Quais as diferenças entre preconceito e bullying?

Professor do Instituto de Psicologia distingue os dois fenômenos e mostra como encará-los

Professor José Leon Crochik debate sobre preconceito e bullying. (Foto: Carla Camila)

Como parte do programa Seminários de Ensino de Ciências, da Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências, o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP) promoveu, no dia 9 de maio, palestra sobre a violência escolar. Ministrada pelo professor José Leon Crochik, que coordena o Laboratório de Estudos sobre o Preconceito (LAEP) do Instituto de Psicologia da USP, a exposição discutiu as principais características e diferenças entre preconceito e bullying, assim como suas implicações.

O termo bullying serve para definir a prática, individual ou em grupo, de agressões físicas e psicológicas, durante um período de tempo, sobre vítimas consideradas mais fracas em uma relação de poder e que, portanto, não são capazes de reagir suficientemente para fazer cessar a agressão. Dados de uma pesquisa empírica coordenada por Crochik entre os anos de 2011 e 2014 em oito escolas de São Paulo demonstram que, diferentemente do que ocorre com o preconceito, as razões que levam os indivíduos a praticarem o bullying não tem relação com medos e inseguranças pessoais projetadas no alvo, mas sim com uma necessidade narcisista de se destacar, dominando e destruindo o outro.

Crochik aponta também que o preconceito tende a produzir justificativas mais demarcadas para sua existência, então, alguém que persegue os judeus, por exemplo, argumentaria que o faz por se tratarem de parasitas, mentirosos, etc. O bullying, por outro lado, não tem um alvo específico, “torna-se vítima quem estiver à disposição para poder ser destruído, para poder ter sua vontade dominada pelo agressor. A ideia é poder humilhar e destruir”, afirma o pesquisador. Essa diferença é importante porque ajuda a explicar o motivo pelo qual o bullying é mais difícil de combater do que o preconceito.

A priori, o preconceituoso é alguém que, de certa forma, idealiza o objeto do seu ódio se apropriando de estereótipos culturais e que, portanto, evita qualquer contato com ele para que essa idealização não seja confrontada com a realidade. Nesta medida, pode-se afirmar que “a experiência é o antídoto do preconceito”. Por outro lado, a natureza menos racional do bullying sequer permite que esse tipo de confronto seja usado na solução do problema.

Cyberbullying

O cyberbullying pode ser praticado uma única vez, mas, por poder ser divulgado para uma multidão de pessoas por infinitas vezes, tem uma intensidade momentânea muito maior. Esse aspecto colabora para torná-lo, em muitos casos, mais danoso, uma vez que escapa aos ambientes específicos de convivência da vítima, tornando-se algo mais constante e amplo. Para José Leon Crochik, “a vítima se sente humilhada frente a um universo de pessoas conhecidas e desconhecidas”.

Como enfrentar o bullying

Crochik lembra que vivemos em uma sociedade que estimula a competição e que, portanto, instiga a divisão entre fracos e fortes, o que gera tensão. “A vontade de destruição surge para poder eliminar essa tensão”. Para ele, um passo importante rumo ao combate do problema é sua discussão no âmbito escolar. “A ideia é a de poder pensar o ridículo da competição. Se vivemos juntos, é ótimo que o outro também tenha habilidades, porque precisamos dele. Quando não quisermos dominar ou vencer quem quer que seja, poderemos viver em paz e tranquilos”, afirma.

Em curto prazo, é importante que o alvo do bullying encontre meios de reagir para que as agressões parem. Conversar sobre o que acontece com seus pais, professores ou orientadores pode ajudar.

Apesar de não ter um programa específico voltado para o atendimento de vítimas de bullying, o IPUSP oferece atendimento psicológico, psicoterapia e outros serviços em sua clínica-escola. Os interessados podem entrar em contato por telefone para pedir informações adicionais.

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