Alunos da USP trazem debate sobre saúde mental

No dia 23 de junho, sexta-feira, o teatro da Faculdade de Medicina da USP recebeu o evento “Rede de Apoio: Potencialidades e Limitações”, organizado pela Frente Universitária da Saúde Mental. A palestra, que tinha como objetivo discutir a importância da rede de apoio dentro da influência da saúde mental nas pessoas, foi a última realizada na “Semana da Saúde Mental”, e contou com os especialistas José Alberto, Jéssica Santa Rosa, Paulo Bueno e Cláudia Garcia da Silva.

A “Semana da Saúde Mental” foi uma série de discussões que ocorreram, do dia 18 ao 23, na FMUSP, FCMSCSP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo), FASM (Faculdade Santa Marcelina), Escola Politécnica, IFSP (Instituto Federal de São Paulo) e Fofito (Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional). Organizada pelos próprios alunos, ela teve o intuito de manter o debate sobre saúde mental vivo e propor ações conjuntas para melhorar a qualidade de vida dos estudantes sob este aspecto.

Segundo a psicóloga Cláudia Garcia da Silva, o evento cumpre o objetivo de falar de pessoas que “não se reconhecem como capazes de ter a própria voz”, além de, no contexto da USP, ser importante por tratar um sofrimento de uma grande massa. “É um sopro de vida na Universidade”, afirma. Cláudia também chama a atenção para a necessidade de medidas públicas no setor e para a crescente dos pacientes de saúde mental, completando que o “tecnicismo da faculdade” reforça esse crescimento ao tirar o pensamento humano dos alunos.

José Alberto, psicólogo e professor, e Jéssica Santa Rosa, terapeuta ocupacional, reforçam a necessidade da discussão sobre saúde mental e apontam a lógica contemporânea do imediatismo e do apressamento, muito presente no contexto universitário, como um dos grandes responsáveis pelo adoecimento psíquico. Para José, o individualismo que essa lógica traz dificulta a criação de redes de apoio, já que o indivíduo não enxerga o outro com uma visão diferente da sua particular. Jéssica afirma que “é preciso se desprender da realidade individual para ajudar aquele que está na sua frente”, sem abdicar da própria saúde: “Não podemos nos esquecer dos nossos limites, mas precisamos fazer o possível para ajudar”.

Também psicólogo, Paulo Bueno trabalha com saúde mental no Sistema Único de Saúde e trouxe vários exemplos durante o debate, tanto de sua vida pessoal quanto de sua experiência na rede pública de saúde brasileira, de casos delicados e surpreendentes para justificar o fato de que “não somos nós que escolhemos quando faremos parte de uma rede de apoio”. Focado no estudo do suicídio, Paulo explica como a questão não pode ser só tratada como um problema de saúde pública, mas também sociológico e psicológico, além de fugir de regras legislativas ou normativas presentes na nossa sociedade. “O ato suicida não é passível de qualquer punição ou julgamento, e precisa ser visto como um pedido de ajuda, afinal, pode ser interpretado como a confissão de um fracasso”.

Abordagem do suicídio

Foi tratado no debate o modo como a mídia trata o suicídio, uma vez que o tema é sempre extremamente delicado e evitado pela imprensa. Para os especialistas presentes, a conclusão foi de que promover debates sobre saúde mental, como este da FMUSP, é a melhor maneira de abordar o assunto, além de sempre seguir a risca as sugestões presentes no documento “Prevenção do suicídio: um manual para profissionais de mídia”, feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS).