Congrefut aproxima estudantes do mercado esportivo

Evento realizado na FEA propõe nova visão sobre economia no futebol e possibilidades de trabalho no setor

Por João Victor Escovar

A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) recebeu, na semana de
abertura de mais um semestre letivo da universidade, o 1º Congresso de Gestão do Futebol na
USP (Congrefut), evento que reuniu diversos especialistas do mundo esportivo, cada um na
sua respectiva área, procurando repensar o modo como se conduz o futebol no Brasil, tanto
no seu aspecto passional como mercadológico.
O congresso foi organizado pela FEA Sports Business, empresa júnior dos estudantes da
faculdade, e contou com diversas palestras, debates e mesas de discussão, envolvendo temas
como direito esportivo, formação de atletas, marca dos clubes, gestão financeira, elitização do
esporte, jornalismo, televisão e mulheres. O objetivo, além de propor uma nova visão sobre o
universo futebolístico, foi integrar os profissionais do mundo esportivo à comunidade
acadêmica.
“Além de incentivar a expansão do olhar além dos gramados, nosso desejo foi o de criar um
espaço de debate esportivo, integrando os ambientes acadêmico e profissional”, explica o
presidente da FEA Sports Business, José Adaílton Jr. “Muitas vezes os estudantes não
possuem ideias claras sobre qual ramo da profissão seguir, e o Congrefut é uma oportunidade
para mostrar que é possível trabalhar com o esporte nas mais diversas carreiras, como a
economia, o direito ou o jornalismo”.
Em virtude da grande participação do público universitário, o auditório inicial, com
capacidade para 130 pessoas, teve de ser trocado para outro com o dobro da capacidade,
principalmente devido à presença do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello,
um dos responsáveis pela reestruturação financeira do clube carioca, considerado hoje uma
das equipes brasileiras de maior força econômica.
Além do dirigente rubro-negro, outras personalidades importantes do mundo futebolístico
estiveram presentes, cada qual discutindo o esporte na sua área. Entre eles, estiveram os
jornalistas Paulo Calçade e Mauro Cézar, do canal ESPN, Maurício Noriega, do Sportv, e
Rodrigo Capelo, da revista Época, que debateram o papel da imprensa na profissionalização
do esporte e sua constante monetização.
“Os clubes se tornaram marcas, mas ainda não entenderam como aproveitar isso e crescer
cada vez mais, tanto estrutural como financeiramente”, argumenta Capelo. “Além disso, se
comunicam muito mal, principalmente com a imprensa, agindo apenas de maneira reativa às
críticas”.

O evento também deu espaço aos que buscam superar desafios no mundo do esporte, como o
CEO da Universidade do Futebol, Eduardo Tega, que desenvolve um projeto de formação
humanizada nas categorias de base; o diretor de direitos de transmissão do canal Esporte
Interativo, Felipe Aquilino, que vem concorrendo com a Rede Globo para a exibição do
Campeonato Brasileiro; e a representante da Federação Paulista de Futebol, Aline Pellegrino,
que trabalha na consolidação do futebol feminino no cenário nacional.
“A meta do futebol feminino não é chegar ao mesmo lugar onde hoje está o futebol
masculino”, conta Aline. “Pelo contrário, desejamos seguir nossos próprios passos, de
maneira estratégica, evitando sermos comparadas e consolidando um modo diferente de
praticar o futebol, assim como já acontece com outros esportes, entre eles o vôlei”.
Em um dos momentos mais acalorados das discussões, o jornalista Mauro Cézar e o
pesquisador – e também jornalista – Fernando Fleury debateram a respeito da elitização do
futebol, que diminui a participação da população mais pobre nos estádios, em virtude do alto
preço dos ingressos e das exigências indiretas, como os planos de sócio-torcedor. Esse
fenômeno é muito visível, por exemplo, na cidade de São Paulo, depois que Palmeiras e
Corinthians construíram modernas arenas e cobram caro aos frequentadores.
Mauro argumentou que o futebol não é um mero negócio e que a paixão do torcedor, que vem
essencialmente do povo, deve ser respeitada, enquanto Fleury rebateu, dizendo que o futebol
é um espetáculo como qualquer outro e que, para quem deseja consumi-lo confortavelmente e
em alto nível, não há alternativas senão arcar com os custos dessa demanda.
“Acredito que o Congrefut não só alcançou como superou todos os objetivos que foram
traçados, contando com um grande público e provocando debates interessantes”, ressalta
Adaílton. “Espero que aconteçam mais edições”.