Cepeusp muda seus horários por conta da instalação de pontos

Medida controversa entre os praticantes visa atender às leis trabalhistas

Por Natan Novelli Tu e João Victor Escovar

A partir deste mês de agosto, o Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp) poderá ser
utilizado, para treinos das equipes, até às 21h, restrição de meia hora se comparado com o
limite anterior, 21h30, e de duas horas se incluído o horário estendido, acordado entre
entidades atléticas e funcionários, que garantia o espaço até às 23h. Com a implantação de
pontos eletrônicos na universidade, essas mudanças visam adequar os horários de trabalho do
Centro à legislação oficial, que exige o pagamento de horas extras caso a carga seja
ultrapassada..
Os pontos foram colocados em diversas unidades durante o mês de julho, gerando polêmica
dentro da comunidade universitária, pelo aumento do controle oficial e pela exigência de
versatilidade que uma faculdade possui. No caso do Cepeusp, a rigidez imposta pelos pontos
impede que sejam feitas adaptações para atender aos praticantes.
“O horário oficial do Cepeusp não mudou, pois ele sempre funcionou das 7h às 22h”, declara
um dos coordenadores do Centro, professor José Carlos Farah. “Contudo, existia uma
extensão para que as atléticas treinassem. Com o ponto eletrônico, se algum funcionário
permanecer depois das 22h, somos obrigados a pagar horas extras, o que impede que
voltemos com o horário estendido. Além disso, agora as reservas para treinos irão até às 21h,
já que, depois da atividade, os atletas demoram um tempo para tomar banho e sair, e
precisamos fechar tudo até o limite estabelecido”.
Farah conta que até para os professores foi exigida uma adaptação dos períodos de trabalho.
“Lecionamos em horários alternados, atendendo tanto a comunidade universitária como a
externa, mas agora precisamos de uma autorização especial para isso”, explica. “Os plantões
também mudaram, não podemos mais entrar em horários com frações menores que meia hora
(6h, 6h30, 7h). Todos os ajustes são adaptações às regras do Ministério do Trabalho”.
Os atletas

A restrição anterior do horário estendido já dificultava a prática constante por parte de
algumas equipes, considerando, principalmente, os alunos que estudavam à noite ou
trabalhavam. Conforme o diretor de modalidade do futsal masculino da Escola de
Comunicações e Artes (ECA), Alex Amaral, a situação força sua equipe a treinar em locais e
horários pouco acessíveis.
“Atualmente, temos treinado duas vezes na semana: uma às 7h, o que é muito cedo para
quem mora longe, e outra às 23h, fora da USP, pois é o único período em que os colegas que

estudam no período da noite podem comparecer”, lamenta. “Quem deseja se manter no
esporte universitário tem que se esforçar ao dobro, mas esse esforço custa o desempenho
esportivo e acadêmico, além do próprio sono”.
Amaral ainda comenta que o horário estendido terminou após um problema elétrico no
Cepeusp, há cerca de um ano, que impedia a prática esportiva à noite. Quando tudo se
resolveu, entretanto, ele não foi restabelecido, limitando o funcionamento ao horário oficial.
Em boa parte das unidades da USP, o término das aulas no período noturno é às 22h50.
“Não acredito que o Cepeusp tenha a obrigação de estar disponível, sem restrições, para os
estudantes. O grande problema é a quebra de um acordo anterior, sem nenhum tipo de
conversa para achar uma solução”, critica. “A Liga (Laausp – Liga Atlética Acadêmica da
USP) também poderia ser mais atuante na defesa de todas as atléticas, pois entendo que ela
acaba sendo um pouco passiva e aceitando todas as medidas do Centro”.

Liga e o horário estendido

O horário estendido era um acordo entre a Laausp, que representa as atléticas de cada unidade
da instituição, e alguns funcionários do centro esportivo, que eram pagos para ficar
trabalhando até um pouco mais tarde.
“Tínhamos um acerto informal, que possibilitava que as seleções universitárias praticassem,
mas, com o ponto eletrônico, não podemos retomá-lo”, explica a vice-presidente da Liga,
Nathália Fukase. “Agora, o centro continua fechando às 22h, mas com limitação para treinos
até uma hora antes”.
Questionada sobre a possível passividade da Liga, Nathália responde que, muitas vezes, é
mais importante manter um relacionamento saudável com a universidade do que “bater na
mesa”. “Tentamos, ao máximo, atender as demandas das atléticas, mas nem sempre isso é
viável, já que temos diversos empecilhos burocráticos e financeiros”, defende. “Uma postura
agressiva pode prejudicar benefícios em longo prazo”.
A representante ainda declara que a Liga entende a postura do Cepeusp, em reduzir os
horários de funcionamento, pois situações de trabalho irregular podem gerar consequências
negativas, tanto para os trabalhadores, como para a USP e para o esporte universitário. “É
evidente que atrapalha as equipes e os treinos, mas sabemos que não foi uma medida
descabida”, completa.