Não vacinar crianças provoca riscos à saúde pública

A campanha de vacinação contra a gripe, promovida anualmente pelo Ministério da Saúde, foi prorrogada até 9 de junho devido à baixa procura. Apesar de diversos estudos sobre seus efeitos colaterais mostrarem que elas não representam um risco para a sociedade, algumas pessoas ainda encaram as vacinas com desconfiança.

É o caso de um grupo que se diz contrário a esse tipo de prevenção e que, por diversos motivos, chega a não vacinar os filhos de acordo com o recomendado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Tendo isso em vista, Carolina Luisa Alves Barberi, médica pediatra formada pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), desenvolveu uma tese de doutorado em que conversou com pais que optaram pela não vacinação.

Barbieri conta que todos os entrevistados tinham no mínimo ensino superior completo e se diziam bem informados sobre o assunto. “Isso mostra que, nesses grupos, a vacina encontra dificuldades com relação à aceitabilidade e não com relação à acessibilidade”, afirma.

O JC conversou com uma mãe, cuja identidade foi preservada a seu pedido, que não vacinou nenhuma vez as filhas de sete e um anos. Atualmente elas moram na Itália, e a decisão foi feita em conjunto com o marido durante a primeira gravidez. O relato dessa mãe se assemelha muito com as histórias ouvidas por Barbieri. “Esses pais foram vacinados e inicialmente não tinham nada contra a vacina. Mas quando ficaram grávidos e buscaram um parto humanizado e natural, passaram a procurar informações para a questão”, afirma a pediatra.

Barbieri lista os principais motivos que fazem essas pessoas terem receio das vacinas. “Os casais alegam que a doença já está eliminada no país, que ela é muito leve ou conseguem dar conta de curar sozinhos, porque os efeitos colaterais são adversos e também dizem que o calendário de vacinação brasileiro é muito extenso”. É o que diz a mãe que vive na Itália: “o Estado não tem interesse em proteger a saúde dos indivíduos, somente realizar uma vacinação de massa indiscriminada”.

Segundo Barbieri, o argumento de que o calendário de vacinação brasileiro seja exagerado não é válido. “O Brasil conquistou um calendário amplo e efetivo. Para saúde pública e grande parte da população, o fato de ser extenso é uma coisa positiva”.

A médica ainda ressalta que, apesar da escolha por não vacinar acontecer no âmbito individual, o impacto da atitude deve ser pensado em uma esfera maior. “A vacina possui uma função coletiva”, afirma. “Esses casais geralmente têm uma boa condição financeira. Se o filho adoece, podem prestar assistência à criança. Mas quando os doentes têm contato com pessoas de nível socioeconômico diferente, podem passar as falhas vacinais adiante. Assim, grupos mais vulneráveis podem ser prejudicados”.

Informações suspeitas Grupos em redes sociais são as principais fontes de informações para quem é contra as vacinas, o que pode ser um risco. “As notícias podem ser verdadeiras ou não. Além disso, eles podem não compreender bem as informações por se tratar de uma área técnica”, afirma Barbieri.

A mãe que preferiu não ser identificada conta que se instrui em fontes oficiais da Itália. Porém, a pesquisadora defende que é preciso entender que países europeus possuem uma realidade muito diferente da nossa. “As informações de calendários de países que possuem condições demográficas e de saúde com taxas muito melhores que as nossas não servem como termo de comparação. Aqui o risco de circulação de alguns agentes é maior, pois temos outra situação epidemiológica”, acrescenta.