Intercambistas encontram dificuldade de integração na USP

O contato com os alunos brasileiros está entre os desafios de ser estrangeiro na universidade

Recepção dos intercambistas na CCint-FFLCH. (Foto: Carlos Roberto Xavier)

Entre janeiro de 2016 e abril deste ano, a USP recebeu 2174 alunos de universidades do exterior. De acordo com o Sistema Mundus, os intercambistas são, em sua maioria, europeus e latino-americanos. Segundo o professor Ricardo Alexino, coordenador do convênio entre ECA e a Universidade Tecnológica de Pereira, na Colômbia, os relatórios finais de alguns alunos destacam que o contato com estudantes brasileiros poderia ter sido maior.

“Os alunos de graduação podem acolher de forma mais sistemática os alunos estrangeiros” explica o professor. Alexino acredita que uma possível solução para a falta de interação entre intercambistas e brasileiros seja a promoção de atividades com maior troca cultural, como mostras de cinema e música. O professor  conta que integrar é um dos desafios da administração universitária.

Essa tarefa fica a cargo da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani) e pelas comissões de cada instituto. Sandra Lima, coordenadora da área de Relações Internacionais e Comunicação da Aucani, afirma que a agência desenvolve guias de apoio para os estrangeiros e  realiza uma recepção com todos os intercambistas da Universidade. Lima cita também o programa USP iFriends, no qual alunos brasileiros se voluntariam a ajudar os estrangeiros em sua estadia.

A chefe de serviço da Comissão de Cooperação Internacional da FFLCH-USP (CCInt-FFLCH), Vivian Castro, conta que o contato com estudantes estrangeiros é feito a partir de um guia entregue aos alunos e também de uma reunião no primeiro dia de aula, que consiste em apresentar o instituto e a Universidade, esclarecendo questões burocráticas. Após a apresentação formal, alunos de graduação da FFLCH apresentam o conjunto didático aos intercambistas e a visita termina com um almoço no bandejão central. Castro afirma que esse é o único momento em que a CCInt reúne todos os intercambistas e que após a sua saída da universidade não é feito um feedback com eles.

Thaise Desirree é uma das responsáveis pelo acompanhamento de estrangeiros na ECA-USP e conta que há uma reunião de recepção realizada pela Comissão de Relações Internacionais (CRInt-ECA). Há também um tour pelo campus Butantã e os intercambistas participam de uma aula introdutória sobre cultura brasileira. Desirree diz que, nos feedbacks dos alunos, a falta de integração com os brasileiros é um tópico constante, e considera que a universidade carece de investimentos nesse sentido. Desirree  aponta que, por iniciativa própria, convida semestralmente um grupo de intercambistas para um passeio pela cidade de São Paulo.

O JC conversou com alguns intercambistas sobre a experiência deles no Brasil. Os amigos Irene Domìnguez e Lenny Cirígo  são estudantes de comunicação, vindos da Espanha e do México, respectivamente. Ambos estão no segundo semestre de intercâmbio e contam que, por estarem no Brasil há quase um ano, puderam se aproximar mais de outros intercambistas e de alunos brasileiros. A respeito do ambiente em sala de aula, eles explicam que o clima varia muito em cada turma. Enquanto em algumas os alunos se mostraram muito prestativos, em outras, são mais reservados. Lenny ressalta que, em geral, os alunos são quietos durante as aulas, dificultando a interação nos trabalhos em grupo.

O estudante sul coreano Medium Seo está há quase um ano na USP, e contou que seu intercâmbio tem sido válido não apenas pelo estudo, mas também pela experiência como um todo. A estudante Valéria Cuevas é colombiana, e veio ao Brasil no início de 2016 para cursar disciplinas da FFLCH e da ECA. Para Valéria, sua experiência no país foi satisfatória, porém, pelo pouco tempo que permaneceu, não pôde se aprofundar nos conhecimentos do local e do idioma como gostaria.

Os alunos afirmam que a interação entre outros estrangeiros é maior do que com brasileiros, por conta das atividades desenvolvidas por cada departamento. Todos os entrevistados participaram do programa USP IFriends, porém, apenas Lenny e Medium tiveram um contato maior com os alunos que conheceram pela iniciativa.bm