A Praga do Panfletismo

O Jornal do Campus pode ser de esquerda, pode elogiar protestos de rua contra o presidente Michel Temer, pode criticar a polícia, bater na reforma da Previdência, pichar a reforma trabalhista, opor-se à reitoria ligada ao governador tucano Geraldo Alckmin e debitar da conta da Globo os males da comunicação golpista no Brasil. Só não pode defender essas posições de maneira panfletária, propagandística, desapegada dos fatos, desassociada dos dados, sem acolher o contraditório, editorializando seu conteúdo informativo e colocando o compromisso com uma linha política de uma certa esquerda – ou direita, ou centro, do que queira, enfim, não importa – por sobre o compromisso com a apuração correta dos acontecimentos.

Melhor dizendo: o jornal até pode fazer tudo isso, mas não como um laboratório de uma faculdade de jornalismo. Libelos fundamentalistas funcionam melhor na área religiosa. O jornalismo é atividade de outra índole, na qual o culto à dúvida impera sobre tudo o mais. Repórteres não sabem, querem saber; perguntam, questionam, comparam, apuram, voltam às mesmas fontes para confrontar verdades, escarafuncham, confrontam, não fazem do próprio jornal uma coleção de títulos interrogativos ou que insinuam obscuridades que as próprias matérias não desvendam.

A geração que cresce influenciada por youtubers, brand content, fake news e toda uma enxurrada de subterfúgios que contrabandeiam para o jornalismo atributos cheios de colorantes, próprios do mundo publicitário, não pode gestar numa das principais faculdades de comunicação do país uma publicação laboratorial que reproduz pecados de veículos sectários com os quais deveria justamente contrastar.

A apuração jornalística tem sido raquítica no Jornal do Campus. A explicação definha. A escolha dos especialistas é preguiçosa – professores do próprio Campus, sempre com opiniões parecidas, dão a impressão de que a USP é uma vasta plantação de soja opinativa na qual cada semente tem a única pretensão futura de se converter num caule que penda para a esquerda quando cresça. Não há absolutamente qualquer problema nisso para os próprios especialistas. O problema começa existir quando a reportagem se contenta com isso, não vai além, não confronta, não contrasta, deixa, afinal, o leitor com um jornal plano nas mãos, previsível e dogmático.

O Brasil já está muito bem servido de panfletos. Não faz falta mais um que dispute espaço nessa seara. Recentemente, até os mais tradicionais jornalões perderam a vergonha de editorializar seus conteúdos em defesa de uma agenda política marcadamente esquerdofóbica. Vão os estudantes que produzem o Jornal do Campus fazer mais disso aí? Ou farão do laboratório um espaço para criar algo novo?