Mulheres são minoria em categorias elevadas do CNPq

Situações diárias de machismo e financiamento insuficiente são alguns dos obstáculos enfrentados

Por Gustavo Drullis

De acordo com levantamento publicado pelo site Gênero & Número no dia 12 de setembro, somente 27 dos 112 (24,1%) pesquisadores seniores do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) são mulheres. Pertencem a essa categoria aqueles que se destacam como líder e paradigma em sua área de atuação e permanecem por pelo menos 15 anos nos níveis 1A ou 1B de produtividade em pesquisa, os mais altos.

(Arte: Fredy Alexandrakis)

“O problema do baixo percentual de mulheres à medida que tu sobes na carreira é um fenômeno mundial, não é uma prerrogativa nossa”, esclarece Marcia Barbosa, integrante da diretoria da Academia Brasileira de Ciências e professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Trata-se do chamado “teto de vidro”, termo que descreve as barreiras que dificultam a ascensão de mulheres durante a carreira, seja no mundo corporativo ou científico.

Na USP, 46,4% dos estudantes de graduação e 51,1% de pós-graduação são mulheres. Apesar disso, elas representam 15,4% dos professores-titulares e 23,7% dos cargos de chefia na estrutura da universidade. As informações são do relatório, de setembro de 2016, da campanha HeForShe, parte do programa ONU (Organização das Nações Unidas) Mulheres, do qual a USP faz parte.

(Arte: Fredy Alexandrakis)

As jornadas dupla e tripla – de aulas, pesquisa e trabalho em casa – são apontadas como os principais obstáculos enfrentados pelas mulheres no ambiente acadêmico, mas não são os únicos. Barbosa, engajada com a questão de gênero na ciência, fala em “mordidas de mosquito”. São situações diárias, segundo a pesquisadora, em que as mulheres são vítimas de machismo. “Parece uma coisa pequena, mas se todo dia você receber 200 ‘mordidas de mosquito’, você não vai querer entrar mais nesse lugar.”

O Brasil, junto a Portugal, é um dos países em que há maior equidade entre o número de trabalhos científicos feitos primariamente por homens e mulheres, segundo o relatório Gender in The Global Research Landscape, da Elsevier. Cerca de metade (49%) dos artigos brasileiros são de mulheres. Esse cenário, no entanto, muda de acordo com as diferentes áreas da ciência. Entre 2011 e 2015, um quarto (25%) dos artigos em Engenharia tinham como primeiro autor uma mulher. Já em Saúde, 79% das publicações eram assinadas por mulheres. “A nossa sociedade está delegando ações que têm a ver com cuidado, ser simpática e articulada para as mulheres, e ser inteligente para os homens”, explica Barbosa.

 

Outros dados do levantamento apontam que as mulheres também são menos financiadas do que os homens pelo CNPq. Em 2016, foram concedidos R$ 198,7 milhões, em bolsa de produtividade em pesquisa, aos homens. Às mulheres, R$ 103,5 milhões, 34,2% do total destinado a essa modalidade. Ainda assim, o número e valor de bolsas, considerando todas a modalidades do CNPq, é praticamente o mesmo para homens e mulheres. Os dados são do Painel de Investimentos do CNPq.

Para a professora, é necessário que esses problemas de desigualdade de gênero e machismo no ambiente acadêmico sejam expostos, para, então, buscar-se maneiras de serem resolvidos. “Nós precisamos dar luz [aos problemas] através dos dados, mostrar que existem. Depois, ir nas instituições, identificá-los e eliminá-los. Quando nós tivermos mais diversidade, teremos uma ciência melhor”.