poucos, inspirado também pelos ideais educacionais de Paulo Freire, em um projeto de comunicação e cidadania.

Destinado a pessoas de baixa renda, o cronograma estende-se por cinco meses em aulas semanais. Heloísa Iaconis, educadora e coordenadora pedagógica, conta que o projeto é fundamentado sob a lógica de que o ato de ler é uma das melhores formas que o indivíduo possui de ter uma visão mais empática com o mundo: “Percebo que a promoção da leitura é também a promoção da própria democracia, posto que deixa o cidadão livre e independente para que ele pense por si só”, afirma. A prática, portanto, possui também um caráter emancipatório.

Indo na mesma linha pedagógica proposta pela professora Maria Helena, os educadores do Redigir apresentam aos alunos o universo do livro e, como forma de incentivá-los a criar intimidade com o material, propõem uma resenha pós-leitura. “Eles se sentem mais empoderados a partir do momento em que descobrem que não é preciso ter medo de um livro ou de autor”, explica Heloísa.

A fala dela vai ao encontro do que os professores vêm reparando há algum tempo: os alunos acreditam que determinadas obras não são destinadas a eles por não serem parte integrante de uma elite intelectual. “É então que eles percebem que a leitura está mais perto deles do que imaginavam”, conclui a coordenadora.