Torneios sofrem com suporte médico precário

 

(Foto: Álvaro Logullo Neto)

Álvaro Logullo Neto com Mateus Feitosa

O esporte universitário convive diariamente com altos índices de lesão de seus atletas. Seja pela falta de preparo físico, acompanhamento profissional ou pelo calendário desgastante, esse é um problema que aflige a grande maioria das equipes uspianas. Entretanto, os torneios não estão preparados para lidar com esse alto número de lesionados. O motivo: a falta de recursos para atender as necessidades físicas dos atletas.

Gabriela Nogueira, Presidente da ECAtlética, conta: “Não existe atendimento nos campeonatos semestrais como NDU ou Copa USP. Quando algo acontece, o técnico é a pessoa que vai ver como você está e como proceder”. Praticante de handebol, esporte de muito contato físico, a atleta ressalta que os treinadores não possuem formação médica e que agem de acordo com a experiência.

A ausência de profissionais capacitados durante os jogos acaba por gerar situações desagradáveis para os atletas. É o caso de Clarissa Rivas Brito, jogadora de basquete, também da ECA, que em jogo válido pela NDU, em 2015, sofreu uma ruptura de ligamento e teve de esperar por socorro. “Quando me lesionei, fiquei por trinta minutos chorando, no chão. Não tinha ambulância no lugar”, conta.

Ao chegar no hospital, mais demora: “Esperei horas e apenas um Raio-X foi feito, mas eu tinha certeza que não era fratura, e sim, ligamento, pois já havia sofrido com esse tipo de lesão”. A partida ocorreu em São Bernardo e Clarissa precisou aguardar por carona para voltar à São Paulo. Assim como a ida ao hospital, seu retorno também não foi providenciado pela organização do campeonato.

Gabriela cobra união na tentativa de melhorar esse cenário: “As atléticas devem começar a exigir dos campeonatos semestrais que tenham profissionais nas quadras para tratar de lesões”. Torneios maiores, como os inters, dispõem de fisioterapeutas, no entanto, segundo a presidente, isso ainda é ineficiente, “porque é uma equipe só de médicos para pelo menos três praças esportivas”. A Diretoria Executiva da Laausp, entidade que organiza o campeonato, afirma que a presença de fisioterapeutas nas quadras é algo inviável do ponto de vista financeiro, atualmente. “Para que haja algo desse tipo é necessário algum tipo de parceria, como houve com a revista BEAT, no próprio Bichusp este ano”.

Mas prevenir é melhor do que remediar. Clarissa entende que lesões graves no esporte universitário também são resultado da falta de preparo. “Há um desgaste muito grande, temos muitos campeonatos e não respeitamos nosso corpo, porque vamos em festas, não descansamos direito”. Somado a isso, em sua opinião, também está o fato do Brasil não possuir uma estrutura de treinamento satisfatória para realizar um suporte físico aos atletas. Gabriela também possui a mesma visão: “Entender as necessidades físicas dos atletas, com conscientização, ajudaria a melhorar o quadro de lesões”.

Mistura perigosa

A necessidade de fortalecimento muscular para o desempenho de atividades físicas é tema comum entre esportistas. Contudo, a rotina universitária, por vezes, impede que os atletas tomem os devidos cuidados antes de praticar esportes em alto rendimento. Próximo às competições é comum que eles aumentem o ritmo dos treinos, algo muito perigoso para seus corpos. “As lesões são muito comuns, mais do que deveriam”, conta Gabriela Nogueira. “No semestre passado, de 14  jogadoras do meu time, 7 tinham algum tipo  de lesão”.

Nos inters, esse fato é agravado devido a um elemento muito apreciado pelos universitários: o álcool. A mistura entre álcool e exercícios provoca uma desidratação dos músculos, que pode acarretar em lesões e rupturas musculares. Outros fatores alterados são a coordenação motora, equilíbrio, tempo de reação e precisão. Mas não é só nos inters que esse fato é determinante, como relata Gabriela: “Durante os semestres a galera acaba bebendo e indo jogar virado também. Isso debilita o atleta que acaba se esforçando mais do que pode para manter a performance”.

Clarissa também conta que sua lesão foi resultado de falta de preparo e descanso adequado na véspera do jogo. “Foi uma sobrecarga. Estava muito cansada, tinha ido para a balada no dia anterior”, conta. “No último quarto, meu corpo não aguentou, senti meu joelho saindo do lugar”.