Mostra no MAC exibe obras de Samson Flexor



Expostas em paredes espaçosas, telas grandes e impactantes destacam-se no labirinto da exposição. Entre os caminhos da mostra e os encontros de pinturas amplas, os visitantes deparam-se com desenhos menores, feitos em folhas de caderno. Montada de um modo que arranque o observador do conforto visual, a exposição “Samson Flexor -Traçados e Abstrações” caracteriza perfeitamente a expressividade da arte abstrata.

Exibida no sexto andar do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), a mostra conta com 35 trabalhos do artista Samson Flexor (1907-1971), focando em sua trajetória entre os anos de 1948 e 1960. Nascido na antiga Bessarábia, depois de estudar na Bélgica e Paris, o artista instalou-se no Brasil em 1948. Com obras influenciadas pela figuração cubista e apreço à abstração geométrica, Flexor transmite experiência e riqueza artística através de seus trabalhos.

A exposição tem curadoria da professora associada do MAC, Carmen S. G. Aranha. De acordo com Carmen, a seleção das obras expostas foi feita com intuito de apresentar aspectos da trajetória do artista, permitindo que os visitantes visualizem as características e transformações plásticas dos trabalhos de Flexor durante um determinado período.

Com formas geométricas e simétricas, feitas em tinta a óleo, as telas causam uma certa veemência a quem as observa à primeira vista. A intensidade das cores e formas dão um teor melancólico às obras. A pintura “Cristo na Cruz”, de 1949, caracteriza a primeira fase do artista no Brasil, na qual destaca-se a predominância de traços neo-cubistas, com sobreposições de planos e formas com função figurativa.

A tela “Coroa de Espinhos”, de 1950, também prende a atenção dos visitantes. Exibida logo no início da mostra, as cores vibrantes e a expressão soturna formada através de traços geométricos trazem um sentimento de inquietação e tristeza. Nela, também é possível observar a estrutura complexa e a meticulosidade que compõem os trabalhos do artista.

Considerado um dos precursores da arte abstrata no Brasil, a exposição apresenta a notória mudança plástica das obras de Flexor. O artista mostra sua tendência a uma abstração lírica de formas orgânicas e entrega-se à liberdade das pinceladas por meio da tela “Pintura”, de 1960. A expressão gestual dos traços e o contraste entre cores escuras e claras, os tons de cinza, preto e azul trazem harmonia à tela.

A pintura “O Carrasco” (1968), feita em seus últimos anos de vida, revela uma aproximação a simbologias e arqueologias da forma humana. É possível notar as grandes manchas esmagadas em tons escuros transformando-se em aspectos figurativos. Apesar de ser uma representação do trágico, a obra transmite uma leveza e um certo alívio visual com a mesclagem de transparências e limites abertos.

Além das telas grandes a óleo, também estão expostos desenhos de Flexor. Feitos com nanquim e grafite sobre folhas de cadernos, as representações mostram um recorte da intimidade e trabalhos realizados no ateliê do artista. Os desenhos retratam a materialização e construção dos pensamentos e projetos artísticos de Flexor, sendo o ponto inicial das produções.  É possível observar a presença de cálculos e a cautela exercida pelo artista durante a composição dos trabalhos.

Por fim, tanto a maneira na qual as obras foram organizadas, quanto as criações, por si só, fazem da exposição uma oportunidade única para o conhecimento da produção de um dos maiores nomes do abstracionismo. Apesar de não exibir obras da carreira completa de Flexor, a mostra é capaz de revelar técnicas acuradas e trabalhosas do artista, além de levar o visitante à uma imersão na história da arte.

Serviço – A mostra “Samson Flexor – Traçados e Abstrações” fica exposta até o dia 1º de outubro de 2017, no Museu de Arte Contemporânea da USP, localizado na Av. Pedro Álvares Cabral, 1301, São Paulo, em frente ao Parque do Ibirapuera. O horário de funcionamento é de terça-feira a domingo, das 10 h às 18 h.