Peça leva a pensar memória e futuro

Relacionado a mestrado da ECA, ‘A Próxima História’ questiona o mundo que queremos ter

Por Victória Martins

Para os carros que passam zunindo e os pedestres que descem esbaforidos em direção ao metrô, é mais uma noite de sexta-feira no Espaço Verte, consultório situado em uma rua residencial da Vila Madalena. Atrás das portas fechadas, porém, algumas pessoas aguardam pelo início de um espetáculo teatral: é no ambiente pouco convencional que acontece a segunda apresentação do itinerante A Próxima História.

Já passa das 20h30 quando Renata Vendramin surge na sala de espera, já caracterizada. Além de atriz, ela é também a idealizadora do espetáculo e autora da dissertação de mestrado Teia Dramatúrgica: trajetos sinuosos de uma atriz em fluxo e ritmo criativos, defendida na Escola de Comunicações e Artes. Nela, Renata narra formalmente o “processo de cocriação da peça, com todos os conceitos, sensações, experiências e pensamentos com os quais lidamos na criação”;

Antes mesmo de a encenação começar, já há muita intimidade no segundo andar: o público senta-se em círculo, em uma sala iluminada por duas lanternas, onde é embalado pelo violão de Alencar Martins. Começa o espetáculo e a proximidade entre artistas e público cria uma atmosfera poética, que suspende a razão e tenta produzir respostas teatrais para a pergunta-guia do texto: “se esse mundo estivesse grávido, como você imagina que seria o mundo que vai nascer?”

“Nós queríamos vasculhar o que nos constitui, de quantas histórias é feita a nossa história, de quantos silêncios e padrões,” comenta Renata. “Na peça a gente dá respostas que mexem com o nosso imaginário, com a nossa maneira de pensar, de sentir,” completa. Assim, ela se faz contadora de histórias, produzindo narrativas ficcionais e compartilhando momentos factuais: contos sobre uma anciã que controla o tempo e uma menina que veio da lua se misturam a colocações sobre sua infância, das chupetas dos primeiros anos às aulas de física no colégio.

Nesse processo, fundem-se corpo, voz e som – o diálogo ocorre em meio à dança, canto e música, que se mesclam sem padrão, em um vai e vem pelo tempo e espaço. Nos movimentos de Renata, na narrativa, nas reações do público, na iluminação e na sonoplastia, escorrem choque, imaginação, memória e saudade. Ao pensarem suas origens e de outros, os presentes podem olhar para o futuro e reinventar a própria realidade.

Ao fim, quando as luzes se acendem, as sensações suscitadas pelo espetáculo em cada um são discutidas. Com uma conversa sincera entre artistas e público, em uma troca com o lugar e o próximo, permanece a reflexão e o autoconhecimento. “O mais gratificante é o encontro com o outro, olhando nos olhos”, pontua Renata. “É nesse espaço em que nós poderemos de fato gestar o mundo que a gente quer ter”.

Temporada:

25 de agosto, sexta-feira, 20h – Mandala Núcleo de Artes (Rua da Glória, 597, Liberdade)

Entrada: Inteira: R$ 44/ Meia: R$ 22

03 de setembro, domingo, 19h – Centro Cultural Ulabiná (Avenida São Camilo, 288, Granja Viana – Cotia)

Entrada: Inteira: R$ 44/ Meia: R$ 22

15 de setembro, sexta, 20h30 – Espaço Núcleo (Rua Belas Artes, 135, Ipiranga)

Entrada: Contribuição espontânea (pague o quanto acha que vale)

22 de setembro, sexta, 21h – Casa da Cléia e do Líbero (Rua Barão de Itaúna, 49, Lapa)

Entrada: Inteira: R$ 40/ Meia: R$ 20

24 de setembro, domingo, 20h – Paço do Baobá (Rua Michael Kalinin, 64, Previdência/Butantã)

Entrada: Inteira: R$ 40/ Meia: R$ 20